Ídolos de pedra coletados nos últimos dois anos em um sítio arqueológico em Cuba foram manufaturados com material exótico importado pelas elites indígenas, de acordo com pesquisadores americanos e cubanos que anunciaram recentemente suas descobertas.
As relíquias, combinadas a novas traduções dos "jornais" do século 16 da colônia espanhola, ajudam a constituir uma imagem das populações indígenas que Cristóvão Colombo encontrou durante sua primeira viagem ao Novo Mundo em 1492.
Nos últimos anos, arqueólogos têm mapeado o tamanho e localização das áreas residenciais do sítio El Chorro de Maita com a esperança de entender como o povo indígena arawak de Cuba foi afetado pela conquista espanhola, disse Jim Knight, arqueólogo da Universidade do Alabama que supervisiona o sítio.
Ídolos de pedra: um símbolo de status
Durante o mapeamento, Knight e seus colegas se depararam com milhares de cerâmicas e artefatos de pedra, incluindo os pequenos ídolos de pedra.
"Eles pegavam rochas metamórficas exóticas de grãos finos e gradualmente as reduziam a formas que parecem bem grosseiras, mas nas quais se percebe que o produto intencionado era um ídolo," disse Knight, cujo trabalho é parcialmente financiado pelo Comitê de Pesquisa e Exploração da National Geographic Society.
"Sabemos agora que a sociedade tinha uma elite e que os ídolos rústicos eram feitos para ela," disse, acrescentado que os ídolos eram figuras humanóides representando deuses e provavelmente usados em colares.
As origens das rochas incomuns são desconhecidas, mas provavelmente foram importadas, disse Knight. Colombo desembarcou no nordeste de Cuba, onde, segundo pesquisadores, provavelmente encontrou índios arawak.
Knight disse que não existem evidências de que Colombo tenha visitado El Chorro de Maita, mas o pesquisador tem certeza de que a área era ocupada pelos arawak, que se organizavam em tribos.
Eles eram um povo agricultor, que cultivava tubérculos ao invés de milho, mas existe pouca informação sobre nomes e locais de tribos, disse Knight.
Tradução das "notícias"
Para complementar as descobertas em El Chorro, os pesquisadores estão utilizando documentos históricos - como materiais manuscritos pelos colonizadores espanhóis de Cuba.
Os documentos estão escritos em uma forma quase irreconhecível do espanhol que poucas pessoas atualmente entendem, disse Knight.
Mas são ricos em informação, acrescenta. Um documento do século 16, por exemplo, oferece um inventário detalhado das primeiras ocupações dos colonizadores espanhóis.
John Worth, professor assistente de antropologia da Universidade de West Florida, está analisando os documentos na Espanha.
"Estou tentando selecionar os detalhes de como tudo isso aconteceu," disse Worth. "As fontes são excelentes com respeito ao quadro geral do que se passava nos séculos 16, 17 e adiante, mas em geral não são específicas o suficiente para concentrar atenção no sítio Chorro em particular."
Pós-conquista
Worth espera que os antigos documentos dêem pistas de quanto tempo a cultura dos arawak sobreviveu após a conquista.
"Por enquanto existe muita coisa que não sabemos, como os nomes exatos dos povos que viveram próximos a Chorro," disse Worth.
"Queremos saber se havia populações puramente indígenas em oposição a espanhóis puros ou se houve espaço para miscigenação durante esse período inicial."
Os pesquisadores também querem saber se os indígenas cubanos foram extintos sem descendentes ou se ocorreu um processo gradual, com grupos nativos conseguindo uma autonomia que acabou resultando numa mestiçagem, disse Worth.
"Enquanto viviam aqui, por exemplo, trabalhavam nas plantações espanholas? Eles morreram ou foram assimilados?"
Os documentos mencionam "encomiendas" - o sistema de trabalho colonial imposto pela coroa espanhola durante a época de conquistas. E Worth já encontrou referências sobre chefes específicos.
"Se possível, gostaria de poder identificar os nomes originais dos grupos que viveram nas vizinhanças de El Chorro de Maita e então descobrir precisamente onde cada tribo poderia ter vivido," disse.
"Esse projeto é um exemplo de como a integração de pesquisas históricas e arqueológicas permite perspectivas mais equilibradas sobre o contato entre europeus e comunidades indígenas do Caribe," disse Marcos Martinon-Torres, pesquisador do Instituto de Arqueologia da Universidade College London que não participou do estudo.
"Ao invés de usar apenas textos europeus potencialmente enviesados, a combinação de fontes permite mais nuances na representação tanto de europeus quanto de povos indígenas."
Colonizadores espanhóis
Dennis Blanton, curador de arqueologia nativo-americana do Museu Fernbank de História Natural em Atlanta, Geórgia, não fez parte das escavações em Cuba.
Blanton disse que o trabalho dá uma oportunidade para realizar estudos comparativos sobre o cruzamento de culturas em sociedades tribais nativas de Cuba e de outros lugares do mundo, inclusive o leste dos Estados Unidos.
O trabalho também proporciona mais conhecimento a respeito da atividade espanhola nos séculos 16 e 17 no Novo Mundo, disse Blanton.
"Estamos curiosos para entender como as políticas espanholas mudaram com o tempo," disse. "Esse trabalho é uma oportunidade maravilhosa para descobrirmos como eles agiam em meio aos povos nativos logo no início.
Esse é provavelmente um olhar sem precedentes do 'capítulo um' dos encontros espanhóis."
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