O feito é extraordinário pelos padrões da biologia sintética, mas a
maneira que ele foi feito também não deixa de ser extraordinária, pelo
tanto de determinação e perseverança que exigiu.
A ideia é simples: utilizar uma parte do DNA como uma chave lógica. O
processo escolhido para fazer isto foi colocar meia dúzia de genes em
uma região inativa do DNA, em locais que instruem uma enzima a recortar o
trecho do DNA e a colá-lo novamente, mas com a posição invertida.
Até aí, foi ideia do professor Drew Endy, da Universidade Stanford, na Califórnia (EUA). O código da Escherichia coli seria usado como chave, e os locais seriam constituídos por trechos de um bacteriófago, um vírus que ataca bactérias.
O trecho do código do bacteriófago selecionado foi escolhido por
parecer o mais promissor na tarefa de cortar e reorientar o DNA, só que
não foi o caso.
Coube então ao estudante Jerome Bonnet, o líder da
equipe, a tarefa de fazer o sistema funcionar. E ele conseguiu, depois
de 750 projetos diferentes, resolvendo cada novo problema que apareceu.
Jerome comenta que é uma triste crítica ao estado em que se encontra a
biologia sintética o fato dele precisar fazer 750 tentativas diferentes
para conseguir programar a expressão de meia dúzia de genes. “É como
escrever um código de seis linhas no computador e ter que fazer 750
depurações para fazer funcionar”.
E o sistema funciona. O grupo conseguiu demonstrar que ele consegue
fazer estas mudanças de orientação, que podem representar “0” e “1” pelo
menos 16 vezes.
Este tipo de contador poderia ser usado para manter um
registro de eventos dentro da célula, como por exemplo o número de
duplicações pelo qual uma célula-tronco passa até atingir o estado
adulto.
Além de ser um sistema verdadeiramente digital, a informação é
armazenada na célula sem envolver gasto de energia, diferente de outros sistemas já desenvolvidos por outros grupos.
O biólogo sintético Eric Klavins, da Universidade Washington, em
Seattle (EUA), concorda que no estágio atual conseguir que um sistema
destes funcione demanda muitas tentativas e depurações, mas aponta que à
medida que as ferramentas de síntese de genes se tornarem mais rápidas e
baratas, isto também deve mudar.
E já existe uma iniciativa, a BIOFAB,
que pretende fornecer partes padronizadas e confiáveis para os biólogos
sintéticos.
Agora é aguardar o surgimento de mais novidades na área.
Fonte: Hypescience
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