A teia que aranhas mergulhadoras constroem e enchem de ar para formar uma bolha funciona como uma guelra de peixe, permitindo que os aracnídeos permaneçam embaixo da água por longos períodos de tempo, um estudo revelou.
A espécie, conhecida como Argyroneta aquatica, habita pequenos lagos e riachos de pouca correnteza na Europa e Ásia.
Elas passam praticamente toda a vida sob a água, se acasalando, colocando ovos e capturando suas presas em suas bolhas.
Em estudo publicado na revista científica Journal of Experimental Biology, cientistas mediram a quantidade de oxigênio dentro e também na área externa em torno da bolha.
Eles concluíram que a bolha funciona como uma guelra, extraindo oxigênio dissolvido na água e dispersando dióxido de carbono acumulado no interior.
O mecanismo permite que elas subam à superfície apenas uma vez por dia ou menos, em vez de a cada 20 ou 40 minutos, como se pensava anteriormente.
Experimento
As teias de seda da aranha mergulhadora são construídas em meio à vegetação subaquática.
Para encher sua "cápsula de mergulho" com ar, as aranhas usam pêlos finos presentes em seu abdômen para transportar bolhas de ar da superfície para baixo.
Para compreender com que regularidade as criaturas reabastecem suas bolhas, os especialistas em invertebrados Roger Seymour e Stefan Hetz coletaram espécimes encontrados no rio Eider, na Alemanha.
No laboratório, eles criaram um lago artificial simulando as condições encontradas em uma lagoa de água parada e rica em vegetação em um dia quente de verão.
Usando um aparelho chamado optodo, os pesquisadores mediram as diferenças em níveis de oxigênio dentro da bolha e na água em torno dela, identificando uma troca de gases semelhante à que é realizada pelas guelras de animais que respiram embaixo da água.
"Foi necessário usar os minúsculos optodos sensíveis ao oxigênio", disse Seymour. O especialista explicou que esse tipo de instrumento só ficou disponível nos últimos cinco ou dez anos.
"À medida que a aranha consome o oxigênio do ar dentro da cápsula, ela diminui a concentração de oxigênio no interior", explicou.
"O oxigênio pode descer abaixo do nível de oxigênio dissolvido na água. Quando isso acontece, oxigênio da água pode ser direcionado para dentro da bolha", explicou o cientista.
"O dióxido de carbono que a aranha produz não é um problema, porque é facilmente dissolvido na água e nunca se acumula".
Nitrogênio
As aranhas mergulhadoras tem, no entanto, de lidar com um problema que não aflige animais que usam guelras para absorver oxigênio da água e eliminar o dióxido de carbono: o que fazer com os outros gases contidos no ar que carregam para o interior da bolha.
"Se você absorve um dos gases de uma mistura de gases no interior de uma bolha, a concentração dos outros gases aumenta", disse Seymour.
"O oxigênio é tirado da bolha, e como o CO2 não se acumula, isso faz com que o nitrogênio na bolha aumente em concentração".
Na medida em que o nitrogênio da bolha se dispersa, a estrutura começa a desmoronar, mas isso acontece lentamente - segundo as observações dos cientistas, o processo demora mais ou menos um dia.
"A aranha é capaz de ficar na cápsula de mergulho em dias muito quentes, quando seu metabolismo é maior? do que o normal, se a água for bem oxigenada", explicou Seymour.
Isso significa que ela não precisa retornar à superfície com frequência, evitando o risco de ser pega por predadores como pássaros.
Os períodos prolongados de mergulho também permitem que as aranhas esperem, sem ser perturbadas, pela passagem de suas presas.
Fonte: BBC
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