sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Índios domesticaram peru há 2.200 anos no México e EUA, mostra pesquisa

Desenho de peru em prato indígena do Novo México; há 2.200 anos, ave foi domesticada separadamente no México e Estados Unidos


Os indígenas da América do Norte antes de Colombo não celebravam o Natal, obviamente, mas criar perus parece ter sido tão importante para eles que o bicho foi domesticado na região duas vezes, de forma separada, indica um novo estudo.

Mais ou menos na mesma época, há cerca de 2.200 anos, tanto os moradores do vale de Tehuacán (no sul do México) quanto as tribos do sudoeste dos Estados Unidos passaram a criar a ave, revela um artigo publicado na revista científica americana "PNAS".

Análises de DNA mostraram que os perus domésticos dos EUA eram geneticamente distintos dos mexicanos, derrubando a ideia de que os indígenas americanos teriam importado seu plantel da espécie junto com o resto do pacote agropecuário do México (que incluía milho, abóbora e feijão, entre outras culturas).

Dongya Yang, especialista em DNA antigo da Universidade Simon Fraser, no Canadá, contou à Folha que a pesquisa surgiu quando ele se deu conta de que colegas de outra instituição, a Universidade do Estado de Washington (EUA), também andavam bisbilhotando o passado dos perus domésticos.

"Nós estávamos estudando ossos de peru, enquanto eles trabalhavam com coprólitos [fezes fossilizadas]. Então, nada mais natural do que juntarmos esforços", explica.

Os restos foram obtidos em locais relativamente altos, frios e secos de cinco Estados americanos (Utah, Colorado, Arizona, Novo México e Texas), o que facilitou a preservação do DNA dos animais, afirma Yang.


Abundância fecal


O grupo usou indicadores arqueológicos para confirmar que os perus eram mesmo domesticados, como a presença de cercados ou de grandes quantidades de esterco ou cascas de ovo.

Uma vez obtido o material genético, ele foi comparado com o de perus criados comercialmente hoje nos EUA e o de espécimes de museu dos perus selvagens do sul do México (esses bichos estão extintos hoje, ao contrário dos perus selvagens americanos).

Yang e companhia descobriram que os perus domésticos do sudoeste dos EUA podiam ser classificados em dois grandes subgrupos genéticos --nenhum dos quais batia com o DNA dos mexicanos.

Por enquanto, contudo, ainda não dá para saber de qual região americana os animais domésticos vieram, afirma o pesquisador.

O certo, de qualquer modo, é que os perus comercializados todo santo Natal mundo afora descendem da raça mexicana, que foi levada para a Europa pelos espanhóis no século 16.

Apesar da dúvida, a pesquisa também sugere a presença de técnicas relativamente sofisticadas de criação de animais.

Parece que, após o estabelecimento inicial do plantel, os indígenas do sudoeste dos EUA capturaram formas selvagens da vizinhança.

"Pode ter sido um jeito de criar híbridos mais produtivos, mas isso ainda é especulação", diz Yang.


Fonte: Folha Online


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