sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sobreviventes do incêndio no Joelma escaparam com ajuda de "anjos"



O contador Osório Gonçalves da Silva, 60, um dos sobreviventes do incêndio no edifício Joelma, em São Paulo, há 40 anos, lembra-se claramente de ter sido salvo da morte por uma criança que surgiu diante dele em uma visão.


"Eu fui salvo graças a uma ajuda espiritual", diz Silva.


Outro sobrevivente da tragédia, o pastor evangélico William Conceição Ferraz, 56, que também estava no prédio na hora do incêndio, afirma que foi um 'anjo' que indicou a ele o caminho para a saída.


"Um anjo disse: levante e vem (sic)", diz o pastor.


Os dois contaram à reportagem do UOL o que enfrentaram naquele 1º de fevereiro de 1974, quando o prédio na região central da capital paulista pegou fogo, levando à morte 188 pessoas e deixando mais de 300 feridas.


O contador Silva se recorda do grito que percorreu o 21º andar do edifício, onde ele trabalhava: "Está pegando fogo! Olha a fumaça!"


Eram 9h da manhã, e o alerta provocou um instante de silêncio e paralisação, seguido por correria em direção aos elevadores.


Funcionário do banco Crefisul, que ocupava a maioria dos 25 andares do Joelma, o jovem Silva, na época com 20 anos de idade, cedeu o último lugar no elevador a uma senhora e resolveu esperar pelo próximo elevador, que nunca veio.


O fogo teve início no 12º andar após um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado e se alastrou para os andares superiores. Das 750 pessoas que estavam no prédio, 188 morreram e mais de 300 ficaram feridas.


Ainda sem saber da gravidade do incêndio, Silva foi até as escadas, quando as luzes se apagaram. Ele desceu três andares e encontrou um grupo que subia desesperadamente. Foi aí que aconteceu o que ele chama de 'ajuda espiritual'.


"Uma criança apareceu na minha frente, me mandou entrar naquele andar e desapareceu", afirma o contador.


Ali, o contador se deparou com pessoas sentadas no chão, chorando, desanimadas. Um grupo queria se livrar das pilhas de documentos e das luxuosas e longas cortinas da sala, que cobriam as janelas de vidro, já estourando por causa do calor, para evitar que os papéis e o tecido servissem de combustível para o fogo. O temor de machucar a multidão que se formara em frente ao edifício impediu a ação.


Uma mulher viu a chegada dos bombeiros, e a notícia encheu todos de esperança, até o momento em que perceberam que a escada Magirus não alcançaria o andar em que estavam.


Foi aí que o contador Silva teve a ideia de usar as cortinas para descer até a escada dos bombeiros, mas a solução não salvaria a todos, ele lamenta.


"Uma moça linda (...) não teve força suficiente para se segurar na cortina e caiu, assim como outros", relata o contador.


Quando o contador conseguiu descer pelo pano, percebeu que dois andares ainda o separavam da escada Magirus. Então, teve de se agarrar ao concreto e às janelas quentes para alcançar os bombeiros, o que o deixou com queimaduras nas mãos e no peito.


A intoxicação provocada pela fumaça fez com que Silva passasse dois dias no hospital. Foram mais alguns em casa até que o banco Crefisul providenciou um novo endereço de trabalho, na avenida Ipiranga.


"A ausência de tantos colegas que morreram deixou tudo muito triste", diz o contador.


Silva ainda trabalhou mais quatro anos na empresa, tendo constantes sonhos em que se via preso em um túnel, o que ele acredita ter sido uma consequência do que enfrentou no incêndio.



Fonte: BOL

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