terça-feira, 1 de março de 2011

Monumento geológico natural sofre depredação em Anhembi

Geiseritos estão em propriedade de ex-prefeito


Geiseritos paulistas - rochas em forma de cone com dutos por onde saem jatos de água - formam composição única no mundo; são 4,5 mil estruturas de até 1 metro de altura numa área de 1,5 km2.



Rochas formadas pela ação dos gêiseres há 250 milhões de anos e consideradas monumento natural geológico nacional estão sem proteção e sujeitas à ação de depredadores em Anhembi, a 245 km de São Paulo.

Os Geiseritos de Anhembi, como são conhecidos na literatura científica, atraem pesquisadores por ser uma formação única no mundo, com 4,5 mil estruturas de até 1 metro de altura concentradas numa área de 1,5 km2.

De acordo com o diretor de Turismo de Anhembi, Raul Marcel da Silva, o sítio também atrai curiosos e colecionadores e é comum os visitantes quebrarem as pedras para levar os pedaços como souvenir. "Muitas formações estão quebradas e espalhadas pelo chão", conta.

Os geiseritos são rochas em forma de cones que possuem um duto interno por onde os gêiseres - jatos de água quente com vapor - saem do interior da terra e chegam até a atmosfera.

As estruturas de Anhembi começaram a ser estudadas em 2003, por meio de um projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

"O que encontramos em Anhembi é talvez o único registro geológico no mundo de atividade hidrotermal muito intensa no período permiano (de 250 milhões a 300 milhões de anos atrás)", afirma o diretor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da pesquisa, Jorge Kazuo Yamamoto.

Ele conta que são conhecidos hoje cerca de mil gêiseres no planeta, sendo mais famosos o do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos.

A diferença é que lá há cerca de 500 gêiseres espalhados por uma área gigantesca, que abrange três Estados.

"Nosso sítio, nesse de preservação, é um registro único. Podemos ver que esses corpos estão sendo desenterrados pela erosão moderna, muito recente em termos geológicos." O trabalho dos pesquisadores da USP resultou em um artigo publicado em 2005 na revista Nature.

A lei estadual 12.687, publicada em 3 de setembro de 2007, dispôs sobre a criação e preservação do Monumento Natural Geiseritos de Anhembi.

Na época, a justificativa era a necessidade "iminente" de preservação de um sítio natural raro e muito singular, pelo fato de "serem estruturas geológicas frágeis e estarem sujeitas a qualquer degradação natural e antrópica (pela ação do homem)".

De acordo com o diretor de Turismo de Anhembi, a expectativa era que o local fosse transformado em um parque geológico e turístico, mas nada aconteceu.

Área privada. Os geiseritos estão em uma área de pastagem da fazenda que pertence ao ex-prefeito Geraldo Conceição Cunha, a 14 km da zona urbana.

Assim que soube da lei de preservação, Cunha delimitou a área com cercas para evitar o acesso do gado. Ele disse que, além de pesquisadores, o local passou a atrair turistas movidos apenas pela curiosidade.

Segundo Cunha, muitas das formações foram quebradas antes de se saber que eram importantes. As pedras foram usadas até para cascalhar estradas.

O ex-prefeito afirma que não tem como evitar as invasões. "Mantenho um funcionário na fazenda apenas para cuidar do gado e roçar o pasto."

O proprietário afirma que tem dado apoio aos pesquisadores da USP, mas não sabe qual será o destino da área.

"Ninguém me procurou para dizer o que será feito." Ele disse que o terreno isolado ficou como uma área "morta" da propriedade, voltada para a criação de gado. "Até agora só tive despesas com isso."

O deputado Adriano Diogo (PT), autor da lei de preservação, lamentou a falta de interesse do governo estadual e da prefeitura em proteger e divulgar o monumento geológico.

"Não tiveram o trabalho de ao menos colocar uma placa no local." Ele reconhece que a cidade é pequena e, provavelmente, sem recursos para instalar um parque, mas considera possível uma parceria com a iniciativa privada. "Tem um tesouro ali e ninguém se deu conta."

O Instituto Geológico do Estado, vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, informou que está em discussão a instalação de placas interpretativas nos geiseritos de Anhembi, assim como em outros monumentos geológicos paulistas.

Foi recomendada a criação de um grupo de trabalho para regulamentar a lei que criou a unidade de conservação.

O plano é ter uma estratégia conjunta de proteção e desenvolvimento dos geoparques paulistas por meio do turismo, mas a proposta está em discussão.


Fonte: Estadão

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