O mundo acabará em 21/12/2012?
Experimente procurar por "2012 fim do mundo" em um buscador na
internet. O resultado será um número enorme de páginas.
O assunto, que
poucos anos atrás era praticamente desconhecido, virou febre. Segundo o
Google, por exemplo, antes de 2008, poucas pessoas faziam a busca "2012
mayans" (maias, em inglês). Em 2009, as buscas disparam e, em novembro
daquele ano, eram seis vezes maiores do que em qualquer mês dos anos
anteriores.
Mas essa "profecia" de que tudo acabará realmente existiu? Quais são os argumentos a favor do fim do mundo em 21 de dezembro de 2012? E os contra? Veja a seguir um pouco da discussão sobre essa história.
Foi a chamada inscrição de Tortuguero que começou toda a confusão. Os
fragmentos do texto escrito pelos maias indicavam que no fim da atual
era algo relacionado ao deus Bolon Yokte ocorreria.
O texto incompleto
levou a diversas interpretações, principalmente por causa da estranha
divindade citada, que é ligada tanto à criação quanto à destruição.
Então vieram as partes apocalípticas: falou-se em alinhamento do Sol
com o centro da Via Láctea (que ocorreria a cada 26 mil anos), inversão
dos polos magnéticos, que o planeta X (ou Nibiru) estaria em rota de
colisão com a Terra, que ocorreriam tempestades solares...
Porém, a fonte dessas ideias está envolvida em um mistério maior do
que o real significado da "profecia" maia. Para o astrônomo David
Morrison, do Centro de Pesquisa Ames da Nasa, "pessoas estão sendo
manipuladas e submetidas a medos com o objetivo único de propiciar
lucros a terceiros".
Hollywood faz um filme...
A disparada nas buscas do Google em 2009 não ocorreu por acaso. Nesse
ano, as interpretações sem sentido da profecia maia que dão lucro para
aproveitadores também foram bem exploradas pelo cinema com o lançamento
do filme 2012.
Na película, uma onda gigante foi representada de maneira tão exagerada
que encobria montanhas. Além disso, caíam asteroides por todos os lados e
continentes literalmente se desmanchavam.
Com que base científica foi criado todo esse apocalipse visual? Nenhuma.
Mesmo assim, preocupou muitos leigos. "Dois adolescentes estavam
pensando em se matar porque não queriam estar por aqui quando o mundo
acabasse.
E duas mulheres disseram que estavam pensando em matar seus
filhos e cometerem suicídio para não terem de sofrer com o fim do
mundo", conta David Morrison, cientista sênior do Instituto de
Astrobiologia da Nasa, comentando e-mails recebidos pela agência.
...e irrita muito a Nasa
Segundo o porta-voz da Nasa Dwayne Brown, a agência espacial americana não comenta filmes. Mas quando o assunto é ciência...
"Consideramos que seria prudente oferecer uma base de recursos", diz.
O conteúdo do filme 2012 levou a diversas declarações da
agência de que o mundo não acabaria tão cedo. Astrônomos (ligados à Nasa
ou não), após verem suas caixas de e-mail lotadas de perguntas sobre a
profecia maia, falaram que aquilo não passava de "sandice" e que a
tendência apocalíptica tinha passado dos limites.
Dois anos depois, a raiva da Nasa não havia passado. A agência
decidiu criar uma lista - os filmes mais absurdos da história. A lista
têm sucessos de bilheteria, como Armageddon, e é encabeçada, obviamente, por 2012.
E. C. Krupp, diretor do Observatório Griffith (não ligado diretamente
à Nasa), em Los Angeles, chegou a dizer que o filme é baseado em
"loucura pseudocientífica, ignorância em Astronomia e um alto nível de
paranoia".
"Os produtores se aproveitaram de uma preocupação popular
sobre o então chamado fim do mundo", diz Donald Yeoamans, cientista da
agência espacial americana.
E as outras interpretações?
Além de atacaram o filme, cientistas resolveram desmentir as demais
crendices sobre o fim do mundo de acordo com o calendário Maia.
Sobre
"alinhamento galáctico", por exemplo, David Morrison, da Nasa, afirma
que em todos os solstícios (e 21 de dezembro é um solstício) o Sol
parece passar no ponto médio da Via Láctea.
Ou seja, o tal alinhamento
que supostamente só acontece a cada 26 mil anos ocorre, de fato, todos
os anos - e duas vezes! E não costuma gerar nenhum fato apocalíptico.
