quarta-feira, 24 de março de 2010

Fósseis paulistas terão mais espaço


Museu Valdemar Lefèvre, no Parque da Água Branca, passará por sua primeira ampliação.

Num pequeno prédio nos fundos do Parque da Água Branca, em Perdizes, zona oeste da capital, há gavetas que guardam, unicamente, ossos fossilizados de preguiça-gigante, datados de 20 mil anos atrás.

Outras gavetas - fechadas - reservam mapas do território paulista do século 19, até hoje nunca expostos. Há cerca de mil peças guardados, principalmente por falta de local para exposição.

Eis a tônica do Museu Geológico Valdemar Lefèvre, inaugurado em 1967, com apenas quatro cômodos de espaço expositivo, para 3 mil peças do acervo.

Uma trajetória de (literal) aperto que começou a mudar em fevereiro deste ano, com o início da primeira ampliação da história do museu.

Serão construídos dois anexos térreos ao museu, que ganhará auditório reversível, salas de exposição maiores e equipamentos de projeção.

Haverá reserva técnica exclusiva para o acervo - hoje, existe uma mescla entre almoxarifado e copa, que serve também para guardar mapas e fósseis raros.

"Era hora de iniciar uma mudança. Com a ampliação, o edifício retoma seu projeto original, que previa dois anexos", explica o geólogo Fernando Pires, diretor do museu.

O projeto da ampliação - de 340 m² para 530 m² - foi elaborado em 2009 pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

Em fevereiro, o terreno vizinho ao museu começou a ser preparado, e a previsão é que o novo espaço seja inaugurado até dezembro de 2011.

"Para começar a obra civil, precisamos antes do projeto museológico, com a previsão dos equipamentos que serão utilizados nas novas instalações", afirmou Pires. "Está em fase de negociação." A ampliação está orçada em R$ 550 mil.

Para a nova fase, o quadro técnico do museu será ampliado em cinco funcionários, já concursados, que chegam em julho. Por mês, 10 mil pessoas visitam o museu, principalmente estudantes da rede pública.

"As salas ficam lotadas, e não é porque há milhares de visitantes. É porque o espaço é exíguo mesmo", disse o diretor. "Costumamos brincar que somos o museu mais visitado por metro quadrado da cidade."

Dinossauros paulistas. Logo na entrada, estão os primeiros fósseis de répteis paulistas - 11 ossos de Titanossauro, dinossauro de 6 metros de altura do período Cretáceo (110 a 65 milhões de anos atrás), encontrado na década de 1960 em Pacaembu, a 617 quilômetros da capital.

"Foram encontrados por acaso, na construção de uma estrada de ferro. Assim apareceu a maioria dos fósseis do Estado", explica Pires.

Contando com acervo herdado do Instituto Geológico, o museu oferece um mosaico do interior paulista em outras eras.

O fóssil mais antigo, um aglomerado de algas unicelulares de 2,6 bilhões de anos, foi encontrado em Itapeva, no Vale do Ribeira.

Também há mandíbulas de crocodilianos do Cretáceo, encontradas em Pacaembu, e ossos de mamute de Águas da Prata, na região de Campinas.

Há exemplos de rochas do mundo todo, resumidos na Coleção Internacional Krantz, única do tipo no País, com 500 minerais do acervo do mineralogista alemão.

O subsolo do Estado também é revelado - há uma ala com cristais e rochas, como o caulim extraído em Perus (utilizado para produzir porcelana), a calcita de Iporanga (giz), e fluorita de Águas Mornas (cremes dentais).

"Fascina o visitantes, pois eles percebem a função prática dos minerais", explica um dos monitores, Bruno Prearo.

Primórdios. A maior parte do acervo do museu é resultado da primeira expedição moderna de mapeamento do solo, clima e hidrografia do interior do Estado.

Entre 1896 e 1931, a Comissão Geográfica e Geológica (CGG) - que contou com pesquisadores como Albert Loefgren - produziu em média duas publicações por ano, detalhando características do Estado que impulsionaram a economia cafeeira e definiram rumos da expansão.

Desbravadores. A maior sala do museu é dedicada à Comissão Geográfica e Geológica, com equipamentos como teodolitos (para medir as dimensões do terreno) e telurômetros (medem distâncias via ondas eletromagnéticas).

"A ideia é mostrar o trabalho de campo e de escritório dos desbravadores", explica Pires. "Com a ampliação, queremos preparar uma área multimídia, com projeções didáticas sobre a expedição."



Fonte: Estadão

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