Perigos da permanência no espaço cairiam pela metade e humanidade ganharia um 'bote salva-vidas'.
Esse período prolongado de exposição à radiação do espaço e à microgravidade representa um risco para a saúde humana.
Em artigo no periódico científico online Journal of Cosmology, uma dupla de pesquisadores propõe uma forma radical de reduzir o perigo pela metade: eliminar a viagem de volta.
De acordo com o artigo, a viagem só de ida traria ainda uma grande redução de custos em relação às perspectivas de missões de ida e volta, além de garantir um firme comprometimento com a exploração do planeta vermelho, já vez que os colonos precisarão, no início, receber remessas de suprimentos enviados da Terra.
"Embora as vantagens práticas dessa abordagem seja claras, antecipamos que algumas considerações éticas podem ser levantadas contra ela", ponderam os autores, Dirk Schulze-Makuch, da Universidade Estadual da Califórnia, e Paul Davies, da Universidade Estadual do Arizona.
Davies, um físico, também é autor de diversos livros populares sobre ciência, como O Quinto Milagre, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, que trata da origem da vida.
"Algumas agências espaciais ou parte do público podem sentir que os astronautas estão sendo abandonados em Marte, ou sacrificados em nome do projeto", prosseguem os cientistas.
"Mas esses primeiros colonos de Marte serão obviamente voluntários, e estarão numa situação pouco diferente dos primeiros colonizadores da América do Norte, que saíram da Europa com pouca expectativa de retornar".
O texto cita ainda exploradores como Cristóvão Colombo e Roald Amundsen, o primeiro homem a chegar ao polo sul.
"Embora não tenham embarcado em suas viagens com a intenção de permanecer no destino (...) sabiam que havia uma probabilidade significativa de perecer na tentativa".
A missão proposta por Schulze-Makuch e Davies seria idealmente composta por quatro astronautas, em duas naves diferentes. Dessa forma, uma dupla poderia socorrer a outra em caso de emergência, e equipamentos essenciais chegariam duplicados à superfície marciana.
Os astronautas seriam precedidos por robôs que instalariam uma fonte de energia - o artigo sugere um reator nuclear de pequeno porte e painéis solares - e deixariam víveres suficientes para dois anos, além de implementos para o início de atividade agrícola em pequena escala, ferramentas e equipamento científico.
A despeito disso, o primeiro contingente de astronautas teria de fazer uso intensivo de recursos naturais marcianos, como água - sondas robóticas já demonstraram que algumas regiões de Marte têm gelo no subsolo - e abrigar-se em cavernas.
O que não puder ser produzido em Marte seria enviado da Terra em missões de suprimentos. "Essa fase semiautônoma pode durar décadas, talvez séculos", reconhecem os autores.
O artigo analisa ainda o risco que possíveis micróbios marcianos poderiam oferecer aos astronautas e o perigo - que os autores consideram maior - de os colonos contaminarem Marte com material biológico terrestre.
Entre os motivos para o estabelecimento de uma colônia humana permanente em Marte, Schulze-Makuch e Davies lembram que a humanidade é uma "espécie vulnerável", e que a vida na Terra sofre ameaça constante, tanto causada por eventos cósmicos quanto pelo comportamento humano e pela próprio planeta.
Eles também mencionam o grande interesse científico do planeta, e o fato de Marte ter recursos, como água e dióxido de carbono, que podem ser explorados para dar sustentabilidade à colônia.
Na visão dos autores, os quatro pioneiros seriam apenas os primeiros moradores de uma ocupação crescente do planeta.
Atualmente, nenhuma agência espacial tem planos em andamento para levar seres humanos a Marte.
Nas diretrizes que deu à Nasa no início do ano, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que espera assistir a um pouso humano no planeta vermelho na década de 2030, mas pediu o desenvolvimento de novas tecnologias de propulsão para viabilizar o feito.
Fonte: Estadão
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