quinta-feira, 10 de abril de 2014

Busca por cidade Inca perdida ameaça povos indígenas da Amazônia peruana

Expedição para achar cidade perdida do Império Inca pode trazer risco para povos indígenas isolados Latinstock


Expedição de pesquisador francês pode levar doenças da civilização para tribos isoladas no Santuário Nacional de Megantoni.


Marcada para julho deste ano, a expedição do francês Thierry Jamin para encontrar uma cidade Inca perdida no meio da Amazônia peruana pode colocar tribos indígenas isoladas em risco. 


O temor é que as tribos sejam expostas a doenças da civilização para as quais elas não possuem anticorpos e muito menos medicação.


Jamin é conhecido por sua pesquisa sobre a civilização Inca na Amazônia peruana e a busca pela cidade perdida de “Paititi”, que poderia estar em algum lugar dentro de uma área de 215 mil hectares protegida pelo Santuário Nacional de Megantoni, no sudeste de Cusco, antiga capital do Império Inca.


- As descobertas magníficas realizadas por meu grupo nos vales de Lacco, Chanchamayo e Cucirini, no norte de Cusco, nos conduziram a uma zona precisa situada no Santuário Nacional de Megantoni - disse Jamin ao “Guardian“. 


- Vários nativos da floresta (os Machiguengas, que habitam justamente a parte da Amazônia peruana ao sudeste de Cusco) afirmam que existem “ruínas monumentais” no topo de uma estranha montanha quadrada. Acho que estamos muito perto de oficializar a existência deste grande sítio arqueológico. 


De acordo com o site oficial de Jamin, a expedição terá duração de um mês e meio, entre junho e agosto, e será guiada pelos Machiguengas, que irão abrir trilhas e preparar o terreno em mais de um terço do percurso. 


A lenda de “Paititi”


No leste dos Andes, ao sudeste do Peru, norte da Bolívia e sudoeste do Brasil, existiria um reino encantado, para onde o herói Inca Inkarri teria fugido para se refugiar depois de ter criado Cusco. 


A história teria sido passada dos indígenas aos conquistadores espanhóis com relatos de que ali habitaria um povo sem pescoço e cujos rostos ficariam situados no centro do peito. 


Seus templos e palácios seriam repletos de ouro puro e seu chefe, o “Príncipe Dourado” ou “Eldorado”, teria uma aparência resplandescente, coberto com ouro e valiosas joias. 


O fato de os tesouros do Império Inca nunca terem sido encontrados após a invasão espanhola aumentaram o mistério em torno da lendária cidade, e fizeram de “Paititi” o “maior enigma arqueológico da América do Sul”, segundo Jamin. Desde o século XVI, dezenas de arqueólogos e pesquisadores tentam encontrar a cidade.


Apesar da grandeza arqueológica que envolve a possível descoberta, alguns especialistas questionam a expedição, já que ela poderia colocar em risco os Kugapakoris. 


Uma das principais razões para a criação do Santuário Nacional de Megantoni, há dez anos, foi exatamente a proteção desses índios, que tiveram pouco ou nenhum contato com a civilização e são extremamente vulneráveis a doenças infecciosas. 


O santuário é dividido por zonas. Em algumas delas são permitidas atividades de pesquisa, mas a maior parte é formada pela Zona de Proteção Integral, e as investigações científicas só seriam permitidas em “circunstâncias excepcionais”.


Jamin afirmou ao “Guardian” que quer manter em segredo o caminho de sua expedição e que não iria divulgar as zonas de estudo e nem os locais exatos que suas pesquisas anteriores apontam como possível localização de “Paititi”. Ele disse ainda que, ao contrário do que afirmara, iria viajar pelo rio Ticumpinia, e não pelo Tímpia.


Lelis Rivera, da ONG Cedia (Centro de Desenvolvimento do Indígena Amazônico), que ajudou na criação do santuário, alertou que a presença de pessoas de fora “poderia ser perigoso para as pessoas que vivem lá”, e que entrar na Zona de Proteção Integral é “completamente proibido” pela lei peruana.


- As pessoas que vivem atualmente na região superior do Timpía ou no Ticumpinia são extremamente vulneráveis ​​à transmissão de vírus - é a natureza de viver em isolamento social e imunológico - disse Christine Beier, antropólogo considerado um dos maiores especialistas do mundo no povo Nanti, que vive em isolamento voluntário perto de Lima. 


Ele é um dos colaboradores da Cabeceras Aid Project, uma ONG que leva ajuda médica para comunidades isoladas e que vivem problemas de contaminação pelo contato com a civilização


Jamin diz que já pediu autorização para o Ministério da Cultura e também irá contatar o Ministério do Meio Ambiente do Peru, que supervisiona a gestão das áreas protegidas do santuário. No entanto, o Ministério da Cultura afirma que não recebeu qualquer pedido de Jamin ou outro membro de sua equipe.



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