sexta-feira, 11 de maio de 2012

Canibalismo no Brasil


Entre 1863 e 1864, 60 anos antes de a Alemanha condenar o “vampiro de Hannover”, Fritz Haarmann, pelo assassinato de 30 meninos cuja carne foi vendida como salsichas, fazia sucesso em um açougue da Rua do Arvoredo, em Porto Alegre, a “linguiça especial”. Verso e prosa consolidaram no imaginário da cidade a tese de que a iguaria era composta de carne humana. 


Ajudado pela húngara Catarina Palse, pelo açougueiro alemão Carlos Claussner e por mais dois comparsas, o bon-vivant José Ramos, apreciador de arte com uma adolescência parricida às costas, abateu seis pessoas, geralmente a machadada seguida de degola, segundo relata o historiador Décio Freitas no livro O maior crime da Terra


Ao acenar desistir dos crimes, Claussner seria também morto, embora sem se verter em linguiça: o corpo foi encontrado quando a polícia investigava dois assassinatos – comerciante português e seu caixeiro mirim – cometidos por Ramos já depois de Claussner desaparecer. 


Ramos falava português e alemão, lia poesia, comungava na Igreja da Matriz e, depois de matar, sentava à mesa e recitava um salmo da Bíblia. Ímã dos homens mortos por Ramos, Catarina – que tinha 12 anos quando foi estuprada e teve os pais e irmãos mortos por soldados russos – revelaria à polícia que o grupo provava as linguiças antes de levar ao comércio, priorizando a venda para as autoridades locais. 


O casal foi condenado em 12 de agosto de 1864 pelas mortes do português e do caixeiro: Ramos, à forca (pena depois revertida); Catarina, a 13 anos e 4 meses de prisão. No dia seguinte, Ramos foi condenado a 14 anos e um mês de prisão pelo assassinato de Claussner. 



Separados, mas em liberdade, ambos morrem doentes na Santa Casa (ela em 1891, ele em 1893). Incompletos e com folhas perdidas, os processos dos crimes não permitem afastar do caso o status de lenda urbana. Onde havia a Rua do Arvoredo hoje está a Coronel Fernando Machado. 





A Polícia Civil divulgou em 13 de abril de 2012 a prisão de um homem e duas mulheres por homicídio e canibalismo em Garanhuns (PE). Uma das detidas vendia salgados com restos de carne humana. O trio teria matado pelo menos três mulheres. 


Jorge Negromonte da Silveira, 50 anos, casado com Isabel Cristina Pires, 51 anos, também vivia com Bruna Cristina de Oliveira da Silva, 25 anos. Eles seriam membros de um grupo comprometido em diminuir a quantidade de pessoas no mundo. 


A polícia chegou ao trio ao investigar o desaparecimento de Giselly Helena da Silva, que recebeu proposta para ser babá de uma menina, mas, quando chegou à casa, foi dominada por Jorge, que é faixa preta em karatê. O cartão de crédito dela foi usado pelo menos quatro vezes após o sumiço. Isabel, que vendia os salgados, confessou os crimes e mostrou à polícia onde estavam enterrados os restos mortais de duas pessoas. 


“Eles comiam as vísceras das vítimas, como o fígado e o coração, para purificar a alma. E quando faltava ingrediente para as empadas, usavam os restos da carne das vítimas”, disse o comissário de polícia João Bosco Andrade. 


O grupo tirava de 8 kg a 10 kg de carne por vítima e obrigava uma menina de 5 anos a comer. Ela seria filha de Jéssica Camila da Silva Pereira, outra mulher assassinada pelo trio. 


Em diário impresso em 50 páginas, Jorge descreve um assassinato e a retirada da pele e da carne de uma adolescente. Jorge narra episódio em que uma das companheiras “desconfia que (a vítima) ainda se encontra com vida, pego uma corda, faço uma forca e coloco no pescoço do corpo, puxo para o banheiro e ligo o chuveiro para todo o sangue escorrer pelo ralo”. Em outro trecho, há relatos de canibalismo. 


“Pego uma lâmina e começo a retirar toda a sua pele, e logo depois a divido. (...) Nos alimentamos com a carne do mal, como se fosse um ritual de purificação, e o resto eu enterro no nosso quintal, cada parte em um lugar diferente.” O trio deve responder por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, entre outros crimes. 






Um desentendimento na madrugada de 20 de agosto de 2011 entre colegas de trabalho terminou em assassinato com esquartejamento e canibalismo às margens do rio Tocantins. Paulo César Rodrigues dos Santos, 50 anos, e Jacione Costa Dias, 20 anos, bebiam com Diosmar Rodrigues de Amorim, 26 anos, quando começou a briga. 


Assassinado com golpes de facão, Diosmar teve pênis, garganta, mãos, braços e pernas cortados. Os algozes ainda quiseram tirar o fígado e o coração da vítima. Paulo César assou e comeu um pedaço do fígado de Diosmar. 


