Réptil é endêmico de Santa Catarina e já está ameaçado de extinção
Uma nova espécie de lagarto foi descoberta no litoral catarinense, nas praias de Imbituba, a 90 km de Florianópolis. O Tropidurus imbituba, que foi descrito na revista científica Zootaxa, era confundido com outro lagarto, o Tropidurus torquatus, espécie que tem ampla área de ocorrência no Brasil, do sul da Bahia até o Rio Grande do Sul.
De
acordo com o orientador da pesquisa de mestrado responsável pela
descoberta e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Marcio Borges-Martins, a espécie de lagarto já conhecida está
presente com maior frequência em ambientes de interior.
Por isso,
ao verificarem a possível presença dela no litoral, ficaram desconfiados
de que poderia se tratar de uma nova espécie. “Vimos os lagartos na
Praia de Imbituba [o nome do novo lagarto homenageia o município e
achamos que o ambiente não era condizente para espécie, então começamos a
estudá-la e verificamos que se tratava de um animal ainda não
descrito”, explica Martins.
Para o pesquisador, a nova descoberta
representa um passo importante para ampliar o conhecimento sobre a
biodiversidade brasileira. “É um trabalho em conjunto que depende de
esforços coletivos, desde o interesse dos pesquisadores e das
universidades até o financiamento de instituições de fomento à
pesquisa”, ressalta. Segundo Malu Nunes, diretora executiva da Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que apoiou a
pesquisa, esse tipo de resultado é fundamental.
“Buscamos oferecer
as ferramentas necessárias para que os projetos que apoiamos ou
empreendemos possam promover a conservação efetiva das espécies e dos
biomas brasileiros e permitir a melhoria das políticas públicas
ambientais”, explica a diretora, que completa: “a descrição de
novas espécies é um dos caminhos para atingirmos esse objetivo, pois
representa o ponto de partida para conhecermos melhor espécies que
corriam o risco de desaparecer, sem jamais terem sido descritas”,
comenta.
Tobias Kunz, pesquisador orientando que trabalhou em
conjunto com Martins, conta que, por ele conhecer muito bem o litoral
catarinense, a descoberta dessa população em uma área tão restrita foi
uma grande surpresa. “Inicialmente, acreditei que pudesse ser uma
população da espécie já conhecida e que havia sido introduzida a partir
do Porto de Imbituba, que fica adjacente à área. Por isso, iniciei as
análises um pouco relutante, mas conforme pude comparar essa população
com outros lagartos percebi que se tratava realmente de
uma espécie distinta”, destaca.
Trabalho árduo
O
pesquisador afirma que a descoberta de novas espécies é a base que
possibilita estudos futuros. "Às vezes, as pessoas e até mesmo a
comunidade científica não valorizam as descrições taxonômicas, porém é a
partir delas que conseguimos entender de modo mais completo a nossa
biodiversidade”, enfatiza. Martins explica ainda que o processo de
descoberta de uma nova espécie é minucioso e depende do banco de dados
de materiais coletados. “Usamos informações geradas por outros
pesquisadores para efeito de comparação e análise. Por exemplo, nesse
estudo consultamos materiais de naturalistas do século XIX para embasar a
descoberta da nova espécie”, ressalta.
Segundo o professor, esse foi apenas o primeiro passo, pois falta compreender muita coisa sobre o Tropidurus imbituba.
“Nesse momento, fizemos apenas estudos de morfologia, como tamanho,
formato e cores presentes no corpo, mas não sabemos quais são os hábitos
dessa nova espécie, qual sua alimentação preferida, quais animais ele
preda, entre outros fatores importantes”, destaca. Marcio Martins
comenta que um ponto já percebido é a ausência de outras
espécies de lagarto na região, o que torna a nova espécie responsável
pelo controle de populações de invertebrados como os cupins.
Ameaças
Durante
a pesquisa percebeu-se que a ocorrência da nova espécie é restrita
apenas a Imbituba e arredores, por isso resolveram chamar o lagarto de Tropidurus imbituba.
“Por conta de seu grande endemismo e das ameaças que sofre, o
novo lagarto já está correndo risco de extinção”, alerta Márcio Martins.
As principais pressões antrópicas na região são a alteração do ambiente
natural por conta de atividades portuárias e a visitação turística
intensa. “O turismo pode ser grande aliado da conservação, quando é
realizado levando em conta os fatores que garantem a manutenção do
equilíbrio da biodiversidade”, conclui o pesquisador. O réptil já consta
na lista de espécies da fauna brasileira ameaças de extinção.
Características da nova espécie
O tamanho do corpo do Tropidurus imbituba varia
entre nove e 12 centímetros quando adulto. Com a cauda, a espécie chega
aos 20 centímetros. A coloração é cinza e marrom com manchas
salpicadas. Uma das diferenças para as outras espécies de lagartos é uma
mancha de tom alaranjado na altura do ventre, além de uma faixa preta
no pescoço, lembrando um pequeno colar.
Fonte: Floripa News
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