terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Prêmio Nobel contesta descoberta de bactéria que come arsênico

Imagem de microscópio da bactéria GFAJ-1, que, segundo a Nasa, teria incorporado substância tóxica a seu DNA


Para Jack W. Szostak, ganhador do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina do ano passado, dados da Nasa não são convincentes.

De um lago da Califórnia, cientistas coletaram bactérias que cresceram no laboratório em um meio onde o fósforo - elemento até então essencial para a vida - foi substituído pelo venenoso arsênico.

O trabalho, patrocinado pela Nasa e publicado na quinta-feira (2) na revista Science, impacta diversas áreas da ciência, não só por abrir o leque de opções de busca de astrobiólogos por vida extraterrestre, mas também por abalar um dos conhecimentos mais sólidos dos bioquímicos: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre e fósforo (conhecidos como CHONPS) são os elementos essenciais da vida, presentes em DNA, proteínas e lipídios.

Mas o dado fundamental do trabalho – o de que o arsênico foi incorporado ao DNA das bactérias, comprovando que ele entrou no lugar do fósforo – parece não ter satisfeito cientistas importantes da área.

“Não estou convencido de que há arsênico no DNA dessa linhagem bacteriana”, disse Jack W. Szostak ao iG. Ganhador do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina do ano passado e pesquisador da Universidade de Harvard, Szostak estuda agora as moléculas essenciais que deram origem às primeiras células.

Szostak explica que a substituição de arsênico por fósforo é quimicamente improvável, uma vez que os compostos formados se quebram rapidamente na presença de água.

“As afirmações do trabalho são completamente infundadas por seus dados. Não há um único experimento em que eles tenham isolado um metabólito ou uma molécula específica mostrando que o arsênico substituiu o fósforo”, completou.

O cientista destaca que o nível detectado de arsênico no DNA é extremamente baixo tanto para as células que cresceram com fonte de arsênico quanto para as que cresceram com fonte de fósforo.

Contaminação de reagentes usados nos experimentos provavelmente explica o pequeno aumento de arsênico no DNA das células que cresceram com arsênico. “Deve haver contaminação pois eles observaram arsênico até no DNA das bactérias que cresceram só com fósforo”, disse.

Steven Benner, da Foundation for Applied Molecular Evolution em Gainesville, Florida, trabalha com formas alternativas de DNA e também está cético em relação aos resultados publicados na Science.

Benner disse ao iG que mesmo quando dois elementos são vizinhos na tabela periódica (silício e carbono; arsênico e fósforo, por exemplo), as diferenças de suas reatividades tornam as substituições um a um desafiadoras para os cientistas.

Substituir arsênico por fósforo no DNA torna as estruturas instáveis, principalmente na presença de água.

O químico explica que em uma das figuras do trabalho da Science, o DNA aparece estável na água e se comporta como um DNA padrão. “Isso é um forte indício de que o que eles estão vendo não é DNA cujos fósforos foram substituídos por arsênico”, disse.

Não é novidade que bactérias, outros microrganismos e formas mais complexas de vida incorporam elementos da tabela periódica ao seu metabolismo.

Segundo Sam Kean, autor do livro “The Disappearing Spoon”, best-seller do New York Times que conta histórias inusitadas sobre cada um dos elementos da tabela periódica, “algumas bactérias usam até urânio”, disse ao iG.

Procurada pelo iG, Felisa Wolfe-Simon, responsável pela pesquisa, disse, via assessoria de imprensa da Nasa, que precisaria de alguns dias para responder às alegações de Szostak e Benner.


Fonte: IG

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