Uma equipe de investigadores liderada por um português descobriu, na
Reserva de Betampona, uma pequena área de floresta tropical em
Madagascar, um total de 76 espécies de rãs diferentes, 36 das quais são
potencialmente novas para a Ciência.
Em entrevista ao Boas Notícias,
Gonçalo Rosa, que coordenou a investigação, afirma que este é um achado
“extraordinário”.
A aventura começou em 2004, com uma curta visita a Betampona, mas a
investigação aprofundada só teve início três anos mais tarde, em 2007,
com uma nova expedição científica.
“Nesse ano, passei cerca de sete meses a acampar na reserva. Muito
trabalho pela noite fora à procura de anfíbios em charcos, rios e
ribeiras, a subir árvores para gravar um macho a cantar, e muito poucas
horas de sono!”, relembra o biólogo português.
“Esse período resultou,
depois, em muitos dias, semanas, meses a analisar dados, numa tentativa
de cruzar ao máximo possível toda a informação”.
Com o objetivo de caraterizar a fauna local de anfíbios, Gonçalo Rosa
e os colegas apostaram numa abordagem integrada que combinou “o estudo
dos traços morfológicos, ecológicos, genéticos e dos próprios cantos dos
exemplares que foram recolhidos”.
Segundo o especialista, esta abordagem integrada foi, aliás, o
elemento chave do estudo, entretanto publicado na revista Biodiversity
and Conservation. “Esta abordagem é cada vez mais essencial nos dias de
hoje para resolver o estatuto real de uma espécie que se afirma ser
‘nova’ com base apenas num aspeto, como a morfologia ou a genética”,
explica Gonçalo Rosa.
“Com uma análise integrativa existe uma maior robustez aquando da
identificação de uma espécie, dado que muitas delas são crípticas e
muito similares morfologicamente, o que torna impossível aplicar um
critério isolado para as diferenciar”, esclarece.
“Números de anfíbios em Betampona são ainda um mistério”
O longo trabalho efetuado culminou na descoberta de um total de 76
espécies, das quais 36 são potencialmente novas para a Ciência e 24 são
potencialmente endémicas, isto é, são apenas conhecidas naquela área
florestal e não existem em qualquer outro lugar do mundo.
“Honestamente, estes números de anfíbios em Betampona são ainda um
mistério!”, admite Gonçalo Rosa, que salienta que o achado é “espantoso,
não só pela diversidade incrivelmente elevada mas pelo número
impressionante de potenciais endemismos”.
Os números são ainda mais “extraordinários” quando comparados com os
observados noutras florestas tropicais da ilha mas também quando
pensados num contexto mundial. Isto porque Betampona é, de acordo com o
investigador “um fragmento de floresta muito peculiar e minúsculo”.
Projeto apoiado por fundos internacionais
Apesar das várias tentativas falhadas para obter financiamento
proveniente de empresas portuguesas para o projeto – “a maioria não
respondeu” às cartas enviadas e as poucas respostas obtidas “declinaram a
colaboração” – o biólogo conseguiu ajuda no estrangeiro para avançar
com os trabalhos.
“Recorremos a bolsas e fundos internacionais que foram essenciais
para o desenrolar do estudo. As principais fontes foram uma bolsa do
Wildcare Institute do Zoo de Saint Louis, o Museu Regional de Ciências
Naturais de Turim, em Itália, e a plataforma Gondwana Conservation and
Research”, conta.
Além de uma contribuição determinante para a Ciência, a descoberta
surge também como uma grande realização pessoal para Gonçalo Rosa.
“Sempre me interessei ao máximo pelos mistérios e a magia da Natureza e a
sua biodiversidade.
Poder contribuir desta forma para o seu melhor
conhecimento e consequente conservação é sem dúvida a minha maior
motivação”, sublinha o biólogo.
Gonçalo Rosa espera, assim, que “o conhecimento gerado seja útil e
possa ser posto em prática, não ficando apenas guardado em prateleiras
de bibliotecas a apanhar pó” e destaca “a importância dos media e de
outras plataformas de divulgação para que o mesmo possa chegar de forma
simples e acessível ao público”.
Fonte: Boas Notícias
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