Um
documento secreto do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) afirma que o
governo brasileiro, durante o regime militar (1964-1985), cogitou a ideia de
desenvolver uma bomba atômica visando à elaboração de uma política nacional
para o uso de energia nuclear e também focando na segurança nacional.
O
documento em questão foi divulgado pelo jornal "O Estado de São
Paulo" esta semana e consiste em uma ata de uma exposição feita pelo então
presidente Ernesto Geisel, durante um encontro do Alto Comando das Forças
Armadas no dia 10 de junho de 1974.
Na
reunião, Geisel admitiu a preocupação do governo militar com a questão nuclear
depois de um teste atômico realizado na época pela Índia, do
possível uso deste tipo de armamento pela Argentina
e qual seria o posicionamento do Brasil
diante da situação.
"A
explosão recente de uma bomba nuclear pela Índia provocou comoção mundial e
temos que considerar a hipótese de, em futuro não longínquo, a Argentina também
pode explodir a sua. Evidentemente, isto gera inquietação entre nós e todos
indagam qual será a posição do Brasil face à situação", disse Geisel.
"Nossa
própria arma"
Diante
disso, o presidente falou da necessidade em "desenvolver uma tecnologia
para a utilização da explosão nuclear para fins pacíficos, o que nos permitirá,
inclusive, se necessário, dispor de nossa própria arma".
Geisel
lembrou que a Argentina teve "relativa facilidade de encontrar
urânio", pois foi "mais favorecida pela natureza que o Brasil".
Isso, na sua opinião, poderia criar uma condição favorável para que o país
vizinho desenvolvesse armas nucleares.
Contudo,
ele ponderou sobre o uso do urânio também para fins energéticos e, desta
maneira, era necessário evitar julgamentos precipitados sobre os planos
argentinos neste terreno: "nesse quadro, devemos evitar a abordagem
passional do problema, capaz de nos conduzir a decisões precipitadas, por
influência das supostas possibilidades ou intenções da Argentina",
acrescentou Geisel.
Guerra continental
Mesmo
assim, ele argumentou que seria o momento para uma revisão do conceito
estratégico nacional e afirmou que "dentro da necessidade de atualização,
ressaltada pelo EMFA, o conceito deverá abranger a hipótese de guerra
continental envolvendo a Argentina".
O
programa nuclear brasileiro começou a ser desenvolvido em 1976, em acordo com a
Alemanha, para construir três usinas nucleares para a produção de energia
elétrica.
Em 1998, o governo de Fernando Henrique Cardoso assinou o
Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, mas o país já era signatário,
desde 1968, do Tratado de Tlatelolco, o qual determinava que a América Latina e
o Caribe se comprometiam como regiões livres de armas nucleares. Na
constituição de 1988, o Brasil renunciou à possibilidade de desenvolver armas
nucleares.
Fonte: The History Channel
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