Agora, GNR e Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) desvalorizam o caso, enquanto a população diz estar proibida de falar sobre o assunto. Mas a apreensão é evidente entre os moradores, que garantem que as marcas deixadas pelo felino são provas inequívocas de que "algo de estranho se passa".
"Vêm dizer que é um cavalo ou um cão. Pensam que somos parvos e não sabemos o que os animais são ou não capazes de fazer? Não conseguem enganar-nos", garantiu ontem, em jeito de desabafo, um morador, agastado com atentativa das autoridades de tranquilizar a população.
"Mandam-nos sair dos campos porque havia muito perigo, avisam-nos para termos cuidado à noite e com as crianças e agora, que ainda não encontraram nada, vêm dizer que não há perigo", disse outra habitante. "Estamos proibidos, por eles, de falar", repetiu a mulher.
Na madrugada de ontem as operações de busca da GNR e do ICNB mobilizaram muitos elementos, que apenas conseguiram encontrar um javali. Ainda foram disparados dois tiros, ao que apurámos na direcção do animal, mas o aparato desmobilizou ao início da manhã.
O povo está assustado, mas as autoridades no terreno vão deixar as vigias nocturnas – após duas tentativas frustadas. Amanhã serão colocadas armadilhas – tipo alçapão de caixa – sendo que a área florestal será interditada para se evitar acidentes.
Apesar da tentativa das autoridades em minimizar o caso, o sargento-chefe José Reis, do SEPNA de Matosinhos, confirmou que as buscas com homens armados, durante a madrugada de ontem, visavam localizar e capturar "um felino de grande porte".
"É DIFÍCIL PERCEBER O QUE PROCURAM": João Loureiro Responsável pela fiscalização do ICNB
Correio da Manhã – Pode descartar a cem por cento a possibilidade de ser um felino?
João Loureiro – Não posso afirmar com certeza absoluta que não é. Mas também pensamos que, como os primeiros relatos são do princípio do ano, se o animal tivesse de se manifestar com perigosidade já o teria feito. De grande porte não será com certeza.
– Pode tratar-se de um lince?
– É uma hipótese, mas apenas uma suposição. Como ainda ninguém viu nada, é difícil percebermos do que estamos à procura.
– Mas já avistaram algum animal suspeito?
– Apenas cães vadios. Até agora, apesar dos relatos e das marcas no terreno, não há mais nenhum indício.
– Mas as pegadas e as marcas nas árvores parecem ser de um animal maior do que um cão.
– As marcas não se coadunam com a de um felino porque as pegadas podem ser de um cão grande e as marcas nas árvores são contraditórias porque muitas delas são cruzadas e não de cima para baixo, como seria natural se estivesse a afiar as unhas .
– Estas situações são frequentes?
– Em dois anos tivemos quatro situações destas. Uma das quais o alerta de um felino solto entre Famalicão e a Maia. Apesar de não dizer que seja este o caso, a maior parte das vezes são falsos alarmes.
– Não se justificaria ter medidas de segurança mais rigorosas?
– Já foram feitas duas batidas nocturnas, que de nada adiantaram.O que vamos fazer agora é colocar umas armadilhas para tentar caçar o animal.
TIGRES À SOLTA NA AZAMBUJA
Ao longo dos anos têm sido vários os casos de felinos à solta a levar o pânico às populações. O mais recente ocorreu a 30 de Janeiro, quando dois tigres conseguiram fugir de uma viatura do Circo Chen, na Azambuja, distrito de Lisboa.
A fuga mobilizou dezenas de pessoas numa busca, entre funcionários do circo, GNR, bombeiros, Protecção Civil, Instituto de Conservação da Natureza e Jardim Zoológico de Lisboa. A busca demorou cinco horas – com a EN3, entre a Azambuja e o Cartaxo – fechada por segurança. Um dos felino, um macho, foi capturado sem grandes dificuldades, mas o outro, uma fêmea, só foi recolhida após ter sido alvejada com um dardo tranquilizante.
Um caso similar ao ocorrido em S. Pedro de Fins verificou-se em Rio Maior, no ano de 1973. Relatos de testemunhas indicavam que um leão andava à solta na zona, mas nenhuma imagem do felino chegou a ser capturada pelas câmaras, num caso que ficou célebre.
BUSCAS À NOITE
SEGUNDA TENTATIVA
Na madrugada de ontem o ‘CM’ acompanhou a segunda tentativa de apanhar o felino, que teve resultados nulos.
TREZE HOMENS
Os treze homens do SEPNAe do ICNB bateram três campos agrícolas e florestais numa área de cinco quilómetros. Havia a suspeita de que o felino pudesse andar por vários locais.
TIROS
Foram ouvidos vários disparos mas só dois na direcção de um javali que estava ao pé do ribeiro, onde se suspeita que o felino beba água.
VIGIA
A entrada da leitaria e junto ao ribeiro foram os locais mais vigiados pelas autoridades.
Fonte: Correio da Manhã
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