segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pesquisa contraria teoria sobre domesticação de cachorros


Pouca gente opta por passar a lua-de-mel apanhando cachorros de rua e recolhendo amostras de seu sangue em diversas regiões da África.

Mas Ryan e Corin Boyko, dois antropólogos da Universidade da Califórnia em Davis, escolheram essa maneira de recolher valiosos dados genéticos, os resultados de seu trabalho estão lançando uma nova luz sobre o processo de domesticação de cachorros.

A oportunidade de combinar amor e ciência surgiu quando Adam Boyko, irmão de Ryan e biólogo na Universidade Cornell, estava discutindo genética canina com seu professor, Carlos Bustamante.

Bustamente, que acabava de retornar de uma visita à Venezuela, havia comentado como os cachorros de rua que havia visto no país eram pequenos.

Os dois pesquisadores começaram a imaginar se os cachorros eram portadores de um gene recentemente descoberto que propeliu a redução de tamanho entre eles, em relação aos lobos originais, e é encontrado nas raças caninas menores.

Bustamante disse que a ideia deveria ser explorada por meio da coleta de amostras biológicas de cães de rua em toda a América do Sul.

Boyko, que sabia que seu irmão planejava passar a lua-de-mel na África mas não tinha muito dinheiro, propôs que a pesquisa fosse realizada na África. "Paguei por metade da viagem de lua-de-mel deles", disse Bustamante.

Ryan e Corin Boyko recolheram 223 amostras de sangue de cães de rua no Egito, Uganda e Namíbia.

A questão do gene do tamanho ainda não foi avaliada, mas as amostras, reportadas em estudo publicado na mais recente edição da Proceedings of the National Academy of Sciences, colocam em questão uma hipótese sobre a origem da domesticação de cães, a partir dos lobos.

Acredita-se que o processo tenha começado no leste da Ásia, de acordo com uma pesquisa conduzida em 2002 entre cães de rua e cães de raça.

Mas a maioria dos cães de rua do estudo provinham do leste asiático, o que poderia ter distorcido o resultado.

Os cães de rua africanos apresentam a mesma proporção de diversidade genética que foi constatada entre os asiáticos, o que é intrigante porque a origem de uma espécie é usualmente também a fonte de sua maior diversidade genética.

Os Boyko e Bustamante não acreditam que os cães tenham sido domesticados na África - não existem lobos na África hoje, excetuado o lobo da Etiópia -, mas afirmam que a origem dos cães domésticos talvez não seja o leste da Ásia.

A questão pode ser dirimida de maneira mais prática, acreditam, pela concentração no estudo de cães de rua, com a exclusão de raças europeias, a maioria das quais de origem recente.



O grupo está recolhendo amostras de cães de rua em todo o mundo - Ryan e Corin Boyko estão trabalhando na Nova Guiné, no momento -, na esperança de traçar não apenas o lugar ou lugares nos quais os cachorros foram domesticados inicialmente mas também os percursos que eles realizaram através do mundo com seus mestres, posteriormente.

A ausência de uma diversidade genética elevada entre os cães de rua africanos e do leste da Ásia pode significar que, depois de domesticados, os cães se espalharam rapidamente, de seu ponto de origem.

Outra possível explicação, segundo Boyko, é que se tenham originado de um ponto a meio do caminho entre as duas regiões, como as montanhas do Cáucaso.

Robert Wayne, biólogo na Universidade da Califórnia em Los Angeles, diz que o novo estudo "causa problemas" à tese de que os cachorros evoluíram no leste da Ásia.

Mas eles tampouco poderiam ter evoluído na África subsaariana, onde não existem lobos, e por isso "devem ter evoluído em alguma outra parte, possivelmente o Oriente Médio", afirma.

A solução quanto à origem dos cachorros virá do estudo de amostras de lobos e cães de rua de todo o mundo, diz Wayne.

Um chip de varredura genética semelhante aos desenvolvidos para estudo do genoma humano foi desenvolvido para os cachorros.

Wayne, em cooperação com Boyko e outros cientistas, usou o chip para estudar o genoma dos lobos. Ele disse que o grupo está trabalhando em um relatório que pode resolver o atual dilema sobre a origem dos cães domésticos.


Fonte: Terra

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