Entre 1863 e 1864, 60 anos antes de a Alemanha condenar o “vampiro de
Hannover”, Fritz Haarmann, pelo assassinato de 30 meninos cuja carne
foi vendida como salsichas, fazia sucesso em um açougue da Rua do
Arvoredo, em Porto Alegre, a “linguiça especial”. Verso e prosa
consolidaram no imaginário da cidade a tese de que a iguaria era
composta de carne humana.
Ajudado pela húngara Catarina Palse, pelo açougueiro alemão Carlos
Claussner e por mais dois comparsas, o bon-vivant José Ramos, apreciador
de arte com uma adolescência parricida às costas, abateu seis pessoas,
geralmente a machadada seguida de degola, segundo relata o historiador
Décio Freitas no livro O maior crime da Terra.
Ao acenar desistir
dos crimes, Claussner seria também morto, embora sem se verter em
linguiça: o corpo foi encontrado quando a polícia investigava dois
assassinatos – comerciante português e seu caixeiro mirim – cometidos
por Ramos já depois de Claussner desaparecer.
Ramos falava português e alemão, lia poesia, comungava na Igreja da
Matriz e, depois de matar, sentava à mesa e recitava um salmo da Bíblia.
Ímã dos homens mortos por Ramos, Catarina – que tinha 12 anos quando
foi estuprada e teve os pais e irmãos mortos por soldados russos –
revelaria à polícia que o grupo provava as linguiças antes de levar ao
comércio, priorizando a venda para as autoridades locais.
O casal foi
condenado em 12 de agosto de 1864 pelas mortes do português e do
caixeiro: Ramos, à forca (pena depois revertida); Catarina, a 13 anos e 4
meses de prisão. No dia seguinte, Ramos foi condenado a 14 anos e um
mês de prisão pelo assassinato de Claussner.
Separados, mas em
liberdade, ambos morrem doentes na Santa Casa (ela em 1891, ele em
1893). Incompletos e com folhas perdidas, os processos dos crimes não
permitem afastar do caso o status de lenda urbana. Onde havia a Rua do
Arvoredo hoje está a Coronel Fernando Machado.
A Polícia Civil divulgou em 13 de abril de 2012 a prisão de um homem e
duas mulheres por homicídio e canibalismo em Garanhuns (PE). Uma das
detidas vendia salgados com restos de carne humana. O trio teria matado
pelo menos três mulheres.
Jorge Negromonte da Silveira, 50 anos, casado com Isabel Cristina
Pires, 51 anos, também vivia com Bruna Cristina de Oliveira da Silva, 25
anos. Eles seriam membros de um grupo comprometido em diminuir a
quantidade de pessoas no mundo.
A polícia chegou ao trio ao investigar o
desaparecimento de Giselly Helena da Silva, que recebeu proposta para
ser babá de uma menina, mas, quando chegou à casa, foi dominada por
Jorge, que é faixa preta em karatê. O cartão de crédito dela foi usado
pelo menos quatro vezes após o sumiço. Isabel, que vendia os salgados,
confessou os crimes e mostrou à polícia onde estavam enterrados os
restos mortais de duas pessoas.
“Eles comiam as vísceras das vítimas,
como o fígado e o coração, para purificar a alma. E quando faltava
ingrediente para as empadas, usavam os restos da carne das vítimas”,
disse o comissário de polícia João Bosco Andrade.
O grupo tirava de 8 kg
a 10 kg de carne por vítima e obrigava uma menina de 5 anos a comer.
Ela seria filha de Jéssica Camila da Silva Pereira, outra mulher
assassinada pelo trio.
Em diário impresso em 50 páginas, Jorge descreve um assassinato e a
retirada da pele e da carne de uma adolescente. Jorge narra episódio em
que uma das companheiras “desconfia que (a vítima) ainda se encontra com
vida, pego uma corda, faço uma forca e coloco no pescoço do corpo, puxo
para o banheiro e ligo o chuveiro para todo o sangue escorrer pelo
ralo”. Em outro trecho, há relatos de canibalismo.
“Pego uma lâmina e
começo a retirar toda a sua pele, e logo depois a divido. (...) Nos
alimentamos com a carne do mal, como se fosse um ritual de purificação, e
o resto eu enterro no nosso quintal, cada parte em um lugar diferente.”
O trio deve responder por homicídio qualificado e ocultação de cadáver,
entre outros crimes.
Um desentendimento na madrugada de 20 de agosto de 2011 entre colegas
de trabalho terminou em assassinato com esquartejamento e canibalismo
às margens do rio Tocantins. Paulo César Rodrigues dos Santos, 50 anos, e
Jacione Costa Dias, 20 anos, bebiam com Diosmar Rodrigues de Amorim, 26
anos, quando começou a briga.
Assassinado com golpes de facão, Diosmar
teve pênis, garganta, mãos, braços e pernas cortados. Os algozes ainda
quiseram tirar o fígado e o coração da vítima. Paulo César assou e comeu
um pedaço do fígado de Diosmar.
