Bruxas de Salem
Sigmund Freud se concentrou nesse desafiador conjunto de sintomas, que envolvia desde alucinações até paralisia de algumas partes do corpo.
Em 1676, na França, uma mulher de 46 anos foi queimada em praça pública, acusada de bruxaria. No entanto, ela se assemelhava muito pouco à imagem da feiticeira libertina que chegava aos sabás montada em um cabo de vassoura.
Segundo os depoimentos de testemunhas, Marie d'Aubray, marquesa de Brinvilliers, apresentava contrações nervosas frequentes na face e, não raro, convulsões. Tinha um histórico de violência sexual e confessou que planejou envenenar o pai, pois ele era contra seu relacionamento com um jovem oficial.
Condenada à fogueira, a marquesa de Brinvilliers, se fosse examinada dois séculos depois pelo médico Jean-Martin Charcot (1825-1893), no hospital francês La Salpêtrière, teria seus sintomas exibidos em uma aula para médicos recém--formados, entre eles Sigmund Freud (1856-1939).
No século 19, os casos de bruxaria e possessões demoníacas migraram dos domínios da religião e da lei para o da medicina. As visões de Satanás e os sintomas físicos de uma atuação maligna passaram a ser, aos poucos, cogitados como alucinações e sintomas de patologias que mal começavam a ser identificadas, como epilepsia e histeria.
Charcot, aliás, analisava registros de antigos processos de bruxaria em suas aulas sobre doenças do sistema nervoso, apontando sinais de possíveis distúrbios nas acusadas.
Freud se interessou especialmente pelos casos de histeria – um desafiador conjunto de sintomas, sem causa orgânica aparente, que envolvia desde alucinações até a paralisia de algumas partes do corpo, mais frequente em mulheres.
Sob a influência de Charcot, o médico aus-tríaco usou a hipnose para tentar descobrir vivências dolorosas do passado de suas pacientes, muitas vezes esquecidas, o que ele chamava de “trauma”. Segundo Freud, ao se lembrarem do evento, elas reviveriam as emoções que não puderam expressar de forma adequada no passado.
Surgiam assim a noção de recalque e o tratamento centrado na fala, fundamentais na psicanálise. Diante de desejos intensos e repressões igualmente fortes, a organização psíquica da histérica elabora fantasias e se manifesta em somatizações.
Uma “teatralização” que, segundo sugerem documentos históricos sobre os grandes julgamentos de feitiçaria, encontrou um público sedento pelo bizarro e o espetacular. E, nesse sentido, nada mais sedutor que a bruxaria.
“A histeria é uma forma específica de se relacionar com o outro. O sintoma explicitado no corpo pode ser considerado como instrumento a mais para tentar estabelecer vínculos”, define o psicólogo Fábio Riemenschneider, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), autor de Histeria, para além dos sonhos (Casa do Psicólogo, 2004).
Segundo o psicólogo, essa complexa engrenagem tem uma peça fundamental: o intenso – e recalcado – desejo pela figura parental do sexo oposto durante a infância, o que Freud definiu como “complexo de Édipo”.
Esse conflito psíquico se manifesta principalmente na sexualidade. É uma queixa pela falta do objeto amado e desejado, que se reflete na criação de fantasias, nos atos (falhos ou não) e na busca por formas alternativas de satisfação da fantasia edípica.
“Certamente, muitas das 'bruxas' foram queimadas por seus sintomas e não por seus supostos poderes mágicos”, diz Riemenschneider.
Fonte: Mente Cérebro
Em 1676, na França, uma mulher de 46 anos foi queimada em praça pública, acusada de bruxaria. No entanto, ela se assemelhava muito pouco à imagem da feiticeira libertina que chegava aos sabás montada em um cabo de vassoura.
Segundo os depoimentos de testemunhas, Marie d'Aubray, marquesa de Brinvilliers, apresentava contrações nervosas frequentes na face e, não raro, convulsões. Tinha um histórico de violência sexual e confessou que planejou envenenar o pai, pois ele era contra seu relacionamento com um jovem oficial.
Condenada à fogueira, a marquesa de Brinvilliers, se fosse examinada dois séculos depois pelo médico Jean-Martin Charcot (1825-1893), no hospital francês La Salpêtrière, teria seus sintomas exibidos em uma aula para médicos recém--formados, entre eles Sigmund Freud (1856-1939).
No século 19, os casos de bruxaria e possessões demoníacas migraram dos domínios da religião e da lei para o da medicina. As visões de Satanás e os sintomas físicos de uma atuação maligna passaram a ser, aos poucos, cogitados como alucinações e sintomas de patologias que mal começavam a ser identificadas, como epilepsia e histeria.
Charcot, aliás, analisava registros de antigos processos de bruxaria em suas aulas sobre doenças do sistema nervoso, apontando sinais de possíveis distúrbios nas acusadas.
Freud se interessou especialmente pelos casos de histeria – um desafiador conjunto de sintomas, sem causa orgânica aparente, que envolvia desde alucinações até a paralisia de algumas partes do corpo, mais frequente em mulheres.
Sob a influência de Charcot, o médico aus-tríaco usou a hipnose para tentar descobrir vivências dolorosas do passado de suas pacientes, muitas vezes esquecidas, o que ele chamava de “trauma”. Segundo Freud, ao se lembrarem do evento, elas reviveriam as emoções que não puderam expressar de forma adequada no passado.
Surgiam assim a noção de recalque e o tratamento centrado na fala, fundamentais na psicanálise. Diante de desejos intensos e repressões igualmente fortes, a organização psíquica da histérica elabora fantasias e se manifesta em somatizações.
Uma “teatralização” que, segundo sugerem documentos históricos sobre os grandes julgamentos de feitiçaria, encontrou um público sedento pelo bizarro e o espetacular. E, nesse sentido, nada mais sedutor que a bruxaria.
“A histeria é uma forma específica de se relacionar com o outro. O sintoma explicitado no corpo pode ser considerado como instrumento a mais para tentar estabelecer vínculos”, define o psicólogo Fábio Riemenschneider, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), autor de Histeria, para além dos sonhos (Casa do Psicólogo, 2004).
Segundo o psicólogo, essa complexa engrenagem tem uma peça fundamental: o intenso – e recalcado – desejo pela figura parental do sexo oposto durante a infância, o que Freud definiu como “complexo de Édipo”.
Esse conflito psíquico se manifesta principalmente na sexualidade. É uma queixa pela falta do objeto amado e desejado, que se reflete na criação de fantasias, nos atos (falhos ou não) e na busca por formas alternativas de satisfação da fantasia edípica.
“Certamente, muitas das 'bruxas' foram queimadas por seus sintomas e não por seus supostos poderes mágicos”, diz Riemenschneider.
Fonte: Mente Cérebro
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