Mas é também a maior causa de extinções no mundo nos últimos quatro séculos. As invasoras competem e, muitas vezes, prevalecem sobre as nativas.
Podem também provocar danos à saúde humana. Um exemplo é o mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, que, como o nome diz, veio do Egito.
O governo estima que o prejuízo provocado pelas espécies invasoras no Brasil ultrapasse R$ 100 bilhões por ano.
"Isso vai desde os gastos com saúde até coisas que ninguém imagina, como a paralisação das turbinas de Itaipu para a remoção do mexilhão-dourado da Ásia, uma praga", afirma Lídio Coradin, gerente de Recursos Genéticos da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente.
A Estratégia Nacional de Espécies Exóticas Invasoras (EEI) foi lançada em 2009. Está baseada em cinco levantamentos sobre as espécies: as que afetam a saúde, as que afetam a produção, as que vivem em ambientes terrestres, em águas continentais e em ambiente marinho. "Estamos incentivando os Estados a fazer seus inventários", diz Coradin.
Dois deles já lançaram suas listas: Santa Catarina e Paraná. Este último começou o controle pelas Unidades de Conservação (UCs).
"Constatamos que todas as unidades tinham problema com invasoras. Havia UCs com viveiros produzindo invasoras exóticas e distribuindo as mudas", afirma João Batista Campos, diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Ambiental do Paraná.
Isso ocorreu com o pinus. Vindo de lugares como Estados Unidos, México e América Central, foi trazido ao Brasil na década de 50 do século passado para ser usado em reflorestamento e para fins ornamentais.
Cultivado no Paraná e em Estados vizinhos, entrou nas UCs. Agora o pinus está sendo removido das áreas protegidas, porque mata plantas menores ao bloquear a luz do sol.
O pinus também se tornou um problema na Argentina. O pesquisador Sergio Szalba começou um programa de erradicação da espécie no Parque Estadual Ernesto Tornquist, com o apoio da comunidade local.
"Fazemos a remoção e ao mesmo tempo mantemos um viveiro de nativas. A lenha das invasoras é distribuída para a comunidade."
Já a remoção dos javalis que se espalharam pelo Brasil a partir do Rio Grande do Sul não foi tão fácil. Natural da Ásia, Europa e do Norte da África, o animal entrou no Brasil pela Argentina e pelo Uruguai, trazido por criadores. Estragou lavouras e transmitiu doenças, além de ter atacado e matado pessoas.
O Ibama autorizou, mas depois revogou, a caça para controle. Grupos protetores de animais comemoraram.
"Temos de ser racionais. Quem trouxe e soltou deveria se responsabilizar e levar o animal para o seu lugar", afirma a psicóloga Rosana Gnipper, da Associação Ambientalista Ecoforça.
"O problema desse tipo de introdução de espécies é que, quando dá certo, beneficia poucos, mas, quando dá errado, prejudica muita gente", resume Sílvia Ziller, integrante do Conselho do Programa Global de Espécies Invasoras (Gisp).
Criado em 1997, o Gisp reúne especialistas que defendem a criação de uma estratégia global para EEIs.
Manejo. "Controlar as invasoras não é necessariamente exterminar nem proibir o cultivo ou criação.
Em boa parte dos casos é tentar delimitar onde podem ou não ocorrer", explica a bióloga Cristina Azevedo, do Departamento de Proteção da Biodiversidade da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo.
A estratégia paulista para lidar com as EEIs foi entregue ao Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) em dezembro de 2009 e ainda aguarda aprovação.
Entre as espécies indicadas para criação ou cultivo sob controle estão o tambaqui (original do Amazonas e do Orinoco), a jaqueira e o lírio-do-brejo (asiáticos).
Nos casos do caramujo-gigante-africano - que, trazido para substituir o escargot, virou praga no Brasil inteiro -, do mexilhão dourado asiático e do javali, o documento indica proibição de uso, transporte, criação, propagação e soltura.
Se controlar espécies que ninguém quer é difícil, o manejo das invasoras com valor comercial é uma tarefa hercúlea. É o caso da tilápia-do-nilo, introduzida no Brasil pelo governo nos anos 80.
"O peixe foi introduzido primeiramente no nordeste e depois nas bacias do sudeste. E virou um pesadelo. Compete com as nativas, come o que vê pela frente e aumenta a eutrofização (excesso de nutrientes que causa reprodução descontrolada de algas) da água.
Para o produtor, é rápido e fácil criar a tilápia. Mas ela ataca a base da cadeia alimentar de outras espécies", alerta o biólogo Mário Orsi, do Conselho Regional de Biologia do Paraná. Ele afirma que a maior incidência das tilápias está nas bacias do Tietê e Paraná.
"Os peixes estão sendo criados em tanques-rede em águas públicas. Isso não deveria ser permitido.
Criar, tudo bem, mas não em tanques-rede, pois o peixe escapa pela malha e vai parar nos rios", diz Orsi. Ele afirma que a tilápia já está chegando à Amazônia. "O Acre proibiu, mas ela já está em Rondônia."
Fonte: Estadão
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