O cadáver teria sido jogado no rio com a ajuda de Jailton Jesus da
Cruz, 29 anos, encarregado de encontrar uma pedra para colocar dentro do
corpo e evitar que ele boiasse. A estratégia se mostrou ineficaz: um
pescador encontrou o corpo boiando nas proximidades da Colônia de
Pescadores do Taquari.
O caso foi denunciado por outro colega, que procurou uma viatura da
Polícia Militar afirmando ter presenciado uma “cena bárbara” praticada
por seus companheiros. Amadeu Rodrigues disse que havia uma “desavença”
entre ele e os companheiros e pedia que a contenda fosse resolvida pelos
policiais, a quem ele levou até o local do homicídio.
Os três suspeitos
foram presos em suas respectivas casas na segunda noite após o crime.
Eles foram indiciados por homicídio qualificado, ocultação e destruição
de cadáver. Paulo César admitiu ter dado “uma facada” e comido “sem sal
um pedacinho do fígado dele”, mas não soube dar detalhes sobre o
episódio porque “estava muito bêbado”.
O garçom Fernando Henrique Alves, 20 anos, foi preso em 25 de agosto
de 2011 após assassinar com uma faca de cozinha o cabeleireiro Gilvan
Firmino Ferreira, 25 anos.
O crime foi cometido em Alfenas, no sul de
Minas Gerais, na garagem da própria casa de Gilvan, que teve o corpo
esquartejado, as vísceras arrancadas, o pênis inserido na própria boca,
os testículos arrancados, o rosto desfigurado a golpes de extintor de
incêndio e um órgão frito, provado e, depois, oferecido a um cão.
A vítima, que era homossexual, bebia vinho e consumia drogas com o
garçom quando foi atacada. Fernando foi detido enquanto tomava café logo
depois de deixar a casa da vítima. Apresentado pela Polícia Civil,
Fernando disse à TV Alfenas: “Eu matei ele, rasguei ele todinho, peguei
pedaço do órgão dele e fritei. Tentei comer, mas não deu, estava sem
sal. Dei pro cachorro.”
O jovem não se esquivou de pergunta sobre as
razões do crime. “Motivo? Loucura. Para quem é do mundo do crime é isso
mesmo, entendeu? Você dá droga, e (o drogado) faz coisas que vocês nem
imaginam”, afirmou.
Ativistas do movimento LGBT saíram às ruas pedindo Justiça e emitiram
uma nota na qual relacionava o episódio com o assassinato a pauladas do
jovem Gilvan na novela Insensato Coração, da TV Globo.
No
documento, a história de Gilvan – o da vida real – era contada desde a
saída da casa em Pernambuco, onde os pais teriam se recusado a aceitar
sua orientação sexual.
O Movimento Gay de Alfenas (MGA) ainda ressaltou a
calma do assassino, que sorria diante da ira popular e “depois de toda
essa monstruosidade, foi tranquilamente para casa levando latas de
cerveja”.
Em 23 de novembro de 2007, um adolescente de 16 anos procurou a
polícia de Mundo Novo (MS) com a boca suja de sangue para confessar
participação na morte de Aparecido Antonio da Silva, 53 anos.
O mentor
do crime, Gilmar Alberto Wasckmam, 45 anos, foi encontrado dormindo
tranquilamente em casa, também banhado pelo sangue da vítima, que teve o
abdome rasgado de cima a baixo e órgãos internos devorados.
Depois
apelidado de “canibal gay” na região, Gilmar confessou ter utilizado um
copo para recolher e beber cerca de 100 ml de sangue do abdome de
Aparecido. À polícia, ele disse que o líquido era “gostoso”, mas
reclamou do fígado – “muito amargo”.
O corpo de Aparecido foi deixado no local do crime, sobre um colchão em
um casebre na avenida Campo Grande, com o saco escrotal decepado, as
vísceras no chão e quase decapitado por um golpe de faca no pescoço.
Gilmar foi condenado em júri popular a 16 anos e três meses de prisão
(15 anos pelo homicídio, um ano e três meses por ter extraviado partes
do cadáver).
Em março de 2011, foram presos Ismael Costa Vaz e Marcelino Alves dos
Santos, escondidos em uma casa após o assassinato de Natanael Matoso às
margens do rio Palha, em Castanheiras (RO).
O motivo: o furto de R$ 50 e
de pequena quantidade de crack. O método: perfuração no tórax. O
grotesco: misturar um dos rins da vítima em um pastel e comer.
A confissão foi de Ismael, que disse não ter se arrependido do crime,
que foi desvendado por policiais do Serviço de Investigações e Capturas
(Sevic) da delegacia de Policia Civil de Presidente Médici, com apoio do
Núcleo de Inteligência da Polícia Militar de Rolim de Moura.
Os dois
suspeitos foram encaminhados ao Presídio Central. Em 4 de julho do ano
passado, a 1ª Vara Criminal de Presidente Médici reconhecia pedido da
defesa de Ismael para aferição de insanidade mental.
A defesa de
Marcelino pediu transferência para o presídio de Rolim de Moura alegando
“questões de segurança”, o que foi negado por falta de vagas.
Fonte: Terra
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