Além disso, David Stuart, especialista em povo maia da Universidade
do Texas e um dos principais críticos da interpretação apocalíptica da
profecia, diz que "nenhum texto ou arte dos antigos maias faz referência
a qualquer coisa do tipo".
Planeta X em rota de colisão, erupções solares e outras previsões ligadas ao mito maia também são desmentidas por especialistas.
Afinal de contas, por que 2012?
Os maias gostavam muito de criar ciclos de tempo. E isso não se resume apenas a dias, meses, anos. Estamos falando de milênios - e mais. Um dos maiores ciclos dos maias era o Baktun. Cada um desses tinha aproximadamente 400 anos.
E 13 Baktuns correspondiam a uma Grande Contagem, ou 5.125 anos. A última Grande Contagem começou em 11 de agosto de 3114 a.C.. Sabe quando vai acabar? Pois é: 2012, por volta de dezembro - no dia 21, segundo boa parte dos especialistas em maias, ou no dia 23, segundo outros.
De acordo com Carlos Pallán, diretor do Acervo Hieróglifo e Iconográfico Maya (Ajimaya) do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México, as primeiras interpretações apocalípticas da inscrição de Tortuguero ocorreram nos anos 1970 em textos esotéricos.
Daí você junta uma profecia de difícil interpretação (até porque falta parte do texto), uma figura divina controversa (Bolon Yokte, o deus da criação e da destruição) e a internet e o que temos é o fim do mundo (ou pelo menos muita gente querendo convencer você de que ele vai ocorrer).
Para os cientistas que pesquisam a civilização maia, 2012 é apenas o fim de um ciclo muito longo do calendário maia e o começo de outro. Não há nenhum texto dizendo "o mundo acaba no fim da Grande Contagem".
Além disso, essa contagem é tão complicada que um cientista diz que o calendário maia nem acaba em 2012, mas em algumas décadas.
Parecia que o assunto estava morto e enterrado. Mas se os zumbis estão na moda, por que a profecia de 2012 não pode ressurgir dos mortos também?
Uma nova referência
Em dezembro de 2011, quando organizava um conferência sobre a cultura
maia, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México
comentou em seu site que existiam apenas duas referências ao suposto fim
do mundo em 2012 entre os mais de mil textos maias.
O problema é que, até agora, apenas uma referência era conhecida. A
notícia foi destaque na imprensa internacional: sites de jornais como o Washington Post, o britânico The Telegraph, a rádio NPR (EUA), a TV Fox News e a agência AP, entre muitos outros, noticiaram que o instituto anunciava a existência de uma segunda referência ao 21 de dezembro de 2012.
Não se sabe muito do segundo texto. O México o deixa guardado e não
se sabe de muitos cientistas que tiveram acesso a ele.
David Stuart,
especialista em cultura maia da Universidade do Texas e um dos
principais críticos da interpretação apocalíptica dessas profecias, diz
que esse texto é menos apocalíptico ainda.
Nem sequer há verbo no
futuro, o que faz o cientista especular que seja apenas um registro de
um fato importante do passado, sem relação com 2012.
A última interpretação
No evento da INAH, no México, os pesquisadores Sven Gronemeyer e
Barbara Macleod, da Universidade La Trobe (Austrália), divulgaram uma
nova interpretação sobre a profecia. O texto, segundo eles, diz que
Bahlam Ajaw (612-679 d.C.), antigo governante de Tortuguero, será o
anfitrião do retorno de um deus, exatamente Bolon Yokte.
"A aritmética do calendário maia demonstra que o término do 13º
Baktun representa simplesmente o fim de um período e a transição para um
ciclo novo, embora essa data seja carregada de um valor simbólico, como
a reflexão sobre o dia da criação", comentou Gronemeyer.
Segundo o epigrafista mexicano Erik Velásquez, para os escribas maias, a
história como uma narração de eventos humanos foi uma preocupação
secundária.
Eles se centravam nos rituais de qualquer tipo, por isso,
"as inscrições mostram relações complexas entre o tempo, as esculturas e
os prédios".
Mas por que era tão difícil interpretar esses textos? "Na
antiga concepção maia, o tempo se construiu tal como as esculturas e os
prédios que as continham, os períodos tinham consciência, vontade,
personalidade e se comportavam como humanos", acrescenta Velásquez.
Outra interpretação, do arqueólogo José Romero, especialista no sítio de
Tortuguero - onde a inscrição foi achada -, é bem diferente: para ele, a
inscrição é uma biografia de um governante local. Nenhuma interpretação recente fala em "fim do mundo". Parece o fim da polêmica. Pelo
menos por enquanto.
Fonte: Terra
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