sexta-feira, 17 de julho de 2015

Europa quer criar "aldeia lunar" para astronautas, turismo, mineração e robôs

 
 
O novo diretor-geral da Agência Espacial Europeia (ESA), o alemão Johann-Dietrich Wörner, pretende instalar um laboratório permanente para o trabalho de astronautas e robôs na Lua e que sirva de base para eventuais missões a Marte, como centro de mineração ou complexo turístico.


"Proponho ir à Lua e criar uma 'aldeia lunar', o que não significa que vai ter casas, prefeitura e igreja, mas um lugar onde os diferentes países possam aplicar suas competências através de astronautas e robôs", declarou em entrevista à Agência Efe o comandante da ESA para os próximos quatro anos, que assumiu o cargo no dia 1º de julho.


Engenheiro civil, de 60 anos, e até então representante da delegação alemã na ESA, Wörner explicou seu projeto na sede central da agência, em Paris.


"Um laboratório na própria Lua onde seja possível construir um telescópio que, aproveitando a sombra, permita uma melhor observação do que da Terra. Um lugar onde também se possa levar humanos, como ponto de ligação para chegar a Marte, além da possibilidade de se desenvolver a mineração lunar, o turismo, diversas atividades que deveríamos começar a discutir agora", analisou.


O lugar sonhado por Wörner, uma ideia que está nos planos da Nasa há anos, substituiria a Estação Espacial Internacional, laboratório que orbita ao redor da Terra desde 1998 e que representou um marco na colaboração internacional no espaço, mas cuja vida útil terminará entre 2024 e 2028.


Por enquanto, a Europa só se comprometeu a participar dessa aventura científica até 2020, então o primeiro objetivo de Wörner começa por prolongar a contribuição europeia à ISS para depois envolver a ESA na construção de uma "aldeia lunar".


"Se alguém vier com uma ideia melhor, ótimo. Mas pelo menos temos um ponto de partida", comentou Wörner, que dirige uma organização com um orçamento de 4,433 bilhões de euros para 2015, consideravelmente inferior aos 14 bilhões de euros anuais da Nasa ou aos 8,8 bilhões da russa Roscosmos.


O futuro das atividades espaciais após a ISS é apenas um dos muitos desafios de Wörner em uma área onde os projetos são muito ambiciosos, inovadores e se desenvolvem a muito longo prazo.


Um claro exemplo é a sonda Rosetta, que começou a ser projetada nos anos 80, foi aprovada em 1993, lançada em 2004 e, após dez anos viajando pelo espaço, conseguiu pousar seu módulo Philae em um cometa em novembro para colocar "a ESA nos livros de história do espaço".


"A Rosetta é um exemplo perfeito que alguns se equivocavam pensando que os cidadãos só se interessavam pelo retorno direto do investimento financeiro. As pessoas estão muito mais interessadas na ciência e na exploração espacial", disse.


Segundo o diretor-geral da agência, o entusiasmo pelo desconhecido é o que incentiva a exploração científica, com objetivos aparentemente impossíveis, mas tecnológicamente viáveis, como já foram um dia o descobrimento da América e das profundezas marinhas, ou como no futuro será a conquista do planeta vermelho.


"Tenho certeza de que nós iremos a Marte, mas não posso dizer quando. Não é como ir à Lua, onde se houver um problema, como com o Apollo 13, em dois dias você está de volta. Demora dois anos para voltar de Marte com os sistemas de propulsão utilizados hoje", comparou Wörner, que ficaria "muito contente se fosse uma mulher" a primeira a pisar no planeta vizinho.


No primeiro dia de trabalho, Wörner postou em seu blog uma mensagem aos funcionários da ESA com uma referência à ficção científica ao citar o mestre Yoda, de "Star Wars", quando o pequeno jedi verde dizia ao jovem Luke Skywalker: "Não tente. Faça, ou não faça".


"Estamos falando de um futuro muito distante. É melhor focarmos no futuro próximo, não em ir a Marte, mas em voltar à Lua", disse o engenheiro, que acredita que o ser humano não está apenas no cosmos.


Há tantos sistemas no universo que a probabilidade de estarmos sós é muito pequena, argumentou. Segundo ele, "o problema são as distâncias, por exemplo, de bilhões de anos para que um sinal de rádio chegue a um ponto. Talvez no futuro tenhamos tecnologias melhores, como a nave Enterprise de Star Trek", brincou.


"A possibilidade de haver vida é muito evidente, mas nós não a conheceremos", concluiu o sucessor do ex-astronauta francês Jean-Jacques Dordain no comando geral da ESA.
 





Fonte: BOL

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