quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Prince Hall

Os maçons negros chegaram ao poder nos EUA?

Carlos Nobre



Durante a campanha eleitoral, alguns fotógrafos mais atentos flagraram o candidato à presidência dos EUA, Barack Obama, fazendo sinais com a mão esquerda enquanto discursava. Parecia querer se comunicar com "outro público". O gesto foi logo decodificado: era maçônico.

George Bush pai e filho, Jimmy Carter, Gerald Ford e outros ex-presidentes dos EUA já tinham feito sinais idênticos aos de Obama em público. Portanto, eles também são da "família maçônica".

Com relação a Obama, após investigação dos jornalistas, o público ficou sabendo que ele é membro da "Prince Hall", a poderosa maçonaria negra norte-americana, que se espalha pelo mundo em busca de adeptos de "bons costumes".


Prince Hall -associação entre Obama e Prince - divulgação


A "Prince Hall" existe há mais de 200 anos nos EUA. Apesar do boicote de outras organizações secretas, cresceu independente, se enfraqueceu em alguns momentos históricos e ganhou plenitude nos anos 1960 em diante. Hoje, ela tem mais 300.000 membros em cinco continentes.

O "gesto" de Obama foi muito comentado nos bastidores da mídia. Os jornalistas blogueiros logo acionaram suas fontes. Sem demora, mais uma informação "maçônica" era descoberta: Obama estaria no grau 32 do Rito Escocês Antigo e Aceito da "Prince Hall".

Ou seja: faltava apenas mais um grau na hierarquia da irmandade para ele chegar ao status mais elevado da arte dos pedreiros livres - como também são chamados os maçons -e assim consagrar-se como "black mason"de carreira ímpar entre seus pares.

Obama não é o único negro famoso dos EUA a pertencer a "Prince Hall". Ele é "irmão" do pastor Jesse Jackson - com quem se desentendeu durante a campanha -, de Louis Farakhan, líder da Nação do Islã e do ex-jogador de basquete Scottie Pipen, todos "black mason".

No passado, também o foram o pastor Martin Luther King, o ator Sammy Davis Jr., o músico Louis Armstrong e o filósofo W.E.B. Dubois, pai do pan-africanismo do início do século XX.

No Brasil, foram também maçons afro o compositor Luiz Gonzaga, o sambista Donga, o compositor Lamartine Babo e o músico erudito Carlos Gomes, sem contar o trio abolicionista de peso formado por Luiz Gama, André Rebouças e José do Patrocínio.

Assim que se instalar na Casa Branca como Presidente dos EUA, após a posse de 20 de janeiro próximo, Obama vai se sentir à vontade em Washington, D.C., a capital do império norte-americano.

Para se ter uma idéia: Washington é a cidade dos maçons. Ela foi planejada e construída por eles. Em tudo quanto é lugar da capital norte-americana existem símbolos maçônicos. Nenhum prédio ou monumento de Washington está instalado à toa. Todos têm conexão com a filosofia maçônica.


As duas maçonarias


Prince Hall -predio da PH em Maryland - divulgação


Nos EUA, existem as maçonarias de homens brancos e negros, separadas como sempre. No entanto, pululam sinais de entendimento entre as duas sociedades secretas que vêm se aproximando gradativamente.

Parte da maçonaria branca já reconhece a negra como "irmã". Em algumas cerimônias públicas, já se podem ver maçons de ambos lados em atitudes amistosas.


Prince Hall - maçons negros - divulgação


Quer queira ou não: a "Prince Hall" é uma potência nos EUA e fora deles. Ela tem 4.491 lojas espalhadas pelo mundo - 80% delas são norte-americanas - e cerca 45 Grandes Lojas, que organizam as lojas em federações autônomas.

Segundo a mídia política norte-americana, a "Prince Hall" tem se expandido para África, Alemanha, Islândia, Kwuait, Turquia, Corea, Japão e Filipinas. A revista negra maçônica " Phylaxid Magazine" faz sempre referências orgulhosas a esta expansão fora da pátria original da "Prince Hall".


