Quem der de cara com o anfíbio abaixo pode até pensar, por alguns instantes, que viu um dragão em miniatura.
A cor vermelho-brasa é tão marcante que rendeu à perereca o apelido de "chama" -- ou, em latim, Gastrotheca flamma, para ser mais exato.
O bichinho, natural de uma área da Bahia onde a Mata Atlântica se encontra com a caatinga, acaba de ser descrito oficialmente por dois pesquisadores brasileiros.
Os detalhes da descoberta estão em artigo na revista científica "Zootaxa", especializada em biodiversidade.
A "perereca de fogo" foi encontrada na serra da Jibóia (município de Santa Terezinha) por Flora Acuña Juncá, da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), e teve sua anatomia estudada em detalhes pelo doutorando em zoologia Ivan Nunes, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As razões para o "disfarce de dragão" do bichinho de 5,5 cm ainda não estão claros, contou Nunes ao G1. "A gente tem apenas um exemplar [uma fêmea], o bicho é raro em coleções", diz ele.
"Todo anfíbio tem algum tipo de toxina na pele, e os de cor mais forte normalmente são mais venenosos. Mas também há bichos muito coloridos que apenas simulam o veneno, sem tê-lo de verdade. Ainda não dá para dizer qual é o caso desse bicho."
Segundo o especialista, outra dificuldade de estudar o bicho é o fato de ele viver no dossel, o "andar de cima" das florestas.
Só é possível capturar indivíduos para estudo nas raras vezes em que eles descem e se tornam mais visíveis para os pesquisadores.
No caso da "perereca de fogo", esse habitat é uma caatinga bem mais arborizada que a média, ainda com forte influência da Mata Atlântica, ecossistema onde se encontram as outras seis espécies do gênero Gastrotheca no Brasil.
Peculiaridades
Duas coisas um tanto misteriosas cercam as pererecas Gastrotheca. O primeiro é justamente o fato de existirem sete espécies "perdidas" na Mata Atlântica, quando há dezenas de outras... nos Andes, a quase 1.500 km de distância.
"O que se imagina é que havia uma ligação entre a Amazônia e a Mata Atlântica, permitindo que as espécies chegassem até aqui", explica Nunes.
O outro detalhe esquisito é a presença de uma bolsa, que lembra a dos cangurus, nas costas das fêmeas.
Os ovos são carregados ali dentro até completar seu desenvolvimento, um cuidado com a prole incomum entre anfíbios.
Aliás, o nome Gastrotheca (bolsa no estômago, em grego latinizado) é um erro, já que o marsúpio fica nas costas. "A gente brinca que ela deveria se chamar Dorsotheca", diz Nunes.
Fonte: G1
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