Os microscópios são ferramentas inestimáveis para identificar glóbulos sanguíneos e outras células em exames que procuram detectar como anemia, tuberculose e malária. Porém, os aparelhos podem ser também grandes e dispendiosos.
Agora, um engenheiro, usando software que ele mesmo desenvolveu e com cerca de US$ 10 em equipamento que pode ser comprado em qualquer lugar, adaptou celulares para um uso que pode substituir os microscópios.
"Convertemos celulares em aparelhos capazes de diagnosticar doenças", disse Aydogan Ozcan, professor assistente de engenharia elétrica e membro do Instituto de Nanossistemas da Universidade da Califórnia em Los Angeles, o criador dos aparelhos. Ele criou uma empresa, a Microskia, para comercializar a tecnologia.
Os celulares adaptados podem ser usados para exames em locais distantes de hospitais, laboratórios ou técnicos especializados, disse Ozcan.
Em um dos protótipos, uma lâmina que abriga uma gota de sangue tirada de um dedo pode ser inserida sobre o sensor de câmera do celular.
O sensor detecta o conteúdo da lâmina e envia a informação, sem fio, a um hospital ou centro regional de saúde.
Os celulares podem, por exemplo, detectar a forma assimétrica de glóbulos sanguíneos doentes ou outras células anormais, ou detectar uma elevação no número de glóbulos brancos, o que serve como sinal de infecção, ele disse.
Os aparelhos de Ozcan oferecem uma solução simples para um problema complexo, disse Ahmet Yildiz, professor assistente de física e biologia molecular e celular na Universidade da Califórnia em Berkeley.
"Trata-se de uma maneira barata de eliminar o microscópio e em lugar disso analisar imagens com a câmera de um celular básico", disse.
"Caso você esteja em algum lugar no qual obter um microscópio ou chegar a um centro médico seja difícil, é uma solução realmente inteligente".
Neven Karlovac, presidente-executivo da Microskia, em Los Angeles, disse que alguns dos produtos da empresa seriam adaptações de celulares comuns.
Para os celulares sem câmera ou compactos demais para modificar, a empresa tem projetos diferentes, entre os quais uma caixa com chip sensor que pode ser conectada a um celular ou laptop por meio de um cabo USB, disse.
"A ideia é comercializar essa plataforma de diagnóstico por imagem simples e de baixo custo, e aplicá-la a diversos produtos diferentes", disse Karlovac. O preço dos aparelhos ainda não foi determinado.
Os aparelhos de Ozcan são compactos em parte porque eliminaram o elemento central do microscópio - as lentes -, diz David Brady, professor de engenharia elétrica e da computação na Universidade Duke, e diretor de seu programa de imagens e espectroscopia.
"Não existe necessidade de lentes nesses aparelhos porque a ampliação pode ser realizada eletronicamente", disse. "Na verdade, não são necessários elementos ópticos".
Para esse sistema eletrônico de ampliação, diodos emissores de luz, um componente de baixo custo, são acrescidos ao celular básico e lançam sua luz sobre uma lâmina de amostra colocada sobre o chip de câmera do celular.
Algumas das ondas luminosas atingem as células suspensas na amostra, dispersando-as e interferindo com outras ondas luminosas.
"Quando as ondas interferem", disse Brady, "criam um padrão conhecido como holograma". O detector na câmera registra esse holograma, ou os padrões de interferência, como uma série de pixels.
Os hologramas oferecem muita informação. "Podemos aprender muito em questão de segundos", disse Ozcan. "Podemos processar a informação matematicamente e reconstruir imagens como as que se veria em um microscópio".
O sistema de Ozcan pode um dia resultar em forma rápida de processar amostras de sangue e outros materiais, disse Bahram Jalali, que trabalha com Física aplicada e é professor de engenharia elétrica na Universidade da Califórnia em Los Angeles.
"É potencialmente muito mais rápido que um microscópio", disse. "Não é necessário realizar uma varredura mecânica", como as pessoas precisam fazer com microscópios, cujo campo de visão é estreito.
"Em lugar disso, são registrados hologramas de todas as células da amostra, em modo digital e simultâneo", ele disse, de modo que se torna possível, por exemplo, ver imediatamente os patógenos presentes em meio a uma vasta população de células saudáveis. "É uma maneira de encontrar rapidamente a agulha no palheiro".
Os sistemas para celulares podem se provar especialmente úteis para exames de malária, disse Yvonne Brison, professor e chefe da divisão de doenças pediátricas infecciosas na David Geffen School of Medicine, também na Universidade da Califórnia em Los Angeles.
Ela colaborou com Ozcan em diversas pesquisas. "No momento, é necessário um microscópio e pessoal treinado", disse Bryson. "Mas o aparelho novo permitiria trabalho sem nenhuma das duas coisas, e em área remota".
M. Fatih Yanik, professor assistente de engenharia elétrica e ciência da computação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), disse que "isso torna possível que pessoas comuns recolham informações médicas em campo, usando apenas um celular adaptado com componentes baratos".
Fonte: Terra
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