A sobrevivência de uma gata na cidade de Boston,
Estados Unidos, depois de uma queda de 19 andares, levantou a questão de
como os gatos conseguem escapar vivos de quedas de grandes alturas.
A dona da gata, Brittney Kirk, tinha deixado uma
janela entreaberta na semana passada para que a gata Sugar se
refrescasse, mas ela saiu e caiu em um gramado.
Segundo biólogos e veterinários, a habilidade dos gatos de sobreviver
a estas grandes quedas é uma questão simples de física, biologia da
evolução e fisiologia.
"Este episódio recente não surpreende. Sabemos
que animais exibem este comportamento e há muitos registros de
sobrevivência de gatos (a grandes quedas)", disse Jake Socha,
biomecânico na Universidade Virginia Tech.
Em um estudo realizado em 1987, que analisou
casos de 132 gatos que caíram de grandes alturas e foram levados para
uma clínica veterinária especializada em emergências em Nova York, os
cientistas observaram que 90% dos animais sobreviveram e apenas 37%
precisaram de atendimento de emergência para continuar vivos.
Um dos gatos, que caiu de uma altura de 32
andares diretamente no concreto, teve apenas um dente quebrado e um
problema no pulmão. Ele foi liberado 48 horas depois.
Feitos para a sobrevivência
Cientistas afirmam que os corpos dos gatos foram
construídos para resistir a quedas, desde o momento em que estão em
pleno ar até o instante em que atingem o chão.
Eles possuem uma área de superfície do corpo grande em relação ao peso, o que reduz a força com que chegam ao chão em uma queda.
A velocidade máxima alcançada por um gato em queda é menor comparada a humanos e cavalos, por exemplo.
Um gato de tamanho médio com seus membros
estendidos alcança uma velocidade máxima (ou velocidade terminal) de
cerca de 97 quilômetros por hora, enquanto que um homem de tamanho médio
chega à velocidade máxima por volta dos 193 quilômetros por hora,
segundo estudo de 1987 dos veterinários Wayne Whitney e Cheryl Mehlhaff.
Árvores
Gatos são animais que vivem, essencialmente, em
árvores. Quando não vivem em casas ou nas ruas de uma cidade, eles
tendem a viver em árvores.
Biólogos afirmam que, sendo assim, cedo ou tarde
eles acabam caindo. Gatos, macacos, répteis e outras criaturas vão
saltar para capturar presas e vão errar, ou um galho da árvore vai se
quebrar, ou o vento vai derrubá-los. Então, os processos evolutivos
deram a eles a capacidade de sobreviver a quedas.
"Ser capaz de sobreviver a quedas é algo muito
importante para animais que vivem em árvores e gatos estão entre estes
animais", disse Jake Socha.
"O gato doméstico ainda mantém as adaptações que permitiram que eles fossem bons vivendo em árvores."
Segundo os biólogos, por meio de seleção
natural, os gatos desenvolveram o instinto para sentir qual lado é o
lado para baixo, algo análogo ao mecanismo que humanos usam para o
equilíbrio.
Então, se eles tiverem tempo o bastante,
conseguem torcer o corpo como um ginasta e posicionar os pés embaixo do
corpo e, com isso, cair de pé.
"Todos que vivem em árvores têm o que chamamos
de reflexo aéreo para endireitar", disse Robert Dudley, biólogo no
laboratório de voo animal da Universidade da Califórnia Berkeley.
Pernas e paraquedas
Gatos também conseguem estender as pernas para criar um efeito de paraquedas, segundo Andrew Biewener, professor de biologia de organismos e evolucionária na Universidade de Harvard. No entanto, ainda não se sabe exatamente como isso desacelera a queda.
"Eles estendem as pernas, o que vai expandir a área de superfície do corpo", disse.
E, quando eles chegam ao chão, as pernas fortes dos gatos, feitas para escalar árvores, absorvem o impacto.
"Gatos têm pernas longas e bons músculos. São
capazes de saltar bem, os mesmos músculos direcionam a energia para a
desaceleração ao invés de quebrar ossos", explicou Jim Usherwood, do
laboratório de movimento e estrutura do Royal Veterinary College.
Ângulos e gatos urbanos
As pernas de um gato estão posicionadas em um ângulo diferente das pernas de homens ou cavalos por exemplo.
De acordo com Jake Socha, este ângulo diferente faz com que as forças "não sejam transmitidas diretamente" em uma queda.
"Se o gato caísse com as pernas diretamente
embaixo dele, em uma coluna, e (as pernas) o segurassem firmemente,
aqueles osso se quebrariam. Mas elas (as pernas) vão para o lado e as
juntas se dobram, e agora você está pegando aquela energia e colocando
nas juntas, com menos força indo para os ossos", disse.
Steve Dale, consultor especialista em
comportamento de gatos para a Winn Feline Foundation, afirmou que gatos
domésticos em áreas urbanas tendem a estar acima do peso e fora de forma
e, por isso, suas habilidades para conseguir se virar durante uma queda
e cair em cima das patas é menor.
"Aquela gata (de Boston) teve sorte. Mas muitos,
provavelmente a maioria, teriam tido problemas graves no pulmão ou
então fraturas nas pernas, talvez danos na cauda e também uma fratura na
mandíbula ou um dente quebrado", afirmou.
"A lição que se aprende é, por favor, coloquem telas nas janelas", acrescentou.
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