Prince Hall - maçons negros - divulgação


Nos Estados Unidos, os altos dirigentes da "Prince Hall" amenizaram as regras de acesso: estão iniciando agora aos mistérios maçônicos hispânicos, asiáticos e outras etnias não caucasianas em suas lojas, tradicionalmente de descendentes de africanos.


O papel de Prince Hall



A maçonaria negra norte-americana é denominada "Prince Hall" em homenagem ao seu fundador, o comerciante negro Prince Hall.

Ele teria nascido em 1735, possivelmente, em Barbados, na antiga Índias Ocidentais Britânicas, filho de pai inglês e mãe negra francesa, também livre da escravidão.


Prince Hall - arquivo


Existe, porém, uma corrente histórica que especula que Prince Hall teria nascido, na verdade, na África, e depois se estabelecido nos EUA.

Outro grupo de historiadores maçônicos sustenta que ele nasceu mesmo em Boston, segundo William Dálbio de Almeida Carvalho em Maçonaria negra (A Trolha, Londrina, 1999).

O pai do fundador da maçonaria norte-americana teria sido Thomas Hall, um inglês comerciante de couro. Em sua vida nos EUA, Prince Hall teria sido trabalhador braçal, artesão de roupa, comerciante de couro e fornecedor de alimentos.


Prince Hall - símbolo


Prince Hall antes de tornar-se maçom teria pertencido ao exército ao revolucionário de George Washington que lutava contra os colonizadores ingleses.

Em 29 de setembro de 1784, ele foi iniciado na maçonaria juntamente com outros 14 negros livres da escravidão numa loja militar inglesa, em Boston, que obedecia ao comando, em termos de direitos maçônicos, à Grande Loja da Irlanda.


Prince Hall - símbolo


Alguns historiadores maçônicos, no entanto, dão outra data de iniciação, que teria ocorrido mais atrás, isto é, em 6 de março de 1775, na mesma loja.

Uma questão ainda não resolvida pelos historiadores maçônicos: porque os ingleses resolveram iniciar na maçonaria justamente os homens menos considerados na colônia, aqueles que executavam o trabalho escravo ?

O quê de fato contribuiu para que Prince Hall e seus 14 companheiros terem sido chamados para receberem tamanho privilégio , naquele momento histórico ?


O caminho das pedras



Prince Hall sentiu um impacto profundo com a iniciação na loja militar inglesa. Teria tido a chamada "abertura de olhos", onde passa a enxergar o mundo com forma diferente.

Ao conversar com os outros "irmãos" negros iniciados com ele, sentiu a necessidade de criar uma loja maçônica só para pretos, pois, embora não fossem escravos, as lojas fundadas por brancos norte-americanos não aceitavam negros, tendo a alegação racista como principal fator argumentativo.

Segundo alguns especialistas, Prince Hall e seus companheiros passaram sete anos sem ter os direitos maçônicos reconhecidos pela maçonaria caucasiana dos EUA, embora iniciados em loja regular e legal, obediente à Grande Loja de Londres.

Depois de muita luta e de driblar diversas barreiras montadas para impedir que os negros maçons evoluíssem, Prince Hall, em 29 de abril de 1787, conseguiu o warrant (a autorização ou carta constitutiva da loja) emitida pela Grande Loja de Londres para criar, em Boston, a Loja Africana no. 459.

Desse modo, em termos de direito maçônico, estava, por fim, criada talvez a primeira loja maçônica negra do mundo, sob comando de afrodescendentes.

A inauguração da loja ocorreu em 24 de junho de 1791. Prince Hall, neste momento, se instalara como Grão-Mestre.


O incêndio traumático



A inauguração da loja propiciou muita celebração entre os primeiros fundadores da maçonaria negra, que, sabiam, de antemão, que estavam entrando para a história do mundo afro norte-americano dali por diante.

Segundo Carvalho, a autorização de funcionamento da Loja Africana no. 459 dada pelos maçons brancos ingleses ficou chamuscada em 1869 devido a um estranho incêndio ocorrido na loja.

Mas o documento histórico fora salvo pela ação de um membro da loja que conseguiu recuperá-lo.

Na visão de Carvalho, muitos maçons negros daquela época ficaram com a pulga atrás da orelha com o sinistro e acreditavam que o incêndio teria sido provocado pela maçonaria caucasiana numa tentativa de destruição do mais valioso dos documentos da Loja Africana, que a tornava legal nos Estados Unidos.

