sábado, 6 de abril de 2013

Memórias das experiências de quase-morte são mais reais que a realidade?



O fenômeno da “experiência de quase-morte” (EQM) tem desafiado a ciência por bastante tempo, e as explicações para ele variam muito. 


Seria o produto de uma mente sob o estresse da morte? Mecanismos psicológicos de defesa? Alucinações?


Alguns neurologistas apontam que todos os fenômenos descritos pelos pacientes têm uma explicação neurológica: a visão de um túnel de luz pode ser o córtex visual entrando em colapso, a sensação de bem-estar e euforia o resultado da química cerebral alterada, e a impressão de estar flutuando no teto do quarto pela disfunção do lobo temporal parietal.


Uma equipe de pesquisadores do Coma Science Group (dirigido por Steven Laureys) e da Universidade de Liège (Serge Brédart e Hedwige Dehon) examinou as lembranças da EQM com a hipótese de que, se fossem produtos da imaginação, suas características fenomenológicas (os detalhes sensoriais, autorreferenciais, emocionais, etc) deveriam ser semelhantes ao de memórias imaginadas. Por outro lado, se fossem experiências de alguma forma similares à realidade, suas características seriam semelhantes a de memórias de eventos reais. 

Três grupos de pacientes que sobreviveram a um coma (8 pacientes tiveram EQM, 6 pacientes não, mas tinham memórias do coma, e 7 pacientes sem memórias do coma) e um grupo de voluntários saudáveis receberam questionários sobre memórias de EQM e eventos reais, e os resultados foram surpreendentes.


A partir da perspectiva em análise, não só as lembranças de EQM eram diferentes de memórias de eventos imaginados, mas as características fenomenológicas eram mais numerosas em memórias de EQM do que em memórias de eventos reais.


A interpretação do grupo de estudos é que as EQM não podem ser consideradas como memórias de eventos imaginados, mas como percepções reais. 


As mesmas condições que criam as EQM parecem também “criar” uma percepção de realidade, que é interpretada pelos pacientes como se viesse do exterior.


De uma certa forma, é como se o cérebro estivesse mentindo para os pacientes, como em uma alucinação. 


Os eventos de EQM são muito importantes de uma percepção emocional e pessoal, condições que fazem com que as lembranças sejam extremamente detalhadas, precisas e duráveis, rivalizando e superando lembranças de eventos reais.


Embora existam teorias fisiológicas e psicológicas para explicar os mecanismos da EQM, ainda não há uma que consiga explicar todas as experiências relatadas pelos pacientes, e tampouco o presente estudo oferece uma explicação única para a EQM, mas sua contribuição é em direção de que os fenômenos psicológicos são fatores associados aos fenômenos fisiológicos, e não contraditórios. 


O estudo conclui que, apesar das similaridades entre EQM e alucinações serem tão marcantes, é necessário fazer mais pesquisas para caracterizar o relacionamento entre estes fenômenos de forma mais precisa. Além disso, mais estudos são necessários para entender as assinaturas neurais das EQM. 
 
 
 
 
Fonte: Hypescience

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