quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Chile quer recuperar mineiro 'mumificado' de 1,5 mil anos


Um ano após o acidente que prendeu 33 mineiros por 70 dias na mina San José, o Chile quer recuperar o corpo mumificado do primeiro minerador vítima de desmoronamento de sua história, o "homem de cobre", que se encontra atualmente no Museu de História Natural em Nova York.

Datado do ano 500 d.C., o "homem de cobre" serve para destacar a profunda ligação desse país andino com a mineração.

A múmia foi descoberta em 1899 na mina Restauradora, precursora do atual complexo de Chuquicamata, onde foi conservada naturalmente graças a um filme de cobre, o que lhe valeu o apelido.

Magdalena Krebs, diretora de Arquivos e Bibliotecas do Chile, foi para os Estados Unidos para se reunir com membros do museu - uma instituição privada - que, segundo ela, manifestaram interesse em devolver a múmia ao país de origem.

A múmia, descoberta no século 19, foi encontrada com seus utensílios de trabalho e alguns de uso pessoal.

Aparentemente quando descia para extrair minerais houve um desmoronamento, como o que ocorreu na mina San José, mas o desenlace não foi tão feliz.

"Ele ficou asfixiado pela falta de oxigênio", disse Magdalena. O corpo ficou esmagado, e a natureza se encarregou de conservá-lo, embora com uma particularidade.

O solo, rico em cobre, uniu-se à falta de oxigênio e a de umidade para provocar uma reação que cobriu seu corpo de uma película esverdeada.

Após ser descoberto, foi vendido a um indivíduo que o exibiu como "curiosidade" em Valparaíso e Santiago.

Depois, foi transportado para os EUA para uma mostra na Feira Pan-americana de Buffalo em 1901. Por fim, graças a uma doação do banqueiro John Piper Morgan, ficou no Museu de História Natural de Nova York, onde ainda se encontra.

Magdalena, que participou da inauguração da exposição "Against All Odds: Rescue at the Chilean Mine" em Washington, dedicada ao resgate dos 33 mineiros, se reuniu em Nova York com Judith Levinson, diretora de conservação da divisão de Antropologia do museu nova-iorquino.

Segundo a chilena, elas conversaram sobre como transferir e conservar a múmia em caso de devolução. Em poucos meses, o Chile terá que apresentar um relatório com sua proposta.


Mumificação natural



O principal risco da transferência é que o "homem de cobre" pode sofrer alguma fratura já que, segundo Magdalena, o corpo não teve um processo de mumificação, como em outros enterros da antiguidade, pois foi a natureza que se encarregou de preservá-lo.

Para a diretora, recuperar o "homem de cobre" representaria um grande valor simbólico, já que seria uma mostra de que "faz mais de 1.500 anos que a mineração tem um sentido econômico", e proporcionaria uma nova dimensão antropológica à história do Chile.

"Temos artefatos pré-colombianos, mas este seria o primeiro vestígio humano que registra nossa ligação com a mineração", afirmou. Além disso, representaria um vínculo com a população, que com o acidente dos mineiros passou a ter consciência de sua importância e do quão duro é o trabalho nesse setor.

"Ao contrário da agricultura, a mineração não está tão em evidência, é algo que está distante, na Alta Cordilheira, porém, é uma atividade muito relevante para nossa economia", disse.

A mineração representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Chile, segundo dados do Ministério de Minas, que indicou que este metal constitui 50% das exportações chilenas. Do total de minerais, o cobre representa 89%.

A múmia está conservada em um caixão de vidro climatizado com temperatura estável e umidade relativamente baixa para que não sofra nenhuma deterioração.

Devido à postura em que o homem foi mumificado, não se sabe com exatidão sua estatura, embora haja estimativas de que seja de 1,65 metro.

O homem vestia uma peça de tecido rústico de lã de lhama, e nos tornozelos tinha dois adornos de tiras de couro do mesmo animal, com lã, também tingidos de verde pela decomposição do óxido de cobre.


Fonte: Terra

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