O fenômeno da “experiência de quase-morte”
(EQM) tem desafiado a ciência por bastante tempo, e as explicações para
ele variam muito.
Seria o produto de uma mente sob o estresse da morte?
Mecanismos psicológicos de defesa? Alucinações?
Alguns neurologistas apontam que todos os fenômenos descritos pelos
pacientes têm uma explicação neurológica: a visão de um túnel de luz
pode ser o córtex visual entrando em colapso, a sensação de bem-estar e
euforia o resultado da química cerebral alterada, e a impressão de estar
flutuando no teto do quarto pela disfunção do lobo temporal parietal.
Uma equipe de pesquisadores do Coma Science Group (dirigido por
Steven Laureys) e da Universidade de Liège (Serge Brédart e Hedwige
Dehon) examinou as lembranças da EQM com a hipótese de que, se fossem
produtos da imaginação, suas características fenomenológicas (os
detalhes sensoriais, autorreferenciais, emocionais, etc) deveriam ser
semelhantes ao de memórias imaginadas. Por outro lado, se fossem
experiências de alguma forma similares à realidade, suas características
seriam semelhantes a de memórias de eventos reais.
Três grupos de pacientes que sobreviveram a um coma (8 pacientes
tiveram EQM, 6 pacientes não, mas tinham memórias do coma, e 7 pacientes
sem memórias do coma) e um grupo de voluntários saudáveis receberam
questionários sobre memórias de EQM e eventos reais, e os resultados
foram surpreendentes.
A partir da perspectiva em análise, não só as lembranças de EQM eram
diferentes de memórias de eventos imaginados, mas as características
fenomenológicas eram mais numerosas em memórias de EQM do que em
memórias de eventos reais.
A interpretação do grupo de estudos é que as EQM não podem ser
consideradas como memórias de eventos imaginados, mas como percepções
reais.
As mesmas condições que criam as EQM parecem também “criar” uma
percepção de realidade, que é interpretada pelos pacientes como se
viesse do exterior.
De uma certa forma, é como se o cérebro estivesse mentindo para os
pacientes, como em uma alucinação.
Os eventos de EQM são muito
importantes de uma percepção emocional e pessoal, condições que fazem
com que as lembranças sejam extremamente detalhadas, precisas e
duráveis, rivalizando e superando lembranças de eventos reais.
Embora existam teorias fisiológicas e psicológicas para explicar os
mecanismos da EQM, ainda não há uma que consiga explicar todas as
experiências relatadas pelos pacientes, e tampouco o presente estudo
oferece uma explicação única para a EQM, mas sua contribuição é em
direção de que os fenômenos psicológicos são fatores associados aos
fenômenos fisiológicos, e não contraditórios.
O estudo conclui que, apesar das similaridades entre EQM e
alucinações serem tão marcantes, é necessário fazer mais pesquisas para
caracterizar o relacionamento entre estes fenômenos de forma mais
precisa. Além disso, mais estudos são necessários para entender as
assinaturas neurais das EQM.
Fonte: Hypescience
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