Mulher afirmou ter sido faraó em vida passada, e fez alegações que mais
tarde foram confirmadas por pesquisadores (*Shutterstock)
Já ouvimos falar de paranormais auxiliando a polícia a resolver
crimes, mas e quanto aos que alegam se lembrar de vidas passadas –
poderiam ajudar arqueologistas a resolverem os mistérios da história?
Joan Grant ficou famosa após escrever, em 1937, o livro “Winged
Pharaoh”, no qual contou a história de Sekeeta, filha de um faraó – a
qual alega ter sido uma de suas reencarnações de vida passada.
O que ela
conta sobre o Antigo Egito parece corresponder bem com o que os
arqueologistas sabem, e inclusive adiciona novas descobertas que ainda
não haviam sido feitas. Apesar disto, a história antiga é incerta e esta
não pode ser utilizada como uma prova de que ela viveu em tempos
antigos.
Neste mesmo sentido, um estudante de Oxford contou, sob estado de
hipnose, sobre uma vida passada como um carpinteiro egípcio que
trabalhava no túmulo do faraó Den. O relato parece correto, e muitos
dizem ser improvável que ele soubesse desta informação detalhada por
meios normais.
O célebre autor H. G. Wells, simpatizante de Grant, uma vez a disse:
“É importante que você se torne uma escritora”. Ele disse que ela
deveria manter seus segredos guardados até que fossem “…fortes o
suficiente para que ela pudesse tolerar satirizações feitas por bobos”.
A recordação de Joan Grant
Joan Grant foi filha de J. F. Marshall, um respeitado entomologista
britânico, e de Blanche Marshall, uma médium que alegava ter previsto o
naufrágio do Titanic.
Em mais de 100 sessões espíritas de recordação, Grant afirma ter
ditado os capítulos de “Winged Pharaoh”. Em um tipo de estado de transe,
ela coletou essas memórias, e as montou posteriormente em narrativa
cronológica.
Jean Overton Fuller (1915-2009), um poeta e artista especializado em
escrever biografias, contatou egiptologistas e estudou hieróglifos para
verificar o que Grant “viu” após de passar uma semana com ela em meados
de 1940. Fuller juntou suas descobertas e experiências com Grant em um
artigo publicado após a morte de Grant, em 1989.
Foi editado por James
A. Santucci do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade do
Estado da Califórnia, e publicado pela Sociedade Teosófica, da qual
Fuller era membro. A Sociedade Teosófica é conhecida pelo seu estudo do
oculto.
De acordo com seu website, os membros podem “pertencer a
qualquer religião ou a nenhuma”, e estão reunidos pelo “desejo de
estudar verdades religiosas e divulgar suas descobertas com os demais
membros”.
O marido de Grant, Leslie Grant, era arqueologista. Quando ela o
acompanhava em escavações no Iraque, ela olhava os artefatos e explicava
informações sobre eles que se tornaram muito úteis, disse Fuller. Ela
foi com ele ao Egito, mas não obteve nenhuma experiência significante
desta viagem. Após 18 meses, ela passou a recordar diariamente sua
conexão antiga com o Egito.
Ela foi a filha do faraó, uma sacerdotisa treinada em práticas
místicas, incluindo como relembrar vidas antigas. Posteriormente, passou
a ser faraó também.
Joan Grant fora a primeira figura feminina a ser Faraó?
Fuller tentou encontrar alguma figura histórica que se enquadrasse nas descrições de Grant.
No Antigo Egito, uma pessoa podia ser conhecida por inúmeros nomes.
Grant afirmou que seu nome de batismo era Meri-neyt, e inclusive
escreveu um capítulo intitulado “A tumba de Meri-neyt”, no qual ela
assistiu à construção de sua própria tumba, enquanto ainda estava viva.
Sekeeta observou o local onde seria enterrada sob o nome de Meri-neyt.
Uma rainha de nome similar, Meryet-Nit, permanece uma figura de
controvérsia na Egiptologia. Ela viveu durante a primeira dinastia do
Egito, mas ainda é incerto se governou de fato e de direito. Se
positivo, seria a primeira faraó mulher e a primeira rainha regente
conhecida pela história.
O egiptologista Walter Emery (1902-1971) ficou fascinado pela tumba
da rainha Meryet-Nit, pois, conforma pontua Fuller, “sua tumba era
grande e importante, de modo que indicava ter sido uma Rainha Regente”.
