A cidade francesa de Estrasburgo recebe neste mês de janeiro um Museu
do Vodu, centrado neste ritual africano, tornando-o, segundo seus
responsáveis, o "único no mundo".
O museu está localizado em um
depósito de água do século XIX totalmente restaurado e inclui cerca de
220 peças relacionadas ao vodu, das mais de mil que reuniu Marc
Arbogast, ao longo de 50 anos de viagens ao Golfo da Guiné.
Apaixonado
pela África Ocidental, Arbogast começou aos 21 anos a ir anualmente à
África para caçar leões. Lá, recolhia máscaras e fetiches vodus do solo,
depois que os africanos foram "obrigados pelos missionários brancos" a
abandonarem os objetos.
"Em uma das minhas viagens tive uma
terrível dor em um dos pés. Um sacerdote vodu aplicou algumas ervas e
realizou um ritual. Poucos dias depois, a dor desapareceu. Eu não
acredito nisso, mas existe algo...", lembra Arbogast, engenheiro,
químico e ex-presidente da cervejaria Fischer.
Além da
peculiaridade de ser um reservatório de água construído em 1878, durante
um dos períodos alemães de Estrasburgo, o edifício do museu foi
projetado como uma torre com escada em espiral, vitrais e janelas com
espaços abertos de 700 metros quadrados.
O diretor de Programação e
Atividades do Museu, o antropólogo e etnólogo Bernard Müller, descreveu
os diferentes andares como um espaço de hospedagem polivalente, de
descobrimento educacional, com um olhar misterioso e sombrio, e,
finalmente, no último andar do espetáculo dos trajes de dança.
A
primeira coisa que o visitante vai encontrar são os restos de um recente
ritual vodu, com cordas e telas cheias de cera, um copo e uma garrafa
de gin. "O álcool sempre está presente nos rituais de vodu", afirma
Müller.
Trata-se do único objeto "ativador" para o vodu, já que o
resto das figuras expostas estão "desativadas", ou seja, foram
submetidas a um ritual com ervas para tirar seu poder.
O sacerdote
que realiza o ritual regularmente é o togolês Azé Kokovivina, que
afirma que o vodu africano é muito diferente do haitiano. "Nós não
picamos bonecos com alfinetes", explica.
Mas neste museu, há, por exemplo, alguns objetos para conseguir que um casal se separe.
O
vodu nasceu no século XVII no antigo reino de Dahomey, atual Benin.
Desta região africana, que engloba Togo, Benin, Gana e Nigéria, partiram
três milhões de escravos que adaptaram o vodu a sua nova situação no
Brasil e no Caribe.
Embora o Museu do Vodu tenha aberto suas
portas em 10 de janeiro, a festa nacional do vodu no Benin, será
realizada na próxima primavera.
O primeiro andar abriga a
exposição temporária "O vodu: a arte de ver além", enquanto no resto
estão expostos os talismãs (sacos de ervas, cascas e outros materiais) e
objetos "calar a boca", feitos com uma cabeça de pato, cujo bico é
fechado com cordas para evitar que falem mal de alguém.
Além
disso, há inúmeras oferendas com pedidos, entre eles estão: emigrar para
a Europa ou ter sucesso no casamento, e "objetos poema" para ganhar
poder social, que reúnem vários elementos, como uma colher de madeira
para fazer purê de milho, chaves, uma cabeça de cachorro..., acumulados
ao longo de várias gerações de uma família.
O último andar mostra
uma coleção de trajes-máscara com os quais se realizam danças. Alguns
deles, por exemplo, são usados para confirmar que um falecido chegou bem
ao país dos mortos.
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