sábado, 29 de maio de 2010

Cientistas questionam posição de 'Ardi' na evolução humana


Debate reavalia interpretação de fóssil que foi a 'descoberta do ano' de 2009.

No ano passado, um esqueleto fossilizado chamado "Ardi" abalou o campo da evolução humana. Agora, alguns cientistas levantam dúvidas sobre o que essa criatura da Etiópia realmente era, e em que tipo de paisagem vivia.

Novas críticas questionam se Ardi realmente pertence ao ramo humano da árvore evolutiva, e se ele realmente vivia em florestas.

A segunda questão tem implicações para as teorias sobre o tipo de ambiente que desencadeou a evolução humana.

O novo trabalho aparece na revista Science, que em 2009 declarou a apresentação original do fóssil de 4,4 milhões de anos a principal descoberta do ano.

Ardi, abreviação de Ardipithecus ramidus, é um milhão de anos mais velho que o fóssil Lucy. Ano passado, foi saudado como uma janela para os primórdios da evolução humana.

Pesquisadores tinham concluído que Ardi andava ereto e não sobre os nós dos dedos das mãos, como os chimpanzés, e que vivia em florestas, não em campos gramados.

Ela não se parece muito com os chimpanzés atuais, nossos parentes mais próximos ainda vivos, embora estivesse ainda mais perto que Lucy do ancestral comum entre humanos e chimpanzés.

Esses questionamentos são comuns; grandes descobertas científicas costumam ser saudadas dessa maneira. Até que mais cientistas possam estudar o fóssil, um amplo consenso sobre seu papel na evolução humana pode continuar indefinido.

A descoberta em 2003 dos pequenos "hobbits" na Indonésia, por exemplo, desencadeou um longo debate sobre eles seriam uma espéci à parte da humanidade ou não.

Tim White, um dos cientistas que descreveram Ardi no ano passado, disse que não se surpreende com o debate atual. "Era totalmente esperado", disse ele. "Sempre que se tem algo tão diferente quanto Ardi, provavelmente haverá isso".


Esteban Sarmiento, da Fundação de Evolução Humana, escreve na nova análise que não está convencido de que Ardi pertence ao ramo da árvore da vida que conduz à espécie humana.

Em vez disso, argumenta, ele pode ter vindo mais cedo, antes que o ramo humano se separasse dos ancestrais de gorilas e chimpanzés.

As características anatômicas específicas de dentes, o crânio e outras partes citadas pelos descobridores simplesmente não são indício suficiente de participação no ramo humano, diz ele.

Algumas, como certas peculiaridades do pulso e da conexão da mandíbula indicam que Ardi surgiu antes que os humanos se separassem dos macacos africanos.

Em uma réplica por escrito na Science e em entrevista, White discorda de Sarmiento. "A evidência é muito clara de que no Ardipithecus há características encontradas apenas nos hominídeos posteriores e em humanos", disse ele.

Se Ardi ainda fosse um ancestral dos chimpanzés, várias características teriam tido de" evoluir de volta" para uma forma mais simiesca, o que White considera "altamente improvável".


Outros especialistas, no entanto, disseram em entrevistas que acham que é muito cedo para dizer onde Ardi se encaixa.

Will Harcourt-Smith, do Museu Americano de História Natural e do Lehman College, disse que não poderia afirmar se Sarmiento está certo ou errado. "Estamos no início" da análise de Ardi, disse ele.

"Até que haja uma descrição mais completa do esqueleto, é preciso ser cauteloso ao interpretar a análise inicial de um jeito ou de outro". Mas ele disse discordar da avaliação de que Ardi seria velho demais para fazer parte do ramo humano.


Fonte: Estadão

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