Os primeiros habitantes de mundos distantes vão precisar de
combustível, alimento e abrigo para sobreviver, mas o envio de material
da Terra ficaria muito caro. Cada grama de material a mais em uma nave
espacial representa um consumo adicional de combustível, o que encarece a
missão.
A opção lógica seria conseguir todo o material que precisa a partir
de recursos locais. Mas em um planeta como Marte não há alimentos nem
combustível, e para conseguir algum material de construção seria
difícil; lá só tem areia.
Entram em cena os micróbios geneticamente modificados – bactérias e
algas que são alterados geneticamente para produzir alguma substância
que nos interessa, ou degradar alguma que não nos interessa, geralmente.
Podemos, por exemplo, utilizar bactérias para produzir açúcar. Embora
o ambiente de Marte, rico em dióxido de carbono e nitrogênio, seja
fatal para a grande maioria dos micróbios, uma antiga cianobactéria
chamada Anabaena consegue sobreviver nestes ambientes,
produzindo açúcares a partir desses gases. Só que ela produz pouco
açúcar: basicamente “para consumo próprio”.
Mas, com um pouquinho de engenharia genética, ela poderia produzir
mais do que vai consumir, e esse excesso poderia alimentar uma colônia
de outras bactérias. Esta outra colônia poderia produzir qualquer coisa a
partir do açúcar, como óleo, plástico ou combustível para os
astronautas.
Essa ideia já é interessante por si só, mas tem mais: cientistas
também descobriram que tijolo e cimento podem ser obtidos a partir da
urina dos astronautas, novamente com uma ajudinha das bactérias.
A Sporosarcina pasteurii
é uma bactéria que degrada a ureia, principal componente da urina, e
excreta amônia.
O excesso de amônia torna o ambiente alcalino o
suficiente para se formar cimento a partir de carbonato de cálcio, que
pode ser usado para criar tijolos e argamassa.
Biologia sintética
A biologia sintética, que é um cruzamento de engenharia com biologia,
está acumulando uma “caixa de ferramentas biológica”: trechos de genes,
os “biobricks” (“biotijolos”) com funções específicas.
Colocando um
biobrick em uma bactéria ou alga, acrescenta-se a ela uma nova função ou
capacidade, ou então altera-se o funcionamento de alguma função que ela
já exerce.
Por exemplo, isolando o código genético da S. pasteurii responsável pela degradação da ureia, os cientistas conseguiram um “biobrick” que, ao ser inserido no genoma da E. coli, dá àquela bactéria a mesma capacidade de degradar ureia.
De forma semelhante, para fazer com que a Anabaena produza mais açúcar do que consome, foi usado um trecho de DNA da E. coli, um “biobrick” que já faz parte da caixa de ferramentas biológica.
Ou seja, provavelmente, os primeiros colonos de Marte levarão na sua bagagem uma caixa de ferramentas biológicas.
Fonte: Hypescience
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