Os primeiros quatro ou cinco faraós da Primeira Dinastia
Egípcia (começando em torno de 5000 mil anos atrás) são normalmente
listados desta forma:
1. Narmer/Menes/Hor-Aha (estes três nomes ainda estão um pouco
confusos pelos historiadores, pois os egiptólogos ainda não sabem se
todos pertenciam à mesma pessoa ou se eram pessoas diferentes)
2. Djer
3. Djet
4. Den
2. Djer
3. Djet
4. Den
Acredita-se que Meryet-Nit teria sido filha de Djer ou a esposa de
Djer. Fuller especula que ela pode ter sido inclusive Djet. Grant
escreveu que o nome de Horus de Sekeeta, Zat, era representado em
hieróglifo por uma cobra. Djet é também representado como cobra.
Traduções anteriores deste hieróglifo soletram Zet, o que é próximo
ao Zat de Grant. Carol A. R. Andrews do Departamento de Egiptologia do
Museu Britânico respondeu ao questionamento de Fuller neste ponto, desta
forma: “Você deve ter notado que o nome Djet, ainda pode ser
contestado. Tudo o que está realmente na serekh (um recinto retangular
que indica que os hieróglifos são de nomes reais) é a serpente, que é
normalmente traduzida como DJ ou possivelmente sjt.”
Colocando à parte o hieróglifo da serpente, Fuller acredita que Grant
possa mesmo ter sido a Djet, pois o próximo faraó na linha é Den, o
qual Grant afirma ter sido filho da Sekeeta.
Se a visão ou história de Grant for verdade, resolveria a
controvérsia de Narmer/Menes/HorAha. No livro “Winged Pharaoh”, ela
explica que Narmer reinou no Sul antes de Menes ter reunido o Alto e
Baixo Egito, tornando-se o primeiro faraó da dinastia.
Os descendentes
de Menes respeitavam Narmer, de acordo com o relato de Grant. Assim,
Fuller acredita que Hor Aha possa ter sido a mesma pessoa que Menes, uma
vez que a palavra egípcia “men” significa “estabelecido”. O “es” foi
adicionado à Menes no texto grego, de onde conhecemos o nome.
Narmer teria sido o faraó pré dinástico e Hor Aha teria sido o
primeiro faraó da dinastia, e também aquele que reuniu o Alto e Baixo
Egito, tornando assim o nome “estabelecido” adequado. A teoria de que
Menes reuniu o baixo e alto Egito geralmente é bem aceita, apesar de
haver ainda alguns debates.
O que impressionou Fuller é que a concepção de Narmer como um faraó
pré dinástico veio 24 anos antes de Emery apresentar esta teoria.
“Não
poderia ter sido de Emery que Joan encontrou esta teoria, uma vez que
ele somente a publicou 24 anos depois que ela; e nem ele, como um
estudioso, teria consultado o que ele provavelmente considerava como um
romance.”
Os livros de Grant foram escritos como ficção histórica,
apesar de estar claro pela sua autobiografia e outros escritos de que
representam exatamente o que ela acreditava ser em sua vida passada. Ela
alegava se lembrar de inúmeras vidas passadas ao longo dos tempos.
O pente de Sekeeta é relatado em livros de história
Grant descreveu alguns dos seus objetos durante sua vida como
Sekeeta. Ela escreveu: “No templo eu tinha apenas um pente e um pequeno
espelho, no qual meu reflexo aparecia borrado. Agora meus pentes de
marfim foram esculpidos com o meu selo de faraó Alado, o falcão treinado
sobre o barco triunfante e, abaixo deste, o meu nome Horus, Zat,
escrito como uma cobra, ao lado da chave da vida e ladeado por duas
hastes de poder, poder exercido sobre a Terra e longe da Terra.”
Folheando o livro de Emery, “Egito Arcaico”, relembra Fuller, “Levei
um susto quando vi pela primeira vez um desenho representando exatamente
o que ela descreve”. Foi nomeado como “Pente de Uaji”. “Uaji”, também
escrito como Wadji, é um outro nome para Djet, o faraó. Desta forma,
Fuller encontrou mais semelhanças com a história de Grant.
Em relação à descrição de Grant deste artefato, Fuller escreveu: “Mas
será que foi uma recordação ou ela poderia ter visto isso?”
