sábado, 6 de julho de 2013

Escavações revelam parte da história da colonização de Mazagão

Em Mazagão, pesquisas resultaram na descoberta das ruínas de uma igreja e 52 ossadas (Foto: Gabriel Penha/G1)
 
 
No século 18, colonizadores vieram do Marrocos até o Amapá. Trabalho arqueológico começou em 2012, com equipe da UFPE.
 
 
 
Mazagão Velho, no Amapá, é um lugar que guarda uma parte da história da colonização brasileira pouco conhecida: uma cidade que, segundo historiadores, foi “transplantada” do continente africano para a Amazônia.


Há dez anos, em 2003, a história de Mazagão Velho começava a ser desenterrada com o trabalho de escavação da equipe do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com patrocínio do governo do Amapá.


As pesquisas resultaram na descoberta das ruínas de uma igreja que data da fundação da vila e 52 ossadas dos primeiros moradores da região, enterradas nos alicerces.


Por volta de volta de 1769, cerca de 160 famílias – aproximadamente 1022 pessoas, entre brancos e escravos – vieram do Marrocos, numa longa jornada de barco até chegarem às margens do rio Mutuacá, na região sul do Amapáx, depois de uma breve passagem por Belém do Pará.


A imigração forçada se deu pela guerra entre mouros e cristãos, durante a implantação do cristianismo português no continente africano. A vila de Nova Mazagão – hoje vila de Mazagão Velho – foi fundada em 23 de janeiro de 1770, pelo rei de Portugal, Dom José I.


Durante as escavações, os pesquisadores descobriram que a igreja media 40 metros de comprimento e 12,8 metros de largura, chegando a 17,9 metros onde ficava o altar-mor. A igreja foi abandonada porque acabou tombando.


“É uma igreja muito grande, sobretudo para a época. Essa diferença de tamanho onde ficava o altar se dá por que, naquele tempo, a Igreja Católica trabalhava com certo misticismo. A entrada do padre, por exemplo, era algo triunfal”, explicou o professor da pós-graduação em História da UFPE, Marcos Albuquerque, coordenador do Laboratório, na ocasião da descoberta.



Professor da pós-graduação em História da UFPE, Marcos Albuquerque (Foto: Gabriel Penha/G1)


Sobre os restos mortais descobertos na fundação, Albuquerque acredita se tratar de um povo heróico entre eles, militares, já que além das ossadas foram encontradas botões de fardas e cruzes de malta, condecorações portuguesas da época.


Após se arraigar em Mazagão, grande parte dessa população foi dizimada por doenças tropicais, para as quais não estava preparada.


“Eles chegaram aqui e ficaram nos navios durante o tempo em que se construíram as casas. Imagino o que esse povo deve ter sofrido, tendo em vista que nessa região era muito comum a malária, o cólera, a diarreia e o sarampão [mais grave que o sarampo comum]. Tanto que, por volta de 1786, grande parte dessas pessoas, principalmente com mais recursos, foi para a região das ilhas, onde se estabeleceram como comerciantes, deixando para trás alguns índios remanescentes dos primeiros habitantes e os escravos negros, abandonados pelos donos”, endossa o pesquisador Nilson Montoril de Araújo.


Historiadores acreditam, que restos mortais são de militares, foram encontrados botões de fardas e cruzes de malta (Foto: Gabriel Penha/G1)



Ele ainda diz que cerca de 150 pessoas sobreviveram para montar o núcleo populacional na região, onde hoje está situada a vila de Mazagão Velho.

 
 
 
Fonte: G1

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