Acesso foi proibido em 1932 em cumprimento a uma ordem do profeta Maomé; apenas quem estivesse chorando ou em jejum poderia visitar o local.
A Arábia Saudita expôs ao turismo uma joia arqueológica
milenar e Patrimônio da Humanidade, cujo acesso foi interditado há quase
um século por motivos religiosos e que tem uma grande semelhança com o
território de Petra, na Jordânia.
A construção de Madain Saleh ("as
cidades de Saleh") começou há cerca de 5 mil anos, no extremo noroeste
do reino saudita, perto da cidade de Tabuk.
Foi quando a dinastia de Saud assumiu o controle do
país, em 1932, que foi proibido o acesso a esta região, em estrito
cumprimento a uma ordem do profeta Maomé que determinava que poderia
fazê-lo apenas quem estivesse chorando ou em jejum em homenagem ao
triste destino do povo que nela viveu.
Segundo a tradição, a região era habitada pela tribo dos
tamudeus, antepassados dos árabes, que possuíam uma cultura avançada e
tinham a capacidade de esculpir inscrições, além de fazer construções
nas montanhas.
O Corão relata que Alá enviou seu profeta Saleh aos
tamudeus afim de conseguir que este povo deixasse de adorar ídolos.
Os
tamudeus, incrédulos, pediram a Saleh que provasse ser um mensageiro
divino, e, por isso, o profeta transformou em rocha uma camela que tinha
a capacidade de produzir leite suficiente para toda a tribo, com o qual
eram elaborados os melhores queijos e banhas. No entanto, os tamudeus,
repletos de inveja, decidiram matar a camela para se livrar de Saleh.
A resposta divina, como diz a tradição, foi terrível, e a
tribo acabou exterminada enquanto Saleh e alguns crentes a abandonavam.
No final do último mês de dezembro, a Organização Geral do Turismo e da
Arqueologia saudita anunciou que iria abrir o local para visitas e que
estava disposta a receber turistas.
Em 2008, a Unesco nomeou Madain
Saleh, Património da Humanidade, sendo considerado o primeiro sítio
arqueológico saudita com tal reconhecimento.
Madain Saleh tem aproximadamente 15 quilômetros
quadrados e tem ao seu redor cerca de 138 túmulos, alguns deles com
inscrições que demonstram a importância que os mortos possuíam na
sociedade, como seu nome e, às vezes, sua idade.
Além disso, o local
abriga casas e mausoléus esculpidos na rocha da montanha, também com
inscrições. A área foi habitada posteriormente por assírios, nabateus
(autores das principais construções e cuja capital era em Petra) e
romanos.
Durante os últimos cinco anos, as autoridades
arqueológicas sauditas fizeram um grande esforço para convencer os
dignatários religiosos a aceitar a abertura desse lugar ao turismo.
O
presidente dessa instituição, o príncipe Faisal bin Salman, disse em
setembro do ano passado que tinha contatado pessoalmente ulemás para
permitir a visitação do local.
Dois prestigiados clérigos aceitaram o pedido, os xeques
Abdullah al Mutleq e Abdullah al Mania, que visitaram Madain Salehn -
um gesto que espera-se que contribua para romper o temor religioso de
entrar na região.
Desse mesmo lugar, os ulemás convidaram à visitação os
sítios arqueológicos da área "para aprender a experiência do que
sofreram antigos povos e estudar a história". Apesar disso, outros
clérigos consideraram que a visitação a esses lugares não são permitidas
pelo islã.
Em declarações à Agência Efe, o vice-presidente
da Organização Geral de Turismo e da Arqueologia, Ali al Gaban, disse
que a região vizinha de Al Ulaa presenciará um forte progresso econômico
em um futuro próximo, com a criação de empregos e a construção de
hotéis.
Além disso, Gaban destacou que esta zona arqueológica possui
também uma estação da mítica ferrovia Al Hejaz, construída pelos turcos
otomanos e que uniu Damasco à cidade saudita de Medina entre 1908 e
1916.
Esta estação foi imortalizada no filme "Lawrence da Arábia" pelos
ataques que sofria por parte de um oficial britânico e seus aliados
árabes, explicou Gaban.
"Nossa instituição preparou um museu da ferrovia e outro
sobre os caminhos que os fiéis faziam em sua peregrinação aos
santuários (de Meca e Medina). Além disso, instalou serviços e sinais
que dão ao visitante informação histórica sobre cada monumento
arqueológico", ressaltou o saudita.
A joia arqueológica, escondida durante tanto tempo, já
começou a receber visitas de turistas locais e também de europeus e
asiáticos.
Fonte: Terra
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