terça-feira, 12 de abril de 2011

Há 50 anos, o primeiro homem voava para o espaço


O cosmonauta Yuri Gagarin foi o primeiro ser humano a viajar ao espaço em 12 de abril de 1961. Hoje, diversos lugares do mundo celebram os 50 anos do primeiro grande momento da corrida espacial entre EUA e União Soviética durante a Guerra Fria.

Gagarin foi escolhido para encarnar o paradigma do homem soviético, especialmente por suas modestas origens camponesas.

Ele é um dos raros heróis nacionais cuja imagem não sofreu com a queda da União Soviética no fim de 1991, e continua sendo ainda hoje para os russos "a personalidade mais atraente do século XX", segundo pesquisas.

Suas origens populares - um pai carpinteiro e uma mãe camponesa - jogaram a favor de sua candidatura para se tornar o primeiro homem no espaço, frente a seu rival Gherman Titov, proveniente de uma família de professores e com a desvantagem de ter um nome germânico, segundo seus biógrafos.




Este homem loiro, de olhos azuis e sorriso quase infantil, encarna o arquétipo do homem russo apontado como exemplo pela propaganda soviética. Ganhou assim a simpatia de seus colegas, e em especial a de Serguei Korolev, pai da astronáutica soviética.

"Gagarin não era um líder, mas era amigo de todos, e Korolev o tratou como um filho", lembra o cosmonauta Boris Volynov.

Em 1961, Gagarin é designado para efetuar o primeiro voo do homem ao espaço. Nesse momento, tinha 27 anos e era casado com Valentina, uma enfermeira que acabava de dar à luz uma segunda filha.

A missão era perigosa: de 48 cães enviados ao espaço pela União Soviética, 20 tinham morrido.

"O importante é que temos salsichão para acompanhar aguardente", brincou Gagarin pouco antes de a nave "Vostok" ser lançada ao espaço.

"Aí você têm café da manhã, almoço e jantar. Embutidos, balas e chá. Ao todo, 63 peças. Vai voltar engordar", falou à época
o pai do programa espacial soviético, Sergei Korolev, obsessivo para que o cosmonauta tivesse alimentos suficientes antes de retornar à Terra.




A integridade de Gagarin foi tal que até teve tempo de rir dos nervosos técnicos que o acompanharam até o interior da "Vostok" quando, devido a uma falha hermética, tiveram de retirar e colocar cada um dos 32 parafusos que selavam a escotilha.

Logo em seguida, Gagarin pronunciou o famoso "Vamos lá!", após o qual deu início a volta no planeta em 108 minutos.

"Os primeiros sempre são pessoas de sorte. É preciso reconhecer que o bem-sucedido voo de Gagarin foi em grande parte uma questão de sorte", garante Anatoli Davydov, subchefe da agência espacial russa, Roscosmos.

Os voos experimentais realizados com animais, como a famosa cadela Laika em 1957, demonstraram que o estado vital piora dramaticamente a partir da terceira volta.

Nem todos acreditavam que o voo tivesse sucesso, que Gagarin retornasse vivo e que não perderia a razão, portanto as autoridades soviéticas prepararam de antemão três versões oficiais sobre o fato.

Outra preocupação das autoridades dizia respeito à hipótese de Gagarin aterrissar fora do território soviético, por isso a agência oficial de notícias "Tass" preparou um documento informando todas as nações sobre a viagem do cosmonauta poderia aterrissar em seu solo.

O próprio Gagarin, muito consciente do risco da gravidade zero, escreveu uma carta a sua esposa, na qual dava permissão para casar-se novamente e pedia que educasse suas duas filhas "não como pequenas princesas, mas como pessoas normais".

Finalmente, "Tass" emitiu um documento com o título de "Sobre o bem-sucedido retorno do homem do primeiro voo espacial" no qual dizia que "às 10h55 no horário de Moscou a nave espacial Vostok aterrissou na região prevista da União Soviética".

"O piloto-cosmonauta major Gagarin comunicou: 'Peço que informe ao Governo que a aterrissagem transcorreu com normalidade, que estou bem e não sofri qualquer lesão", acrescentou.



Recebido de forma triunfal pelo mundo inteiro, Gagarin completaria essa missão perfeitamente, demonstrando segundo as testemunhas uma simplicidade absoluta. Sonhava em ir à Lua, mas o destino tinha decidido outra coisa.

Muito apreciado pelas autoridades soviéticas, permaneceu longo tempo com a proibição de pilotar antes de obter autorização.


Morte misteriosa



Outro aspecto que ainda tira o sono de muitos é a suspeita de que a morte de Gagarin em 27 de março de 1968 durante um voo de treinamento a bordo de um caça Mig na região de Vladimir, que levou alguns analistas a falar de uma conspiração.




"A causa mais provável da catástrofe foi uma brusca manobra para evitar uma sonda", assinalou nesta semana Aleksandr Stepanov, chefe dos arquivos do Kremlin.

O relatório secreto de novembro de 1968 aponta que "a brusca manobra levou à entrada do avião em um estado crítico de voo e a sua queda em condições climatológicas adversas".

Os desclassificados relatórios da comissão que investigou a tragédia também indicam "a improvável causa" que o acidente ocorresse quando Gagarin tentava evitar a entrada em uma camada de nuvens.

Roscosmos aproveitou o aniversário para negar que Gagarin e outros cosmonautas soviéticos tivessem visto ou mantido contato com objetos voadores não identificados (óvni) procedentes de outros planetas.




A pedido da Rússia, a Assembleia Geral da ONU declarou em 12 de abril "Dia Internacional do Voo do Homem ao Espaço", que Moscou realizará com diversos atos, incluindo uma salva de artilharia de 50 tiros de canhão a partir do Kremlin.

Em outros países do mundo, o cosmonauta será homenageado, como é o caso da estátua que será erguida na lendária praça Trafalgar de Londres, a primeira cidade que após seu histórico voo Gagarin visitou fora do espaço socialista.


Como Gagarin virou cosmonauta


Nascido em março de 1934 em um povoado perto de Smolensk (oeste), depois de uma infância difícil marcada pela guerra e pela ocupação nazista, Gagarin dedicou-se primeiramente a trabalhar como metalúrgico.

O jovem Gagarin, apaixonado por aviação, inscreveu-se em uma escola militar de Orenburgo (Montes Urais) e assumiu pela primeira vez o comando de um avião em 1955.

Quando em um dia de outono de 1959 uma comissão selecionava voluntários para pilotar um "tipo moderno de aeronave", sua baixa estatura - apenas 1,60 metro -, jogou a seu favor.

Vinte candidatos começaram um treinamento de um ano em um centro secreto de Moscou. Com o passar do tempo, não restaram mais de 12, e logo seis, entre eles, Gagarin.


Fonte: UOL

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