Relatório revela detalhes de como serviço de inteligência dos EUA protegeu criminosos nazistas após a Segunda Guerra.
Diante da Guerra Fria, EUA passaram a estar menos interessados em punir tais criminosos já em 1946.
"Sem dúvidas, o advento da Guerra Fria outorgou à inteligência norte-americana novas funções, novas prioridades, e novos inimigos.
Prestar contas com alemães ou com seus colaboradores se tornou menos urgente. Em alguns casos, isso se tornou até contraproducente", afirma o relatório divulgado na última sexta-feira (10/12) pelo Arquivo Nacional dos Estados Unidos.
"Apesar das variações, esses casos específicos apresentam um padrão: a questão de capturar e punir criminosos de guerra se tornou menos importante ao longo do tempo."
O relatório denominado Hitler's Shadow: Nazi War Criminals, US Intelligence and the Cold War (A sombra de Hitler: criminosos de guerra nazistas, inteligência dos EUA e a Guerra Fria), se baseia em informação considerada confidencial até 2005 e veio a público graças ao Ato de Divulgação de Crimes de Guerra Nazistas, um esforço de Washington com vista a uma posição mais crítica sobre seus próprios segredos.
O documento lança um olhar sobre uma série de antigos membros da SS e da Gestapo que escaparam da Justiça, com a tolerância dos Estados Unidos ou mesmo sua ajuda na fuga.
Guarda de Auschwitz protegido da extradição
Rudolf Mildner, por exemplo, foi preso inicialmente em uma operação à procura de criminosos de guerra que pudessem levar a um movimento clandestino de resistência nazista.
As autoridades norte-americanas sabiam que Mildner havia pertencido à Gestapo durante muito tempo, mas nunca o pressionaram para saber mais detalhes sobre crimes da Gestapo contra judeus ou outros grupos.
Capturado e interrogado em Viena, as autoridades norte-americanas o consideraram "muito confiável e cooperativo".
Após Segunda Guerra, começou Guerra Fria
No entanto, um olhar mais detalhado sobre seu passado revelou que ele ordenara a execução de 500 a 600 poloneses no campo de extermínio de Auschwitz.
Confrontado com as acusações, Mildner confessou e o relatório menciona que ele tentou racionalizar suas ações, defendendo que eram para "preservar a ordem e evitar sabotagem".
Posteriormente, países como a Polônia e o Reino Unido pediram a extradição de Mildner. Mas, de acordo com o relatório, "localizar e punir criminosos de guerra não estavam no topo das prioridades das Forças Armadas norte-americanas no final de 1946".
Acredita-se que autoridades dos EUA o protegeram da extradição e facilitaram até mesmo sua posterior fuga para a América do Sul, que se tornou um refúgio para muitos criminosos de guerra nazistas fugindo da Justiça.
Planos de Hitler para Palestina pós-guerra
O material recentemente liberado também lança luz sobre os planos da Alemanha nazista no Oriente Médio, onde as lideranças do regime de Hitler estabeleceram estreitos laços com o Grande Mufti de Jerusalém, Amin Al-Husseini.
Husseini recebeu substancial apoio financeiro e logístico da Alemanha nazista, que pretendia usá-lo para o controle da Palestina, uma vez que a Alemanha tivesse derrotado o Reino Unido no Oriente Médio. Na época, Husseini e Berlim se uniram principalmente por verem nos judeus um inimigo comum.
Husseini negou cooperar com nazistas
Os arquivos da CIA e das Forças Armadas norte-americanas agora liberados definem que os Aliados sabiam o suficiente sobre o passado de Husseini para considerá-lo um criminoso de guerra. Temendo a perseguição, ele fugiu para a Suíça, onde as autoridades locais o entregaram à França.
Por temer agitação política na Palestina, o governo britânico foi contra levar Husseini a julgamento.
Ele foi então morar na Síria e no Líbano, sempre refutando acusações de ter tido laços com a Alemanha nazista. Ele alegou que visitou Berlim somente para evitar a prisão pelos britânicos.
Ex-nazistas em serviços de espionagem ocidentais
No começo deste ano, a Alemanha liberou documentos da Stasi que mostravam em detalhes como o serviço de inteligência da antiga Alemanha Ocidental empregava antigos nazistas e criminosos de guerra em sua base de pessoal. O serviço de inteligência da antiga Alemanha Ocidental foi formado com a ajuda dos aliados.
Como o bloco soviético se tornou o inimigo comum após 1945, diversos historiadores afirmaram que autoridades aliadas aceitaram amplamente que ex-nazistas escapassem da Justiça, caso suas habilidades se provassem úteis para as novas frentes da Guerra Fria.
Autor: Andreas Illmer (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: Deutsche Welle
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