Até hoje, passados 139 anos do episódio traumático, os historiadores maçônicos negros sempre se referem a ele, em inúmeros ensaios sobre a história do fundador da maçonaria negra nos Estados Unidos.

A referência serve para demonstrar o racismo persistente dos brancos, que não admitiam o acesso de afrodescendentes na conceituada sociedade secreta.

A maçonaria classicamente não estabelece cor como critério para ingresso em seus quadros. Naquela época, no entanto, por não ser livre, o escravo não era admitido na ordem maçônica.

A Grande Loja Unida da Inglaterra, no entanto, após a abolição da escravidão nas Índias Ocidentais pelo Parlamento Britânico, em 1 de setembro de 1847, mudou a expressão nascido livre para homem livre como requisito para ingresso nas lojas, ampliando assim o acesso às lojas de postulantes de qualquer cor.

Nos EUA, devido animosidade racial, até grandes maçons brancos norte-americanos tinham sido integrantes da Ku Klux Klan, a organização racista que retirava negros das fazendas para exterminá-los sob o argumento da manutenção da pureza racial.

No Brasil, no século XIX, donos de escravos, embora contrariando a filosofia maçônica tradicional, que via o homem e não a cor, foram iniciados na irmandade, ampliando mais ainda as contradições internas nas sociedades secretas então nascentes nas Américas.


As barreiras nas lojas "brancas"



Carvalho, em sua pesquisa sobre as origens dos pedreiros-livres norte-americanos, resgatou algumas preciosidades sobre as tensas relações raciais envolvendo as maçonarias negra e caucasiana nos EUA.

Neste sentido, recolheu importantes informações em documentos maçônicos, demonstrando o teor racial expresso neles pelos maçons brancos, em relação aos negros.


Vejamos, neste caso, alguns exemplos ilustrativos:

  1. Dos Procedimentos Normativos de 1852, da Grande Loja Iowa:
    " Exclusão de pessoas de raça negra está de acordo com a lei maçônica e as Antigas Obrigações e Regulamentos."
  2. Decisão do Grão-Mestre de 1924, da Grande Loja Louisiana:
    "Uma mistura de sangue branco e negro torna um homem inelegível para os Graus da Maçonaria".
  3. Procedimentos Normativos de 1890, da Grande Loja de Nova Iorque:
    "Iniciar negros em Loja pode quebrar a Fraternidade através do país".
  4. Constituição de 1915, seção 110, página 50, da Grande Loja de Carolina do Norte:
    " Um candidato tem que ser um homem branco nascido livre".
  5. Procedimentos Normativos de 1899, página 43, e Constituição da Grande Loja do Mississipi, edição de 1941:
    "Um maçom que discute Maçonaria com um Negro deve ser expelido de sua Loja".
  6. Procedimento Normativos para 1857 da Grande Loja de Ohio:
    " Admissão de pessoas de cor seria inconveniente e tende a estragar a harmonia da fraternidade".
  7. Procedimentos Normativos para 1890 da Grande Loja de Nova Iorque:
    " Iniciar Negros em Loja pode quebrar a Fraternidade através do país"
  8. Constituição e Leis de 1948, artigo XV, página 34, da Grande Loja do Texas:
    " Esta Grande Loja não reconhece como legal ou maçônico qualquer organização de Negros trabalhando sob qualquer Carta de Reconhecimento nos EEUU, sem acatar o organismo que outorgou tal Carta, considerando todas as Lojas de Negros como clandestinas, ilegais e não maçônicas, e além do mais julgam como altamente censurável o procedimento de qualquer Grande Loja nos EEUU que reconheça tais organismos Negros como Lojas Maçônicas".
  9. Procedimentos Normativos de 1867 da Grande Loja de Delaware:
    " Iniciação ou visitação de qualquer negro, mulato ou pessoa de cor nos Estados Unidos é proibido".
  10. Procedimentos Normativos de 1852 da Grande Loja de Illnois:
    " ...que esta Grande Loja se opõe totalmente à admissão de Negros ou mulatos nas Lojas sob sua jurisdição".


Fonte: Questões Negras

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