Expedição para achar cidade perdida do Império Inca pode trazer risco para povos indígenas isolados
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Expedição de pesquisador francês pode levar doenças da civilização para tribos isoladas no Santuário Nacional de Megantoni.
Marcada para julho deste ano, a expedição do francês Thierry Jamin
para encontrar uma cidade Inca perdida no meio da Amazônia peruana pode
colocar tribos indígenas isoladas em risco.
O temor é que as tribos
sejam expostas a doenças da civilização para as quais elas não possuem
anticorpos e muito menos medicação.
Jamin é conhecido por sua
pesquisa sobre a civilização Inca na Amazônia peruana e a busca pela
cidade perdida de “Paititi”, que poderia estar em algum lugar dentro de
uma área de 215 mil hectares protegida pelo Santuário Nacional de
Megantoni, no sudeste de Cusco, antiga capital do Império Inca.
-
As descobertas magníficas realizadas por meu grupo nos vales de Lacco,
Chanchamayo e Cucirini, no norte de Cusco, nos conduziram a uma zona
precisa situada no Santuário Nacional de Megantoni - disse Jamin ao
“Guardian“.
- Vários nativos da floresta (os Machiguengas, que habitam
justamente a parte da Amazônia peruana ao sudeste de Cusco) afirmam que
existem “ruínas monumentais” no topo de uma estranha montanha quadrada.
Acho que estamos muito perto de oficializar a existência deste grande
sítio arqueológico.
De acordo com o site oficial de Jamin, a
expedição terá duração de um mês e meio, entre junho e agosto, e será
guiada pelos Machiguengas, que irão abrir trilhas e preparar o terreno
em mais de um terço do percurso.
A lenda de “Paititi”
No
leste dos Andes, ao sudeste do Peru, norte da Bolívia e sudoeste do
Brasil, existiria um reino encantado, para onde o herói Inca Inkarri
teria fugido para se refugiar depois de ter criado Cusco.
A história
teria sido passada dos indígenas aos conquistadores espanhóis com
relatos de que ali habitaria um povo sem pescoço e cujos rostos ficariam
situados no centro do peito.
Seus templos e palácios seriam repletos de
ouro puro e seu chefe, o “Príncipe Dourado” ou “Eldorado”, teria uma
aparência resplandescente, coberto com ouro e valiosas joias.
O
fato de os tesouros do Império Inca nunca terem sido encontrados após a
invasão espanhola aumentaram o mistério em torno da lendária cidade, e
fizeram de “Paititi” o “maior enigma arqueológico da América do Sul”,
segundo Jamin. Desde o século XVI, dezenas de arqueólogos e
pesquisadores tentam encontrar a cidade.
Apesar da grandeza
arqueológica que envolve a possível descoberta, alguns especialistas
questionam a expedição, já que ela poderia colocar em risco os
Kugapakoris.
Uma das principais razões para a criação do Santuário
Nacional de Megantoni, há dez anos, foi exatamente a proteção desses
índios, que tiveram pouco ou nenhum contato com a civilização e são
extremamente vulneráveis a doenças infecciosas.
O santuário é
dividido por zonas. Em algumas delas são permitidas atividades de
pesquisa, mas a maior parte é formada pela Zona de Proteção Integral, e
as investigações científicas só seriam permitidas em “circunstâncias
excepcionais”.
Jamin afirmou ao “Guardian” que quer manter em
segredo o caminho de sua expedição e que não iria divulgar as zonas de
estudo e nem os locais exatos que suas pesquisas anteriores apontam como
possível localização de “Paititi”. Ele disse ainda que, ao contrário do
que afirmara, iria viajar pelo rio Ticumpinia, e não pelo Tímpia.
Lelis
Rivera, da ONG Cedia (Centro de Desenvolvimento do Indígena Amazônico),
que ajudou na criação do santuário, alertou que a presença de pessoas
de fora “poderia ser perigoso para as pessoas que vivem lá”, e que
entrar na Zona de Proteção Integral é “completamente proibido” pela lei
peruana.
- As pessoas que vivem atualmente na região superior do
Timpía ou no Ticumpinia são extremamente vulneráveis à transmissão de
vírus - é a natureza de viver em isolamento social e imunológico - disse
Christine Beier, antropólogo considerado um dos maiores especialistas
do mundo no povo Nanti, que vive em isolamento voluntário perto de Lima.
Ele é um dos colaboradores da Cabeceras Aid Project, uma ONG que leva
ajuda médica para comunidades isoladas e que vivem problemas de
contaminação pelo contato com a civilização
Jamin diz que já pediu
autorização para o Ministério da Cultura e também irá contatar o
Ministério do Meio Ambiente do Peru, que supervisiona a gestão das áreas
protegidas do santuário. No entanto, o Ministério da Cultura afirma que
não recebeu qualquer pedido de Jamin ou outro membro de sua equipe.
Fonte: O Globo Online
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