quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Nasa tem planos ambiciosos para chegar à lua oceânica de Júpiter

Três das quatro luas de Júpiter fotografadas separadamente em 2007 pela espaçonave New Horizons (na montagem, da esquerda para a direita, estão Europa, Ganimedes e Calisto)


Agência planeja mandar um satélite orbital a Europa, como parte de um grupo de sondas internacionais programadas para explorar os arredores de Júpiter, que pode incluir até um pouso nesta intrigante lua.

por Kenneth Silber


Uma elaborada coreografia de espaçonaves vai se desenrolar na década de 2020 entre Júpiter e suas luas, descobertas por Galileu, se os planos atualmente em discussão na Nasa e em outras agências espaciais forem aprovados nos próximos anos.

O principal desses empreendimentos coordenados e colaborativos será a órbita de – e um possível pouso em – Europa, um mundo cientificamente intrigante onde evidências de um oceano sob sua crosta gelada apontam para um possível lar para vida extraterrestre.


Em fevereiro, a Nasa elegeu a viagem a Europa como prioridade na missão pioneira para os confins do sistema solar, deixando para depois uma proposta de viagem à lua Titã, de Saturno, sob a alegação de que chegar lá demandaria mais estudos e uma tecnologia mais avançada.

O plano geral, atualmente conhecido como Missão Sistema Europa Júpiter (EJSM, na sigla em inglês), inclui uma espaçonave da Nasa batizada de Orbitador Júpiter Europa (JEO), que entraria na órbita de Europa após uma passagem pelos arredores do planeta.

Uma sonda da Agência Espacial Europeia (ESA), lançada separadamente, focaria na maior lua, Ganimedes, enquanto uma nave japonesa monitoraria o campo magnético de Júpiter.


Uma possibilidade mais avançada – apesar de ainda estar no início das discussões – é que uma espaçonave russa lançada separadamente fosse enviada para pousar em Europa.

Essa sonda poderia ser programada para chegar logo após o JEO coletar dados sobre possíveis locais de pouso, com o alvo preciso do módulo de pouso a ser programado durante a viagem.


Um pouso “não é uma coisa fácil de conseguir, primeiro porque não conhecemos a superfície em detalhes”, argumenta Ronald Greeley, geólogo planetário da Arizona State University e corresponsável pela equipe de definição da NASA para a missão a Europa.

“Não sabemos o quanto o gelo é resistente, o quanto ele pode estar fragmentado ou como são as encostas.” Coletar essa informação é um objetivo primário da sonda planejada, tanto para uma possível nave russa como para módulos de pouso subseqüentes.


“Europa é um objeto fascinante”, diz Greeley. “É essencialmente um mundo rochoso como a nossa Lua, mas tem uma crosta de gelo de 160 quilômetros de espessura.

A superfície é congelada, e pode ser gelado até o fundo – o que não acreditamos. Achamos que seja uma casca de gelo relativamente fina, mas é isso que queremos descobrir.”

Ele aponta que no satélite pode haver o triplo da quantidade de água em estado líquido que existe na Terra.


A superfície é um ambiente extremamente hostil, como resultado da constante exposição aos campos de radiação de Júpiter.

A camada de gelo mais externa pode ter sido “esterilizada”, observa Karla Clark, gerente de estudos da Nasa para a missão a Europa. Assim, a busca por possíveis sinais de vida terá de ir mais fundo.


“Se houvesse um módulo de pouso, ou uma série deles”, ela diz, “o objetivo final seria chegar abaixo do gelo”.

A radiação de Júpiter também reduzirá a vida útil de qualquer módulo de pouso, assim como a do JEO, que poderá funcionar em órbita por apenas alguns meses, apesar da pesada proteção de seus componentes eletrônicos.


O JEO, com custo estimado de US$ 2,7 bilhões, precisa de aprovação do Congresso americano, que funcionários da Nasa esperam obter em um ou dois anos.

Da mesma forma, outras espaçonaves propostas no EJSM precisarão do aval de seus respectivos governos.


Pela programação provisória da Nasa, o JEO seria lançado em 2020, chegaria ao sistema de Júpiter em 2025 e começaria a orbitar Europa no ano seguinte.

A sonda também chegaria perto de outra lua jupteriana, Io, enquanto o aparato da ESA, batizado Laplace (homenagem ao matemático e astrônomo francês), investigaria Calisto e Ganimedes.

Ter três equipamentos em órbita (incluindo a nave japonesa) facilitaria uma pesquisa detalhada da magnetosfera de Júpiter.


Entre os benefícios de um módulo de pouso russo está o fato de que seus dados da superfície dariam o que os cientistas chamam de “informação de terreno” para calibrar as medições remotas da sonda.

Além disso, uma equipe de cientistas do Reino Unido propõe a inclusão, em uma das naves da Nasa ou da ESA, de um penetrador de cerca de meio metro de comprimento carregando uma pequena carga de aparatos científicos, que se destacaria e colidiria com a superfície de Europa ou Ganimedes.


Alguns cientistas veem a colaboração internacional no EJSM como um modelo para uma futura exploração espacial robotizada.

“Missões pioneiras são muito caras. Se pudermos começar a colaborar internacionalmente, isso certamente levará a um aperfeiçoamento da ciência e aumentará a frequência com que poderemos fazer esse tipo de investigação,” diz Rita Beebe, professora de astronomia da New Mexico State University.


Ademais, com lançamentos e financiamentos separados, partes do plano geral podem render dados valiosos, mesmo que outras não se materializem ou falhem durante o voo.

“Se a sonda da ESA não se confirmar, a da Nasa poderá ir sozinha e fazer uma ciência fantástica”, avalia Clark. “E vice-versa: se a da Nasa não passar pelo processo, a da ESA pode ir sozinha e também fazer coisas fantásticas por sua própria conta.”




Fonte: Scientific American




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