O Homo aquaticus pode não estar tão longe quanto você imagina.
Respirar embaixo d’água é, provavelmente, uma das utopias mais
típicas da infância — eventualmente perdendo terreno apenas para o
desejo de voar.
Afinal, a água ainda representa uma das barreiras mais
óbvias ao espírito humano aventureiro, que ainda precisa se revestir de
uma parafernália considerável a fim de poder confraternizar com o mundo
subaquático. Mas será que esse sonho é ainda tão distante?
Embora atualmente respirar sob a superfície da água ainda implique em
uma série de inconvenientes, não se pode dizer que a fertilidade da sua
imaginação infantil não possa vislumbrar, hoje, uma possibilidade de
realização. É claro que as características próprias do organismo humano
ainda permanecem como o principal impedimento.
De fato, é pouco provável que os nossos pulmões um dia sejam capazes
de retirar o oxigênio livre na água, da forma como fazem os peixes.
Entretanto, entre possibilidades remotas envolvendo melhoramentos da
raça humana (algo que até já deu uma guerra, dizem) e tecnologias mais
“pé no chão”, fato é que, talvez, nós não estejamos assim tão distantes
de seguir os passos de personagens como Namor ou a Pequena Sereia —
identifique-se com quem quiser.
Entretanto, talvez delimitar o “problema” seja um bom começo, não? Vamos a ele.
Por que não conseguimos respirar embaixo d’água?
Sim, com certeza há uma boa explicação científica para aquela agonia
que você sentiu ao “engolir” água durante as últimas férias. Digamos,
algo um pouco melhor do que o tradicional “não respiramos embaixo d’água
porque os nossos pulmões não são adequados para tanto”.
Conforme explica o site HowStuffWorks,
a grande questão está no fato de que os elementos químicos, ao
combinarem-se entre si, acabam por gerar uma vastidão de produtos
fundamentalmente distintos. Dessa forma, ao juntar, digamos, carbono,
hidrogênio e oxigênio, o resultado tanto pode ser vinagre (C2H4O2)
quanto etanol (C2H5OH) ou ainda gordura.
Dessa forma, não espere que os seus pulmões simplesmente sejam
capazes de absorver o “O” de cada “H2O”. Por estar vinculado a duas
moléculas de hidrogênio, o oxigênio simplesmente forma outro composto (é
claro), tornando-se, portanto, completamente inútil para o nosso
organismo.
Mas... E os peixes?
Neste ponto, outra questão, bastante natural, pode surgir: “por que
os peixes conseguem aproveitar o oxigênio da água?”. Simples: porque, em
sentido estrito, não se trata realmente de um oxigênio “da água”, mas
sim do O2 presente “na água”. Quer dizer, trata-se de oxigênio
dissolvido.
Parece impossível? Não mesmo. Basta lembrar daquele refrigerante que
você vira de uma só vez em cada almoço — tão cheio de gás carbônico que
este é “obrigado” a deixar o líquido na forma de bolhas. Portanto, o que
os peixes fazem é retirar o oxigênio dissolvido na água — e que não
forma as moléculas do líquido.
O Homo Aquaticus (ou quase isso)
Em 1962, o cineasta e explorador francês Jacques Cousteau imaginou
que, em um futuro distante, nós poderíamos nos transformar na espécie “Homo aquaticus”,
com brânquias cirurgicamente implantadas.
De fato, caso você tenha lido
o tópico anterior, é possível que esteja, neste momento, apostando as
fichas juntamente com o Sr. Cousteau. O problema é que o “buraco é mais
embaixo”.
Talvez uma estrutura maluca que deixasse nosso sistema respiratório
semelhante ao dos peixes pudesse mesmo funcionar. Entretanto, o ar
atmosférico contém aproximadamente 20 vezes mais oxigênio livre do que o
mesmo volume de água — sim, você ficaria sem ar.
