Um grupo de arqueólogos que no verão escavaram o Castro do Amaral, em
Alenquer, anunciou a descoberta de um objeto de inspiração fenícia,
semelhante a um alfinete de dama. A descoberta confirma, assim, a forte
presença fenícia no estuário do Tejo.
Ana Margarida Arruda, professora da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, que coordenou os trabalhos, disse à agência Lusa
que o estudo dos materiais recolhidos permitiu confirmar a existência
de uma fíbula de bronze.
A arqueóloga explicou que a peça com cerca de nove centímetros e
datada do século VII a.C. é "uma espécie de alfinete de dama de
antigamente". Era usada no vestuário há mais de três mil anos e foi
trazida pelos fenícios, oriundos do litoral do atual Líbano.
Além de "muito bem conservada", é uma raridade, não só por apenas
existirem outras três ou quatro em Portugal, mas também por ter uma
decoração que outras fíbulas não têm.
Para a investigadora do Centro de Investigação de Arqueologia da
Universidade de Lisboa, o objeto seria usado por pessoas nativas mais
destacadas na sociedade e mais expostas às influências orientais
trazidas pelos fenícios.
As escavações puseram a descoberto uma muralha defensiva, centenas de
fragmentos cerâmicos da Idade do Bronze e material da Idade do Ferro
(séculos VII e VI a.C.), que permitem confirmar que "a Península
Ibérica, e sobretudo a zona do Estuário do Tejo, sofreu influências
orientais que resultaram no contato dos fenícios com a população
indígena", concluiu a especialista.
Na campanha, que decorreu entre Julho e Setembro, os arqueólogos
descobriram ainda uma moeda "invulgar" de D. Afonso Henriques (século
XII) e vestígios das épocas romana e medieval, como telhas, que "revelam
uma ocupação permanente" ao longo de vários séculos.
Para Ana Margarida Arruda, o Castro do Amaral, na freguesia de
Santana da Carnota, reconhecido como sítio arqueológico desde a década
de 1960, tornou-se um dos locais arqueológicos mais relevantes do
Estuário do Tejo para o estudo da presença dos fenícios.
O projeto de dois anos, cujos resultados foram agora conhecidos, foi
financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e vai terminar em
Agosto.
Os arqueólogos admitem que, por ter uma área superior a seis
hectares, o Castro do Amaral possuirá ainda muito material com potencial
arqueológico para recolher em futuras escavações.
Fonte: Sábado
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