O artefato de mais de dois metros de comprimento, embrulhado em linho desbotado e adornado com uma máscara estilizada é uma das duas múmias analisadas este mês pela Escola de Medicina de Stanford, na California.
A tomografia mostrou uma mistura de ossos de pelo menos dois crocodilos do Nilo, incluindo dois crânios, um osso de ombro, e possivelmente um fêmur, de acordo com a curadora Allison Lewis, do Phoebe A. Hearst Museum of Anthropology, na Califórnia, que mantém as múmias.
De origem desconhecida, elas foram compradas pela filantropa Phoebe Hearst no Egito, no início do século XX. Elas foram recentemente restauradas e analisadas antes de entrarem na nova exposição do museu.
Mumificar animais era uma prática comum entre os egípcios, que embalsamavam milhares de crocodilos e os enterravam em túmulos coletivos, como uma oferenda ao deus Sobek.
A outra múmia de crocodilo do museu contém está “desembrulhada”: seu invólucro de linho já estava sumido quando ela foi comprada, em 1899.
E contém um animal inteiro, na verdade, mais de um: em cima da múmia adulta, que mede 1,7 metro, haviam mais de 30 filhotes mumificados.
Filhotes “pegarem carona” nas costas do pai é uma forma comum de locomoção para a espécie, dizem especialistas.
Os bebês tinham sido envolvidos em linho, amarrados a troncos de palmeira, e colados no crocodilo adulto com fluido de embalsamento, uma mistura de resina de pinheiros, cera de abelha e gordura.
É o mesmo usado para embalsamar pessoas, o que contradiz a noção que animais eram mumificados de uma maneira mais barata que humanos.
Mas a substância degradou com o tempo, e alguns dos filhotes caíram da múmia maior. Para a exposição, os curadores usaram um adesivo sintético para recolocá-los.
Anzóis e lastros
Ambas as múmias de crocodilo foram examinadas duas vezes no laboratório da Universidade de Stanford – a primeira com um scanner clínico de baixa resolução, e a segunda com uma máquina de alta resolução, que conseguiu detalhes dos animais em três dimensões. Os esqueletos dos filhotes, mais frágeis, só conseguiram ser vistos no segundo exame.
A tomografia normal revelou objetos brancos estranhos no estômago do animal. Podem ser rochas, que os animais normalmente engolem para funcionar como um lastro, que os mantém estáveis na água, acredita Jane Williams, curadora associada do museu.
De maneira geral, tomografias oferecem uma “visão detalhada e não invasiva do interior das múmias”, acrescenta Allison.
Já a tomografia em 3D também trouxe surpresas. No estômago de um dos crocodilos foram encontrados ossos de vítimas, e um anzol, que depois foi identificado como do período do Egito antigo.
O anzol, que o crocodilo provavelmente deglutiu junto com sua última refeição, não parece ter se corroído, o que indica que é feito de bronze.
Os exames também mostraram que os ossos da primeira múmia (com partes de ossos) tinham sido cobertos com caules de papiro antes de serem embrulhados, para ficarem mais firmes.
Os egípcios preparavam dois tipos de múmias de crocodilo: as sagradas, que seriam a personificação do deus Sobek, e múmias votivas, criadas apenas para sacrifício.
Os crocodilos para sacrifício viviam em lagos perto de templos, especialmente em El Faiyum, no Egito. Mediante doações, os sacerdotes sacrificavam, embalsamavam e enterravam um crocodilo em nome do benfeitor.
Não se sabe se as múmias do museu Hearst eram sagradas ou votivas, embora o estado desorganizado da múmia ainda embrulhada sugere que esta era do segundo tipo.
Tomografias estão se tornando uma ferramenta poderosa para estudar múmias. Por exemplo, foi através de um exame assim que se descobriu que o Rei Tutankamon morreu de complicações devidas a uma perna quebrada e não de assassinato.
Fonte: IG
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