Um grupo de pesquisadores e ambientalistas está pesquisando uma espécie de salamandra gigante, com 1,7 metro de comprimento.
Além de seu tamanho, a salamandra hanzaki (Andrias japonicus) chamou a atenção de ambientalistas internacionais e cientistas japoneses pelo seu status de fóssil vivo e pelo fato de não ser atingida por um fungo que está devastando muitas outras espécies de anfíbios no mundo todo, da Austrália aos Andes, o fungo quitrídio.
"O esqueleto desta espécie é quase idêntico ao dos fósseis de 30 milhões de anos atrás", disse Takeyoshi Tochimoto, diretor do Instituto Hanzaki, perto da cidade de Hyogo.
"Por isso é chamada de 'fóssil vivo'", acrescentou.
"É um dinossauro, isto é espantoso", afirmou Claude Gascon, chefe dos programas científicos da entidade ambientalista Conservation International e que também um dos líderes do Grupo Especialista em Anfíbios da União Internacional para a Conservação da Natureza.
"Nós falamos de salamandras que geralmente cabem na palma da sua mão. Esta pode arrancar sua mão."
A salamandra examinada por Gascon está segura, presa em um tanque no centro de visitação da cidade de Maniwa, a 800 quilômetros de Tóquio.
Peixes e parentes
Além de ter 1,7 metro de comprimento, a salamandra gigante tem uma pele semelhante ao couro, a cabeça é grande e coberta de tuberosidades que provavelmente são sensíveis ao movimento e ajudariam a salamandra a capturar peixes.
A salamandra hanzaki (como é chamada no Japão) tem dois parentes próximos: a salamandra gigante chinesa (A. davidianus), que tem o tamanho e forma semelhantes à japonesa e pode cruzar com elas; e uma bem menor, a Cryptobranchus alleganiensis, do sudeste dos Estados Unidos.
Criaturas como estas certamente já habitavam o planeta quando os dinossauros ainda existiam, e fósseis da família foram encontrados bem mais além do que na restrita área onde são encontrados atualmente – no norte da Europa, por exemplo.
"Acredita-se que elas sejam espécies extremamente primitivas, em parte devido ao fato de que elas são as únicas salamandras com fertilização externa", afirmou Don Church, especialista em salamandras da Conservation International.
Geralmente as salamandras ocupam covas em margens de rio. A ocupação é feita em grupos com um macho dominante, várias fêmeas e alguns outros machos.
O macho dominante e as fêmeas liberam na água ovos e espermatozoides e se movimentam incessantemente para misturar tudo.
Os machos não dominantes talvez também liberem espermatozoides, mas o papel deles ainda não está claro.
Quando a água fica mais calma, todos deixam a cova, exceto o macho dominante, que fica para cuidar do ninho e dos filhotes.
Poligamia e resistência
Fora da época de reprodução, a vida da salamandra é bem tranquila, vivendo da forma mais discreta possível no rio e capturando tudo o que estiver ao seu alcance para se alimentar.
No entanto, Takeyoshi Tochimoto apresenta uma coleção de fotografias relacionadas à salamandra e, entre elas, há a imagem de mãos humanas ensanguentadas.
"Você pode ser atacado e ferido; por favor tenha cuidado", alerta o diretor do Instituto Hanzaki.
Pesquisas demonstraram que a diversidade genética é menor do que deveria ser entre as salamandras hanzaki, em parte devido à poligamia recorrente, que, por sua vez, as deixa mais vulneráveis aos danos causados por mudanças ambientais.
Esta vulnerabilidade não é observada quando se trata da convivência entre a salamandra gigante e o fungo que está matando anfíbios pelo mundo todo, o quitrídio.
Este fungo foi identificado há uma década. Mas, em 2009, uma equipe de pesquisadores lideradas por Koichi Goka, do Instituto Nacional de Estudos Ambientais do Japão, publicou uma pesquisa mostrando que certas variedades do quitrídio estavam presentes em salamandras gigantes japonesas, incluindo exemplares que estavam conservados em museus que tinham mais de um século, e que a relação parecia benigna.
Além de oferecer pistas sobre a possível origem japonesa destes fungos, a descoberta também poderá fornecer opções para um tratamento contra o quitrídio.
No entanto, tudo isto só será possível se a salamandra gigante sobreviver às várias ameaças que enfrenta no Japão atualmente, entre elas o surgimento de novas variedades do fungo, perda de habitat e invasão de espécies adversárias.
Fonte: BBC
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