O peixe consegue
sobreviver com “tão pouco” por ter sangue frio, o que reduz a quantidade
necessária de oxigênio — de fato, mesmo as baleias precisam respirar
como nós.
Além disso, a água é muito mais difícil de transportar, pois é bem
mais densa do que o ar — sem levar em conta, ainda, questões
relacionadas à área de superfície do pulmão humano, que é incapaz de
capturar eficientemente o oxigênio presente na água.
Uma caçada ao O2 livre da água
Então os seus pulmões são inaptos para respirar sob a água, e a
quantidade de O2 nesta é também menor do que a necessidade humana.
Entretanto, sim. Ainda é possível imaginar uma forma de se respirar sob a
água... Embora não sem uma boa ajuda da tecnologia.
Conforme colocou a revista “Super Interessante” em sua edição
especial “A Ciência do Impossível”, durante os anos 1960, a dupla Walter
Robb e Charles Paganelli — químico e fisiologista, respectivamente —
conseguiu fazer com que um hamster e um cão respirassem embaixo d’água
por tempo indeterminado.
Para tanto, os dois envolveram os animais em uma membrana
semipermeável, a qual deixava passar apenas o oxigênio dissolvido na
água — impedindo, portanto, que o líquido entrasse.
Bem, mas então essa seria a solução definitiva para o ser humano?
Dificilmente. O oxigênio disponível dessa forma estabilizava-se em uma
concentração de 16%, sendo que o normal (no ar atmosférico) é de 21%.
Em outras palavras, não demoraria muito para que um ser humano acabasse
com o raciocínio lógico comprometido. Mas pode haver uma solução para
isso.
Transporte ativo de oxigênio
Já que deixar que o oxigênio simplesmente atravesse por “livre e
espontânea vontade” uma membrana não é possível, então uma ideia seria
forçar a sua passagem, certo? E há um aliado vital para isso no nosso
próprio corpo: a hemoglobina. Trata-se da metaloproteína responsável
pela transporte de oxigênio no nosso organismo.
De fato, pesquisadores dos EUA e do Japão chegaram a conceber a
“planta baixa” de um dispositivo capaz de transportar o oxigênio livre
da água até o seu sistema respiratório. Para liberar a molécula,
bastaria estimular eletricamente a hemoglobina.
Entretanto, há mais um equívoco nesse ponto: o oxigênio se torna
tóxico em determinadas profundidades, obrigando a injeção de nitrogênio
na mistura — já que, quanto maior a profundidade, maior é a diluição do
nitrogênio (principal componente do ar atmosférico). Neste ponto, talvez
seja interessante se lembrar de certo filme hollywoodiano.
Aprendendo com “O Segredo do Abismo”
A conclusão de boa parte dos pesquisadores, portanto, é que o
oxigênio deveria ser transportado para os pulmões em alguma forma de
líquido — tal e qual o funcionamento do traje de mergulho hipotético do
filme “O Segredo do Abismo” (The Abyss).
Isso porque, com líquidos, não
há problema de perda de nitrogênio, o que manteria o ar sempre em
equilíbrio.
Meio homem, meio alga
Sim, sempre é possível ir um pouco além. Deixando o desafio puramente
tecnológico de lado, há quem imagine a possibilidade de, um dia, fundir
os genes dos seres humanos com o de algas.
Eis de onde a quimera
surgiu: de acordo com o site Dailymail, pesquisadores descobriram
salamandras cujos ovos fundem-se com determinado tipo de alga — a qual é
perita em captar o oxigênio da água — e que ambos se tornam uma única
criatura.
Bem, combine a isso à descoberta dos pesquisadores da Universidade de
Halifax, Canadá, e o que se tem é a possibilidade de um homem-peixe.
De
acordo com cientistas, o DNA humano tem agregado centenas de vírus,
algo que se acumulou ao longo da história humana. Basta trocar os vírus
pelas algas e... Ok, é provável que isso ainda demore um pouco.
Fonte: Tecmundo
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