O cadáver teria sido jogado no rio com a ajuda de Jailton Jesus da Cruz, 29 anos, encarregado de encontrar uma pedra para colocar dentro do corpo e evitar que ele boiasse. A estratégia se mostrou ineficaz: um pescador encontrou o corpo boiando nas proximidades da Colônia de Pescadores do Taquari. 


O caso foi denunciado por outro colega, que procurou uma viatura da Polícia Militar afirmando ter presenciado uma “cena bárbara” praticada por seus companheiros. Amadeu Rodrigues disse que havia uma “desavença” entre ele e os companheiros e pedia que a contenda fosse resolvida pelos policiais, a quem ele levou até o local do homicídio. 


Os três suspeitos foram presos em suas respectivas casas na segunda noite após o crime. Eles foram indiciados por homicídio qualificado, ocultação e destruição de cadáver. Paulo César admitiu ter dado “uma facada” e comido “sem sal um pedacinho do fígado dele”, mas não soube dar detalhes sobre o episódio porque “estava muito bêbado”. 




O garçom Fernando Henrique Alves, 20 anos, foi preso em 25 de agosto de 2011 após assassinar com uma faca de cozinha o cabeleireiro Gilvan Firmino Ferreira, 25 anos. 


O crime foi cometido em Alfenas, no sul de Minas Gerais, na garagem da própria casa de Gilvan, que teve o corpo esquartejado, as vísceras arrancadas, o pênis inserido na própria boca, os testículos arrancados, o rosto desfigurado a golpes de extintor de incêndio e um órgão frito, provado e, depois, oferecido a um cão. 


A vítima, que era homossexual, bebia vinho e consumia drogas com o garçom quando foi atacada. Fernando foi detido enquanto tomava café logo depois de deixar a casa da vítima. Apresentado pela Polícia Civil, Fernando disse à TV Alfenas: “Eu matei ele, rasguei ele todinho, peguei pedaço do órgão dele e fritei. Tentei comer, mas não deu, estava sem sal. Dei pro cachorro.” 


O jovem não se esquivou de pergunta sobre as razões do crime. “Motivo? Loucura. Para quem é do mundo do crime é isso mesmo, entendeu? Você dá droga, e (o drogado) faz coisas que vocês nem imaginam”, afirmou. 


Ativistas do movimento LGBT saíram às ruas pedindo Justiça e emitiram uma nota na qual relacionava o episódio com o assassinato a pauladas do jovem Gilvan na novela Insensato Coração, da TV Globo


No documento, a história de Gilvan – o da vida real – era contada desde a saída da casa em Pernambuco, onde os pais teriam se recusado a aceitar sua orientação sexual. 


O Movimento Gay de Alfenas (MGA) ainda ressaltou a calma do assassino, que sorria diante da ira popular e “depois de toda essa monstruosidade, foi tranquilamente para casa levando latas de cerveja”. 






Em 23 de novembro de 2007, um adolescente de 16 anos procurou a polícia de Mundo Novo (MS) com a boca suja de sangue para confessar participação na morte de Aparecido Antonio da Silva, 53 anos. 


O mentor do crime, Gilmar Alberto Wasckmam, 45 anos, foi encontrado dormindo tranquilamente em casa, também banhado pelo sangue da vítima, que teve o abdome rasgado de cima a baixo e órgãos internos devorados. 


Depois apelidado de “canibal gay” na região, Gilmar confessou ter utilizado um copo para recolher e beber cerca de 100 ml de sangue do abdome de Aparecido. À polícia, ele disse que o líquido era “gostoso”, mas reclamou do fígado – “muito amargo”.


O corpo de Aparecido foi deixado no local do crime, sobre um colchão em um casebre na avenida Campo Grande, com o saco escrotal decepado, as vísceras no chão e quase decapitado por um golpe de faca no pescoço. 


Gilmar foi condenado em júri popular a 16 anos e três meses de prisão (15 anos pelo homicídio, um ano e três meses por ter extraviado partes do cadáver).




Em março de 2011, foram presos Ismael Costa Vaz e Marcelino Alves dos Santos, escondidos em uma casa após o assassinato de Natanael Matoso às margens do rio Palha, em Castanheiras (RO). 


O motivo: o furto de R$ 50 e de pequena quantidade de crack. O método: perfuração no tórax. O grotesco: misturar um dos rins da vítima em um pastel e comer. 


A confissão foi de Ismael, que disse não ter se arrependido do crime, que foi desvendado por policiais do Serviço de Investigações e Capturas (Sevic) da delegacia de Policia Civil de Presidente Médici, com apoio do Núcleo de Inteligência da Polícia Militar de Rolim de Moura. 



Os dois suspeitos foram encaminhados ao Presídio Central. Em 4 de julho do ano passado, a 1ª Vara Criminal de Presidente Médici reconhecia pedido da defesa de Ismael para aferição de insanidade mental. 


A defesa de Marcelino pediu transferência para o presídio de Rolim de Moura alegando “questões de segurança”, o que foi negado por falta de vagas.




Fonte: Terra

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