Estudo de indícios antigos da presença humana na Europa questiona consenso de que hominídeos dominavam o fogo há 2 milhões de anos.
Até agora, acreditou-se que os primeiros hominídeos já usariam fogo há 2 milhões de anos para preparar alimentos e se aquecer.
A confecção de ferramentas de pedra e o controle racional do fogo - para cozinhar, aquecer-se e prolongar a duração do dia - são considerados marcos importantes da evolução humana.
O artigo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), coloca em xeque uma teoria que alcançou notável prestígio nos últimos anos.
O arqueólogo Richard Wrangham, de Harvard, relacionou a evolução humana ao hábito de cozinhar alimentos.
Segundo o pesquisador americano, há 2 milhões de anos o Homo erectus teria aprendido a cozinhar, hábito que facilita a digestão dos alimentos.
A energia economizada pelo sistema digestivo teria servido então para turbinar o cérebro, acelerando a evolução humana.
Além disso, ainda de acordo com a teoria de Wrangham, o hábito de se alimentar ao redor de uma fogueira teria desenvolvido a sociabilidade das primeiras comunidades primitivas.
O arrazoado virou livro - Pegando Fogo - Como Cozinhar Nos Tornou Humanos -, mas pesquisadores da Universidade Leiden, na Holanda, e da Universidade do Colorado, em Boulder (EUA), decidiram verificar se as descobertas arqueológicas dos últimos anos confirmavam a teoria.
Concluíram que, apesar de convincente à primeira vista, a tese de Wrangham não possui parentesco com a realidade dos registros pré-históricos.
Frio europeu. Os pesquisadores procuraram evidências do uso de fogo por humanos na Europa. Acreditava-se que a conquista do continente estaria condicionada ao domínio da tecnologia do fogo: só com uma boa fonte de calor e luz os humanos conseguiriam deixar o ambiente tropical africano e sobreviver às latitudes mais frias do clima temperado no norte. Os dados contrariaram as expectativas.
Os registros mais antigos da presença humana na Europa datam de 1 milhão de anos atrás e estão todos na região sul do continente.
Contudo, há fortes indícios no norte, em Happisburgh (Inglaterra), de que humanos já estavam adaptados ao clima frio há 800 mil anos - porém sem o uso do fogo como fonte de calor.
Os registros arqueológicos só apareceram 400 mil anos depois. Os mais antigos estão em Beeches Pit, na Inglaterra, e Schöningen, na Alemanha: pedaços de madeira tostada, pedras e sedimentos derretidos, além de indícios de fogueiras.
Os autores do trabalho também induzem provas baseadas em testemunhos negativos: sítios arqueológicos mais antigos de diversos países - Rússia, Bulgária, Itália, Espanha e França -, muito bem protegidos dentro de cavernas, não apresentam qualquer sinal do uso de fogo por seres humanos.
Fonte: Estadão
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