Há 200 milhões de anos, as presas mais assustadoras do mundo vieram empacotadas em um tamanho exato de uma mordida.
Criaturas parecidas com enguias e conhecidas como conodontes tinham apenas 60 milímetros, mas, se vistas de perto, eram realmente assustadoras.
As conodontes são um dos vertebrados mais bem sucedidos da história da Terra. Evoluíram há 500 milhões de anos e sobreviveram por quase 300 milhões antes de serem extintas pelo evento ocorrido no triássico-jurássico.
Os dentes delas eram pequenos, mas muito notórios, pois eram incrivelmente afiados – a ponta deles media apenas 2 micrômetros de largura. Não é surpresa, portanto, que o nome do animal seja conodontes – palavra de origem grega, onde cono = konos = “cone”; e donte = odous/odont. = “dente”.
Mas, não necessariamente um dente afiado era uma vantagem. O paleobiólogo Philip Donoghue e sua equipe explicam isso na última edição da Proceedings of The Royal Society B: “Dentes afiados fazem com que os elementos fossem comprovadamente vulneráveis ao desgaste e quebra”. Tendo isso em mente, como as conodontes comiam sem destruir os próprios dentes?
Para encontrar a resposta, Phillip e sua equipe criaram modelos de computador da Wurmiella excavata, a condonta estudada, e analisaram como eles funcionaram bem sem se autodestruírem. E, no fim, os dentes não mastigavam tanto assim. A Nature News nos dá um resumo das descobertas da equipe:
“A equipe descobriu que os conodontes não processavam a comida usando um mecanismo baseado na força muscular, como os mamíferos. Em vez disso, elas contavam em forças minúsculas que se tornaram extremamente concentradas como resultado dos dentes extremamente afiados, e o jeito especial que elas roíam. Diferentemente dos dentes de mamíferos, que se fecham perpendicularmente, os dentes dos conodontes o faziam em 90º, cortando a comida pela esquerda e pela direita. Os interângulos dos dentes afiados ficavam primeiramente presos atrás, depois eram impulsionados para frente e separavam novamente, explica Phillip”.
Essas descobertas mostram como os dentes afiados, porém delicados, podem ter se desenvolvido. Sem os músculos da mandíbula essenciais para a mastigação, os conodontes tinham que desenvolver estruturas afiadas para que até os menores movimentos fossem poderosos o suficiente para dilacerar a comida. Mas os dentes da Wurmiella excavata seriam inúteis em um animal maior, ou com mais músculos na mandíbula.
Como nós, vertebrados, desenvolvemos os dentes que temos hoje? Essas estruturas surgiram independentemente conforme a necessidade de se processar a comida antes da digestão para nossa própria sobrevivência ou eles evoluíram de estruturas como os dentes afiados dos conodontes?
É empolgante imaginar como as técnicas de modelagem como as da equipe de Phillip melhorarão nossa compreensão da evolução dentária de vertebrados como nós.
Fonte: Jornal Ciência
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