terça-feira, 29 de maio de 2012

O surgimento de uma nova espécie: o caso da jararaca-ilhoa


Jararaca-ilhoa (Bothropoides insularis), animal endêmico da Ilha da Queimada Grande - Foto: Otavio Marques/ Instituto Butantan/ Wikimedia Commons



A cobra, encontrada exclusivamente na Ilha da Queimada Grande (a 30 quilômetros da costa sul de São Paulo), se tornou diurna e subiu nas árvores para caçar aves, diferenciando-se das serpentes encontradas no continente. 


Seu veneno é cinco vezes mais letal em pássaros do que o da jararaca-comum, sua parente mais próxima. Como será que isso aconteceu? 


Há milhares de anos atrás o nível do mar sofria alterações expondo uma ponte entre a ilha e o continente. Durante esse período existia apenas uma espécie de jararaca naquele ambiente. 


Quando a ilha foi isolada definitivamente, após a última glaciação que elevou o nível dos oceanos (aproximadamente há 11 mil anos atrás), surgiram duas populações diferentes: uma insular e outra continental.


 Ilha da Queimada Grande


Um outro mundo se apresentava para as jararacas da Queimada Grande, oferecendo novas oportunidades. 


No continente as serpentes adultas estavam acostumadas com uma dieta baseada em pequenos roedores e permaneciam no chão, onde era mais fácil pegar uma presa. 



Jararaca-comum (Bothropoides jararaca), encontrada no continente - Foto: Fernando Tatagiba/ Wikimedia Commons



Na ilha não havia mamíferos, o que era uma vantagem para as cobras, que estavam livres de predadores, mas também gerava um problema: Como arranjar comida? A resposta estava no ar.


Aves migratórias utilizam a ilha como ponto de descanso, e são ótimas fontes de proteína para adicionar ao cardápio na falta de ratos.


Contudo, era preciso subir às alturas para pegá-las, e as jararacas insulares, sem outra alternativa, começaram a escalar árvores para conseguir o que comer.



No entanto, ainda era preciso adaptar a técnica de caça para as presas aladas. Roedores são noturnos e possuem dentes que podem causar um grande estrago. Assim, as jararacas do continente precisam caçar à noite e, após o bote, soltar a presa rapidamente para evitar uma mordida. Depois seguem a presa até que o veneno faça efeito e engolem o jantar.


Aves são diurnas e se forem soltas após a mordida podem voar para longe, impossibilitando o rastreamento. 


Assim as serpentes da Queimada Grande mudaram de tática, passando a caçar de dia e a agarrar a presa após o bote, para não deixá-la escapar. 


Durante milhares de anos as características mais vantajosas para esse novo estilo de vida — como cauda mais longa para sustentar o corpo nos galhos e um veneno cinco vezes mais letal para aves — foram sendo selecionadas (Seleção Natural) até que as cobras se tornaram tão diferentes de seus ancestrais que podem ser classificadas como uma nova espécie. Surgia assim a jararaca-ilhoa.


O tráfico de animais e a concentração da espécie em uma área tão pequena colocam a jararaca-ilhoa como aninal criticamente ameaçado de extinção segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês).




Fonte: Natgeo

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