Em uma revisão de um dos livros de Grant, Claire Armitstead escreveu:
“Uma possível leitura de Grant é que ela foi vítima de sua própria
memória fotográfica, que tenha devorado histórias e regurgitado-as como
suas próprias.”
Armistead e muitos outros afirmam que Grant apenas possui grandes
habilidades de contar histórias e nada mais. Seus livros têm cativado
muitos, e não só pelo interesse na reencarnação. Quando “Winged Faraó”
foi publicado pela primeira vez, o New York Times chamou de “um livro
incomum que brilha com o fogo”.
Anacronismos?
Grant descreveu outros objetos de Sekeeta como sendo feitos de prata.
Na época em que Grant escrevia o livro, era desconhecido o uso da prata
pelos egípcios deste período. Isto foi descoberto posteriormente, e
Fuller escreveu: “Então eles realmente utilizavam prata, só que
os Egiptologistas não sabiam disso na época em que Joan descreveu o
fato.”
Outro anacronismo aparente na escrita de Grant foi o uso de cavalos e
carruagens. Acreditava-se que os cavalos apenas haviam aparecido no
Egito quando foram trazidos da Ásia, durante o período Hicsos (1600
D.C), ou seja, 1500 anos após a era de Sekeeta.
O marido arqueólogo de Grant queria colocar sua história no período
dos Hicsos, e após ter conhecimento sobre os cavalos e a prata, Fuller
entendeu o porquê. Fuller viu a determinação de Grant em manter o
cronograma durante a Primeira Dinastia, já que estavam sendo descobertas
algumas evidências em favor da veracidade de sua história. “Sua
persistência não era um pecado de ignorância, mas uma persistência
firme, apesar dos protestos contrários de seu marido.”
Apesar da alegação de que os cavalos apenas foram introduzidos no
Egito depois de 1600 d.C. não ter sido provada como falsa nem
verdadeira, disse Fuller: “A primeira referência, para eles, foi
encontrada em conexão com as invasões dos Hicsos. No entanto, não
encontraram nada dizendo que ‘neste ano os cavalos foram descobertos’. É
sempre perigoso impor o negativo na ausência de provas positivas. No
entanto, o problema desaparece quando se observa uma passagem em “Winged
Pharaoh” dizendo que eles tinham seus cavalos de Zumas, que só poderiam
ser trocados por garanhões.”
Outro caso de recordação do Egito Antigo?
Sob hipnose, um estudante cego da Universidade de Oxford alegou ter
sido um carpinteiro no Antigo Egito. Ele estava participando de um
estudo conduzido pelo Sr. Cyril Burt (1883-1971) e pelo professor
William McDougall, que estavam interessados em pesquisa mediúnica, mas
não possuíam interesse em conduzir sessões de regresso a vidas passadas.
Burt era um estudante não graduado de Oxford na época, e mais tarde
tornou-se professor emérito de psicologia na Universidade de Londres.
William McDougall foi um psicólogo americano proeminente.
O aluno “disse-lhes que tinha de esculpir inscrições ‘no túmulo oco
do Rei Den’ e começou a descrever o túmulo, mencionando um deus com uma
coroa branca brilhante”, explicou Roy Stemman em seu livro “The Big Book
of Reincarnation: Examining the Evidence that We Have All Lived Before”
(O grande livro de Reencarnação: examinando a evidência de que todos
nós já vivemos antes).
Stemman continuou: “Alguns meses mais tarde, os dois pesquisadores
leram sobre escavações que haviam sido recentemente conduzidas pelo Sr.
Flinders Petrie (considerado por alguns o maior egiptólogo da
Grã-Bretanha), que estava investigando o cenotáfio do Rei Smti, cujo
nome de Hórus era Den. Eles perceberam que alguns dos detalhes de suas
descobertas coincidem com as descritas pelo estudante de Oxford (Den,
aliás, era o filho que Joan Grant alegou ter dado à luz em sua vida como
Sekeeta). A coroa branca mencionada pelo aluno foi encontrada em uma
viga, utilizada por Osiris, e as descrições da câmara também
correspondiam.
“Quando questionado, o estudante disse que sabia pouco sobre o Egito antigo, exceto o que havia lido na Bíblia.”
Fonte: Epoch Times
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