segunda-feira, 30 de maio de 2011

Genealogia por DNA prova que as aparências enganam

O grande caranguejo-rei vermelho, com sua cor viva não parece, mas é parente próximo do...

Parentesco genético entre dois caranguejos de aparências diferentes exemplifica as complexas relações de parentesco entre espécies.



Não sou grande fã de reality shows, mas confesso ser um espectador fiel da série “Deadliest Catch”, no Discovery Channel.

O programa narra as aventuras de diversos barcos de pesca na frota do Alasca, enquanto caçam caranguejos-reis vermelhos no Mar de Bering.

O que me fascina, e provavelmente a outros espectadores, é a chocante experiência de observar as tripulações trabalhando por longos períodos em condições inimagináveis.

Definitivamente, isso não é para mim. Minha pesca de caranguejos se limita a procurar pequenos caranguejos-ermitões, do tamanho de bolas de golfe, nas areias de alguma tranquila praia da Flórida, numa temperatura de 27 graus.

Além de não haver comparação entre minhas jornadas litorâneas e o perigoso trabalho da pesca de caranguejos no Alasca, alguém poderia dizer que os dois tipos de caranguejo envolvidos possuem muito pouco em comum.

O caranguejo-ermitão, geralmente diminuto, precisa contorcer seu corpo em alguma concha abandonada, enquanto o caranguejo-rei vermelho, que pesa entre 2 e 4 quilos e é o maior entre as mais de 100 espécies de caranguejos-reis, perambula livremente pelo fundo do oceano em busca de vermes, moluscos, mexilhões, estrelas-do-mar e outras presas.

Olhando esses monstros das profundezas, seguramente cozidos em seu prato do restaurante Red Lobster, você poderia pensar que eles seriam mais próximos de outros caranguejos do cardápio, como os caranguejos-de-pedra, do que dos caranguejos-ermitões.

Bem, pense de novo.

Evidências de DNA vinculam o caranguejo-rei ao caranguejo-ermitão mais intimamente do que a outros caranguejos.

Na verdade, atualmente está claro que o majestoso caranguejo-rei evoluiu de um ancestral caranguejo-ermitão.


... pequeno caranguejo ermitão azul, que habita as praias da Flórida

A ligação genética entre os dois caranguejos foi inicialmente identificada há quase duas décadas, por Cliff Cunningham, hoje na Duke University, e colegas.

Num novo artigo a ser publicado na revista “Systematic Biology”, K.H. e Chu e colegas da Universidade Chinesa de Hong Kong, da Universidade Oceanográfica Nacional de Taiwan e do Museu Australiano, em Sidney, sustentaram esse vínculo genético e mostraram que caranguejos-ermitões ancestrais também deram origem às chamadas lagostas-agachadas, caranguejos de vida livre – com formato de lagosta – sem parentesco direto às lagostas.

As surpreendentes histórias da evolução do caranguejo-rei e da lagosta-agachada, a partir de ancestrais caranguejos-ermitões, são exemplos de uma frequente lição sobre a era da genealogia via DNA: a aparência pode enganar.

Formatos muito distintos podem surgir de um certo tipo de ancestral e formas similares podem se desenvolver com total independência em ancestrais sem parentesco.

Por mais diferentes que o caranguejo-rei e o ermitão possam parecer à primeira vista, quando se analisa mais detalhadamente seu comportamento e anatomia surgem características refletindo sua relação e podemos imaginar como um pequeno e contorcido crustáceo evoluiu para se tornar rei.

Por exemplo, muitos caranguejos-ermitões possuem um corpo posterior assimétrico e enrolado, o que lhes permite caber no interior das conchas casas móveis).

Na evolução do caranguejo-rei, esse corpo posterior se tornou reduzido e achatado sob a parte frontal do corpo.

Mesmo assim, traços de assimetria podem ser vistos no corpo posterior do caranguejo-rei. Além disso, caranguejos-ermitões assimétricos costumam ter uma garra direita maior, como o caranguejo-rei.

Também podemos visualizar melhor essa ancestralidade observando o estilo de vida do caranguejo-dos-coqueiros.

Esta espécie pode pesar até 4 quilos e é o maior artrópode em terra firme. Na verdade, ele é membro da superfamília do caranguejo-ermitão.

Enquanto os caranguejos adultos são livres e possuem corpos rígidos, os espécimes jovens possuem um corpo posterior macio e vivem dentro de conchas abandonadas. Os dois estágios de vida desta espécie demonstram que a mudança de ermitão a rei não seria tão complicada quanto parece.


Elefante e seus primos pequenos e aquáticos


Outro exemplo bem estabelecido de aparência enganosa no reino animal envolve o damão-do-cabo (também conhecido por hirax), o elefante e o peixe-boi.

Observando as formas modernas desses três mamíferos, é difícil suspeitar que eles sejam intimamente ligados.

O damão, que pesa de 3,5 a 4,5 quilos e lembra um porquinho-da-índia, vive em fendas de rochas na África e partes do Oriente Médio.

Parece pouco provável que seja parente próximo do elefante africano, animal de 5 toneladas, ou do enorme peixe-boi.

Novamente, porém, evidências de DNA deixam muito claro que essas espécies, que pertencem a três ordens distintas, fazem parte de um grupo mais amplo conhecido como Paenungulata – oriundo de um ancestral comum, que viveu na África há cerca de 60 milhões de anos.

Cada um dos três grupos – hiracoides (damão), sirenídeos (peixe-boi e dugongo) e proboscídeos (elefantes) – representa os parentes vivos mais próximos dos outros dois.

Esse parentesco também aparece em traços específicos de anatomia e comportamento dos animais.

Por exemplo, ao procurar pelos testículos dos machos (não que eu recomende a prática, especialmente em elefantes), o órgão não seria encontrado. Nesses grupos, os testículos ficam no interior do abdômen.

Os animais também compartilham detalhes iguais na língua, cascos e algumas características do esqueleto.

Adicionalmente, todos possuem gestações muito longas; o damão leva de 7 a 8 meses, tempo excepcional para um mamífero relativamente pequeno.

Embora estes relacionamentos evolutivos sejam surpreendentes, o que não surpreende é o primeiro naturalista a perceber como as aparências podem enganar: Charles Darwin.

Um toque de gênio em “A Origem das Espécies” foi começar o livro com uma discussão sobre animais domesticados, como os pombos que ele havia criado por muitos anos.

Darwin apontou as grandes disparidades entre o English carrier, o pombo de face curta, o pouter, o Rhipidura e outras raças.

Ele sugeriu que esses pássaros, “se mostrados a um ornitólogo e se lhe dissessem se tratar de aves selvagens, certamente seriam classificados como espécies bem definidas”.

Mesmo assim, afirmou Darwin, todos eles eram descendentes do mesmo pombo-das-rochas.

Assim, esta observação definiu os alicerces das explicações de Darwin sobre as conexões entre a grande diversidade de formas no planeta – conexões que continuam a nos surpreender 150 anos depois, enquanto biólogos pesquisam a vida pelo DNA.


Fonte: IG

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