Imagine que os homens são de Marte, as mulheres são de Vênus e as crianças, de Saturno. Agora imagine um animal que seja dos três planetas ao mesmo tempo.
É o peixe-baleia (whalefish), um dos maiores enigmas para os biólogos marinhos, agora decifrado por cientistas americanos, australianos e japoneses.
Há muito a ciência quebrava a cabeça para descobrir um pouco mais sobre três espécies de peixes de grandes profundidades. Uma delas era composta só por machos, outra só por fêmeas e a terceira, apenas por filhotes.
Agora, os cientistas sabem que todas pertencem a uma só espécie: o peixe-baleia. Com a descoberta, os cientistas terão de mudar toda a taxonomia - ciência que classifica os seres vivos - do peixe, que pertence à família dos cetomimidae e agora está entre os animais que mais se transformam ao longo da vida.
O peixe-baleia é conhecido desde o século 19, mas pescadores e pesquisadores só haviam visto exemplares do sexo feminino. No caso dos peixes-narigudos (bignose fish), os animais encontrados eram todos machos.
E os peixes-rabo-de-fita (tapetail fish) eram só filhotes, que ainda não haviam desenvolvido totalmente sua estrutura reprodutiva.
O animal é mesmo muito exótico: os machos adultos não possuem estômago nem esôfago e vivem da energia armazenada em seu fígado, retirada dos pequenos seres marinhos que lhe serviram de alimento nas fases de larva e filhote.
As diferenças entre os três "tipos" de peixe-baleia eram tão grandes que, na classificação científica, foram postos até mesmo em famílias diferentes. Até que o geneticista Masaki Miya, do Museu e Instituto de História Natural de Chiba, no Japão, percebeu uma incompreensível similaridade de DNA entre eles.
Miya entrou em contato com John Paxton, do Museu Australiano, em Sidnei, e contou suas descobertas. Junto com Dave Johnson, do Smithsonian Institut, nos EUA, passaram a analisar a genética e morfologia dos animais e comprovaram que eram da mesma espécie.
Como os cientistas conheciam apenas a fêmea do peixe-baleia, havia ainda um ponto nebuloso na história: eles não sabiam como era a larva desse animal?
A resposta foi dada pela pesquisadora Tracey Sutton, do Instituto de Ciências Marinhas da Virgínia, nos EUA, que descobriu a larva.
Segundo a edição desta segunda-feira (22) da revista especializada Biology Letters, o animal “é o exemplo mais extremo de metamorfose e dismorfismo sexual (diferença entre machos e fêmeas) já documentado em vertebrados”.
A percepção de que os três peixes faziam parte da mesma espécie demorou porque se trata de animais que vivem abaixo de mil metros de profundidade - coletá-los é caro e difícil. Outra dificuldade se dava porque muitos dos espécimes estavam preservados em formolina, que degrada o DNA dos animais.
Fonte: Época
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