quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Escavação acha registro mais antigo de vida animal na Terra

Esponjas que existiam há mais de 630 milhões de anos eram do mesmo grupo destas gigantes modernas (Foto: Reprodução)



Moléculas mostram presença de esponjas há mais de 635 milhões de anos. Achado sugere que evolução dos animais teve começo 'lento e gradual'.

No princípio era a esponja. Bem, não exatamente no princípio, mas pelo menos há mais de 635 milhões de anos, quando a vida animal começava a evoluir nos oceanos do nosso planeta, e as esponjas, invertebrados muito simples que mais parecem plantas, já se agarravam ao leito marinho.

Usando técnicas químicas engenhosas, pesquisadores dos Estados Unidos, da Austrália e do Reino Unido dizem ter comprovado a presença dos bichos nessa época remota. O achado tem potencial para fazer recuar a origem dos animais em até 100 milhões de anos.

O que, aliás, é bastante tranquilizador para os estudiosos da evolução, porque havia uma certa incongruência entre os fósseis, as análises de DNA e as datas estimadas para a origem dos animais.

Para todos os efeitos, até pouco tempo atrás o nosso grupo de seres vivos parecia ter surgido "de repente" há cerca de 600 milhões de anos.

Problema número 1: em tese, nada tão complexo quanto os primeiros animais poderia aparecer sem um tempo considerável de evolução prévia.

Problema número 2: as estimativas feitas com a ajuda do DNA dizem que, de fato, os animais são bem mais antigos do que isso.

O coordenador do novo estudo sobre as esponjas, Gordon D. Love, da Universidade da Califórnia em Riverside e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), diz que seu trabalho traz evidências sólidas da antiguidade dos animais.

"Nossas datas ficam, sem margem para incerteza, entre 635 milhões e 750 milhões de anos", declarou ele ao G1 por e-mail.

Paradoxalmente, apesar do alto grau de confiabilidade da análise, o número total de esponjas fósseis que a equipe encontrou foi... zero.

A descoberta foi totalmente indireta. As rochas estudadas por Love e companhia em Omã, no sul da Arábia, estão empapadas com moléculas orgânicas, derivadas dos seres vivos (a maioria de uma só célula) que existiam durante a era glacial que afetava o planeta naquela época.

Foi graças a essas moléculas que eles conseguiram detectar as esponjas no local. O truque para garantir a precisão das datações foi usar pedaços insolúveis e "duros" de matéria orgânica nos sedimentos.

Dessa forma, eles não poderiam migrar ao longo das camadas de rocha, o que significa que correspondem mesmo à época indicada pelos estratos rochosos.

Parece maluco que substâncias de seres vivos resistam por tanto tempo, mas o fenômeno não é tão incomum assim, de acordo com Love.

"Os lipídios [moléculas de gordura] são recalcitrantes [resistentes à degração] ao longo das centenas de milhões de anos do tempo geológico, mas sobrevivem melhor e em abundância quando há muita produtividade primária [produção de biomassa] e quando o oxigênio não é muito abundante em águas profundas. Já o DNA e as proteínas normalmente se degradam após alguns milhões de anos", diz ele.


Colesterol


De todos os lipídios, o que acabou sendo mais interessante para a análise foi o que recebe o indigesto nome de 24-isopropilcolestano, uma forma alterada do 24-isopropilcolesterol. Colesterol?

Sim, você ouviu direito: trata-se de uma molécula aparentada à que existe no organismo humano, provavelmente com a mesma origem evolutiva.

"Essa família de moléculas é encontrada na membrana das células das esponjas", explica Love. O detalhe é que o 24-isopropilcolesterol seria exclusivo de um subgrupo de esponjas, o que comprovaria a existência delas naquele período remoto.

Em artigo opinativo na britânica "Nature", mesma revista científica onde os resultados foram publicados, Jochen Brocks, da Universidade Nacional Australiana, e Nicholas J. Butterfield, da Universidade de Cambridge, aplaudem as descobertas, mas lançam dúvidas justamente sobre a identificação dos produtores das moléculas.

Para eles, é concebível que seres mais primitivos, talvez até unicelulares, tenham "iniciado" a produção de 24-isopropilcolesterol, característica depois herdada pelas esponjas "descendentes". Nesse caso, não daria para dizer que a vida animal realmente começou há 700 milhões de anos.

Love rebate: "Décadas de estudos cuidadosos com micróbios e metazoários [animais] nos dizem que essas substâncias só são abundantes nas demoesponjas [subgrupo das esponjas]. Todos os subgrupos delas os possuem em abundância.

Além disso, a abundância das moléculas só ocorre justamente numa janela relativamente estreita de tempo na qual, segundo dados fósseis e de DNA, as esponjas deveriam aparecer.

Então, colocando tudo isso junto, nossa interpretação é a única razoável no momento". É esperar para ver quem se sai melhor no debate.


Fonte: G1

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