quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Fantasmas do Capibaribe

Foto: Fábio Rafael
 
 

Um rio povoado por espectros que também é cenário de ocorrências macabras.
 
 
Ele nasce como um riacho em Poção, no Agreste do estado. Torna-se caudaloso ao longo do seu curso de 248 quilômetros até chegar ao mar. Corta vários bairros do subúrbio do Recife, sempre atravessado por pontes de diversos tamanhos.



No centro da cidade, o velho rio predomina na paisagem urbana: durante o dia, é como um límpido espelho que reflete a arquitetura dos prédios antigos.


À noite torna-se misterioso quando reproduz o brilho das luzes artificiais ou da lua cheia. Apesar de sua beleza, o Capibaribe sempre provocou medo entre os recifenses – muitos garantem que ele é assombrado.


Reza a tradição popular que, naquelas águas, habitam fantasmas pecaminosos. Principalmente, almas penadas de suicidas – pessoas que usaram o rio como rota de fuga deste mundo cruel e permanecem no “limbo”, no purgatório entre o Céu e o Inferno.


No breu das noites caladas, esses espectros de expressões angustiadas podem ser vistos por quem se aproxima das margens mais desertas. São como sutis vultos cinzentos sobre a superfície e provocam fortes arrepios em quem os testemunham.


E se hoje a poluição desencoraja qualquer um que pense em mergulhar no Capibaribe, até o começo do século XX o rio era atrativo para quem queria se refrescar ou mesmo procurava o alívio para males do corpo: por muito tempo a população acreditou que banhar-se no trecho do rio próximo ao bairro do Poço da Panela, na Zona Norte ajudaria na cura de doenças, algumas até mais graves como a cólera.


A verdade é que muitos desses banhistas desavisados pereceram porque não resistiram à força das correntezas. Os cadáveres eram encontrados metros adiante, inchados e roídos pelos peixes. Dizem que os fantasmas esbranquiçados dessas vítimas do Capibaribe ainda aparecem para pedir socorro aos viventes.


No rio atuou ainda um fantasma zombeteiro conhecido por Vira-roupas. Segundo registrou Gilberto Freyre no livro “Assombrações do Recife Velho”, ele atormentava as lavadeiras que ganhavam a vida às margens do rio. Era especialista em “roubar as trouxas das pobres mulheres camisas finas de doutores, toalhas de casas lordes, lenços caros de iaiazinhas”.


Do Vira-roupas, claro, não se tem ouvido relatos recentes, já que ninguém mais usa o rio para lavar nada. Mas a assombração talvez ainda esteja por lá, à espera de uma lavadeira desprevenida.


Na década de 70, o Capibaribe transformou-se num verdadeiro monstro aos olhos do povo da cidade. Durante os períodos de chuva, o rio transbordava trazendo destruição e, muitas vezes, morte. Em 1975, ocorreu a maior de todas as inundações.


Quando as águas baixaram e os moradores começavam a voltar para suas casas, deu-se um dos episódios mais insólitos da história pernambucana. O boato de que a barragem de Tapacurá havia estourado levou a população a concluir que o Capibaribe viria com mais força e cobriria toda a cidade.


Acreditou-se que o Recife passaria de “Veneza Americana” para “Nova Atlântida”, submersa e esquecida tal e qual a lendária cidade antiga mencionada por Platão. Instaurou-se o pânico generalizado e as pessoas corriam em desespero pelas ruas: uma cena dantesca que parecia antecipar o fim-do-mundo ou imitar o cinema catástrofe americano que estava em voga na época.


O boato foi desmentido e as enchentes foram contidas nos anos seguintes com a construção de barragens. E o rio-monstro permaneceu adormecido desde então.


Mas isso não quis dizer que o Capibaribe não tenha mais segredos a esconder. Na manhã chuvosa do dia 13 de julho de 2004, por exemplo, uma multidão se aglomerou nas mediações da ponte Maurício de Nassau, no centro do Recife – mais precisamente na esquina da rua Martins de Barros com a rua 1º de Março. Todos queriam ver o conteúdo macabro do saco de plástico preto encontrado por um gari numa das margens do rio: sete crânios humanos!


Segundo testemunhas, o gari ficou muito assustado ao fazer a descoberta. E logo policiais militares, peritos do Instituto de Criminalística e soldados do Corpo de Bombeiros recolheram o saco e iniciaram as investigações. Os restos mortais foram “resgatados” e levados para o Instituto de Medicina Legal.


Ninguém soube explicar como as caveiras foram parar no local. Mas logo os populares começaram a especular: “magia negra”, “restos de um antigo crime”, “brincadeira de mau gosto”. A verdade sobre essa ocorrência macabra nunca foi revelada.
 
 
 
 

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