Cólicas, vômitos, sangramentos e delírios foram frequentes nas últimas
semanas de vida da imperatriz Leopoldina de Hasburgo, primeira mulher de
Dom Pedro 1º, em 1826.
As famosas puladas de cerca do imperador com a
Marquesa de Santos podem até ter incomodado a austríaca, mas não foram a
causa de sua morte, revelou o médico legista Luiz Roberto Fontes, que
ajudou na delicada análise forense da família imperial, realizada entre
março e agosto de 2012 para o trabalho de mestrado da arqueóloga e
historiadora Valdirene Ambiel.
"O que temos condições de dizer, hoje, é do que a imperatriz não
morreu. Se houve mesmo uma briga por causa da traição de Dom Pedro 1º,
ela não tem a ver com a morte de dona Leopoldina", explica o legista ao
público. "Ela teve uma infecção grave, mas não sabemos ainda qual é essa
doença. Precisamos de mais análises para descobrir a causa da morte",
finalizou.
Fontes afirmou em palestra no MusIAL (Museu do Instituto Adolfo Lutz),
nesta quarta-feira (3) que uma doença grave causou o aborto e o óbito de
dona Leopoldina, e não uma briga entre o casal na Quinta da Boa Vista,
no Rio de Janeiro.
"A tomografia não mostrou fratura no fêmur ou outro
osso, descartando a lenda da queda de uma escada ou do acidente
[provocado por Dom Pedro]. Pelos exames, vimos que a causa pode ser uma
grave infecção que ela teve por três semanas."
A primeira ameaça de aborto ocorreu em 19 de novembro, quando a
imperatriz teve um pequeno sangramento. Com a piora do quadro no
decorrer da semana, ela passou a sofrer, também, de febre e fortes
diarreias, que indicam uma hemorragia intestinal perigosa para uma
gestante.
Em 30 de novembro, somaram-se os delírios até que os registros médicos
apontaram o aborto de um feto masculino, com cerca de três meses, em 2
de dezembro, dias antes de Leopoldina falecer.
Mesmo após perder o bebê,
Leopoldina não melhorou e passou a ter cada vez mais delírios, febre e
hemorragias, "ou seja, ela estava em um claro quadro séptico, um quadro
de morte", disse o legista.
Pesquisadora do Ipiranga
O ambicioso trabalho de mestrado da historiadora e arqueóloga não
tratou de exumar os restos mortais do imperador Dom Pedro 1º e de suas
duas mulheres, dona Leopoldina e dona Amélia, mas também de desenterrar
uma história do século 19 que estava abandonada à umidade e aos cupins.
Goteiras, urnas internas mal conservadas (cada corpo é mantido dentro
de três caixões, além do sarcófago de granito) e até erros nas placas
comemorativas – o nome de dona Amélia de Leuchtenberg, por exemplo,
ganhou um Maria – foram encontrados na cripta imperial, que fica no
Monumento à Independência, na zona sul de São Paulo.
Uma equipe ajudou a pesquisadora nesse trabalho de exumação. O
Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) fez a
cromatografia gasosa e a análise fúngica, que descartaram a presença de
gases inflamáveis nos caixões ou o risco de contágio da equipe, e o
Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas fez os exames de
ressonância magnética e as tomografias.
"O que me motivou a fazer esse trabalho de exumação da família imperial
foi o problema com a umidade na cripta. Uma reforma ocorreu na década
de 1980, quando os corpos foram trasladados temporariamente, mas as
infiltrações continuaram depois", disse a pesquisadora em palestra no
MusIAL.
Fonte: UOL
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