quinta-feira, 9 de junho de 2011

Portugueses não descobriram os Açores


O investigador Joaquim Fernandes, da Universidade Fernando Pessoa, Porto, escreveu o romance "O Cavaleiro da Ilha do Corvo", onde defende, baseado em fatos reais, que a descoberta do arquipélago dos Açores ocorreu muito antes da chegada dos portugueses.

O professor universitário recorda como os navegadores portugueses que chegaram à pequena ilha do Corvo, nos Açores, em meados do século XV, encontraram ali uma intrigante estátua de pedra, representando um cavaleiro com traços característicos do norte de África.

A notícia, normalmente ignorada nos relatos oficiais, tem no entanto uma fonte histórica autorizada: Damião de Góis (1502-1574), o grande humanista português do Renascimento, que descreve, com algum detalhe, no capítulo IX da sua Crônica do Príncipe D. João, escrita em 1567, as circunstâncias em que o inesperado monumento - "antigualha mui notável", como lhe chama - foi achado no noroeste da pequena ilha, a que os mareantes chamavam "Ilha do Marco".

O cronista refere que a descoberta ocorreu no período a que classificou de "nossos dias", ou seja, no seu tempo de vida, provavelmente entre os finais do século XV e os inícios de XVI, no decurso do reinado de D. Manuel I e durante as primeiras tentativas de colonização da ilha do Corvo.

O monumento era "uma estátua de pedra posta sobre uma laje, que era um homem em cima de um cavalo em osso, e o homem vestido de uma capa de bedém, sem barrete, com uma mão na crina do cavalo, e o braço direito estendido, e os dedos da mão encolhidos, salvo o dedo segundo, a que os latinos chamam índex, com que apontava contra o poente."

"Esta imagem, que toda saía maciça da mesma laje, mandou el-rei D. Manuel tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D'armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o Inverno passado", refere o cronista.

"Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber", acrescenta.

A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vaso de cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e de prata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos 340 e 320 antes de Cristo.

As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI, alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S. Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições de uma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.

Todas estas perplexidades levaram Joaquim Fernandes, autor de vários ensaios sobre as aparições de Fátima e o fenômeno OVNI, a enveredar pela via do romance e escrever "O Cavaleiro da Ilha do Corvo".

No romance, o autor refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: um mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma um desenho, uma forma de aviso, com uma legenda em latim onde se diz: "Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules..."

Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição das Estátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos que corriam os navegadores mais ousados.

Açores: encontradas sepulturas com 2 mil anos


Achado poderá indicar uma ocupação das ilhas anterior à presença portuguesa.

Dezenas de hipogeus (estruturas escavadas na rocha usadas no Mediterrâneo como sepulturas) foram descobertas nas ilhas do Corvo e Terceira, nos Açores. Tratam-se de monumentos que poderão ter dois mil anos, o que poderá indicar uma ocupação das ilhas anterior à presença portuguesa.

«No Corvo são dezenas de estruturas, que estão à vista, e tudo indica que se tratam de monumentos muito antigos, porque inclusivamente situam-se em áreas onde não houve agricultura», disse o presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), Nuno Ribeiro, em declarações à Lusa.

Os hipogeus em causa, «ainda não estudados pela arqueologia», foram encontrados no Corvo e Terceira, durante um passeio, em Agosto de 2010, que o arqueólogo Nuno Ribeiro, efetuou aquelas ilhas.

Segundo o presidente da APIA, «são estruturas escavadas na rocha, que estão à vista, cuja planta de forma uterina denuncia a sua possível utilização como necrópoles».

O presidente da APIA acrescentou que «na Terceira tinham surgido vários vestígios» sobre os monumentos em causa, mas «nunca foram realizados trabalhos arqueológicos».

«Este tipo de monumentos tem paralelos no mundo mediterrânico, e nas culturas Grega e Cartaginesa, entre os séculos IX e o século III a.C., e eram usados como sepulturas», descreveu o arqueólogo, salientando que as estruturas «eram comuns na época Romana».

Nuno Ribeiro admitiu que os monumentos em causa «possam ter mais de dois mil anos», mas salientou que a datação das estruturas «terá que ser fundamentada e averiguada» através de trabalhos arqueológicos que a APIA conta realizar «ainda este ano, com o apoio das autarquias e do Governo regional».

«Vamos apresentar um projeto até final de Março, para averiguar a antiguidade, com vista à realização das investigações científicas, nomeadamente escavações e trabalhos de profundidade», referiu Nuno Ribeiro, acrescentando que há indicações que apontam para «a existência de hipogeus também na ilha das Flores».

O arqueólogo salientou a importância dos monumentos, observando que a comprovar-se a antiguidade das estruturas «é possível que a ocupação das ilhas tenha sido anterior à presença portuguesa».

«As estruturas indicam que poderão ter construído aqueles monumentos para sepultar alguém, ou seja, que alguém há mais de dois mil anos tenha estado nas ilhas», admitiu.

As descobertas no arquipélago dos Açores foram apresentadas no Congresso XV SOMA 2011, Arqueologia do Mediterrâneo que se realizou na Universidade de Catania, Sicília, Itália, numa conferência apresentada por arqueólogos da APIA.

Fonte: Açoriano Oriental/TVI 24

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