Isis Nóbile Diniz
Conforme a ciência e tecnologia avançam, mais as pessoas buscam solucionar os enigmas da humanidade. Um deles, que permeia a imaginação de nove em cada dez pessoas no mundo, chama-se: Atlântida. Mais de dois terços do planeta Terra são cobertos por água. Seria verdade que, em algum lugar dessa vastidão de oceanos, estaria submersa a cidade tão sonhada?
Segundo a lenda, Atlântida teria existido há mais de dez mil anos. Era uma ilha ou um continente habitado por uma civilização cientificamente avançada descendente de Posêidon, o deus do mar. O lugar era belo e repleto de riquezas. Seus habitantes teriam dominado terras europeias e africanas, mas foram derrotados. Assim, a civilização entrou em decadência provocando a ira dos deuses que afundaram, literalmente, a cidade.
Para comprovar a veracidade da história, pesquisadores vasculham os mares. Nos últimos anos, surgiram algumas hipóteses. O cartógrafo inglês Jim Allen afirmou que a Atlântida estava situada à oeste da Bolívia. Na extremidade sudoeste do Japão, o geólogo marinho Masaaki Kimura identificou ruínas de uma cidade. O norte-americano Robert Sarmast teve certeza de que Chipre é o cume da cidade e que as demais partes estão submersas. Historiadores afirmam que ela estaria próxima à Antártida ou seria uma das civilizações antigas, como a egípcia. Ainda há aqueles que acreditam no continente Mu, sumido no Oceano Pacífico.
Algumas ruínas, como a japonesa, foram realmente encontradas. Porém comprovar, cientificamente, que são da Atlântida ainda é complicado. Hoje o que resta, com certeza, são as palavras do filósofo grego Platão. Possivelmente, foi ele quem inventou a Atlântida. No livro “Timeu e Crítias, ou Atlântida”, de 215 páginas, o pensador fala de um continente perdido sob as águas do Atlântico – por isso o nome. De acordo com a obra, a cidade foi fundada por uma raça dos extintos Gigantes, representada na lenda pelo deus Atlas, aquele que sustentava o mundo nas costas.
Aliás, a literatura sobre o tema é vasta. O autor do livro “As Portas da Atlântida”, Guy Tarade, acredita que Platão estava relatando um fato. Charles Berlitz, na obra “O Mistério da Atlântida” faz um paralelo com o Triângulo das Bermudas. José Alvarez Lopez, que escreveu “A Reconstrução da Atlântida”, explora a vida humana na Era Glacial. Recentemente, o historiador francês Pierre Vidal-Naquet, no “Atlântida - Pequena História de um Mito Platônico”, fala das origens do mito e seus desdobramentos na antiguidade greco-romana e bizantina, Renascença e Idade Moderna.
“Platão não estava interessado em descrever historicamente o que ocorreu, ele usava metáforas para transmitir mensagens”, explica Pedro Paulo Abreu Funari, arqueólogo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na época, as pessoas sabiam que terremotos, erupções e tsunamis poderiam devastar ilhas ou regiões costeiras. O filósofo pode ter se inspirado em alguma catástrofe verdadeira para escrever o livro. “Como na região grega existem vulcões, atualmente, pesquisadores especulam que algumas áreas foram abandonadas após afetadas ou destruídas por esses fenômenos naturais”, diz.
Naquele tempo, os gregos sabiam pouco sobre o que ocorria após o Estreito de Gibraltar – localizado onde a Europa quase encontra a África. Além disso, uma ilha representa o local ideal e isolado. Por ambos os motivos que, provavelmente, o autor situou a cidade no Oceano Atlântico. Inclusive, os gregos sabiam que a água poderia destruir. Mas como o conhecimento científico era limitado, eles explicavam os acontecimentos de maneira mitológica.
Acontece que, com a difusão do cristianismo, a história de Platão foi interpretada de outra maneira. “As pessoas passaram a acreditar na possibilidade de ter existido uma civilização que, por seu comportamento, foi destruída”, afirma Funari. Como as cidades Sodoma e Gomorra que, por serem pecaminosas, teriam sido extinguidas por Deus. “Mas a história das duas cidades citadas na Bíblia eram desconhecidas para Platão”, diz o pesquisador.
Porque o tema é popular
O objetivo de Platão era refletir sobre como uma sociedade funciona e como deve ser. “Pretendia debater como seria o governo perfeito, o que é moral, ética e o certo e o errado”, afirma Funari. A partir do século XVI, com a instituição dos reinos, as pessoas passaram a pensar sobre o assunto e,novamente, o livro do grego foi revistado. Mesmo porque, antes, nem todos os europeus sabiam ler e, a maioria, apenas consultava a Bíblia.
Mas também existe outra vertente para a história sobre a civilização inteligente e perdida ter se tornado tão popular. A partir do século XII, as pessoas imaginavam que haviam ilhas paradisíacas ou demoníacas no Oceano Atlântico. “Inclusive, uma descrita em mapas do século XII se chamava Brasil, significando 'terra do ocidente' ou 'terra perfeita'”, revela o arqueólogo. Em seguida, os europeus chegaram na América. “O próprio Colombo tinha essa ideia de 'eldorado' ou um 'paraíso na Terra'”, conta.
Atualmente, os estudiosos sabem que muitas ilhas vulcânicas no Oceano Pacífico foram submersas, houve o Período da Glaciação, inúmeras culturas fazem referência ao dilúvio descrito na Bíblia – inclusive indígenas brasileiras -, o mar do Caribe é relativamente raso e durante a Guerra Fria muitos “mistérios” - como a dúvida se o homem chegou mesmo à Lua - ficaram “no ar”. Para saber onde está a cidade, os pesquisadores buscam ângulos retos nas águas por acreditarem impossíveis de serem esculpidos pela natureza. É certo que apenas anos de pesquisa mostrarão, ou apagarão de vez, os rastros da idealizada e perdida Atlântida.
Fonte: IG
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