Jararaca-ilhoa (Bothropoides insularis),
animal endêmico da Ilha da Queimada Grande - Foto: Otavio Marques/
Instituto Butantan/ Wikimedia Commons
A cobra, encontrada exclusivamente na Ilha da Queimada Grande (a 30 quilômetros da costa sul de São Paulo), se tornou diurna e subiu
nas árvores para caçar aves, diferenciando-se das serpentes encontradas
no continente.
Seu veneno é cinco vezes mais letal em pássaros do que o
da jararaca-comum, sua parente mais próxima. Como será que isso aconteceu?
Há milhares de anos atrás o nível do mar sofria alterações expondo
uma ponte entre a ilha e o continente. Durante esse período existia
apenas uma espécie de jararaca naquele ambiente.
Quando a ilha foi
isolada definitivamente, após a última glaciação que elevou o nível dos
oceanos (aproximadamente há 11 mil anos atrás), surgiram duas populações
diferentes: uma insular e outra continental.
Ilha da Queimada Grande
Um outro mundo se apresentava para as jararacas da Queimada Grande,
oferecendo novas oportunidades.
No continente as serpentes adultas
estavam acostumadas com uma dieta baseada em pequenos roedores e
permaneciam no chão, onde era mais fácil pegar uma presa.
Jararaca-comum (Bothropoides jararaca), encontrada no continente - Foto: Fernando Tatagiba/ Wikimedia Commons
Na ilha não
havia mamíferos, o que era uma vantagem para as cobras, que estavam
livres de predadores, mas também gerava um problema: Como arranjar
comida? A resposta estava no ar.
Aves migratórias utilizam a ilha como ponto de descanso, e são ótimas
fontes de proteína para adicionar ao cardápio na falta de ratos.
Contudo, era preciso subir às alturas para pegá-las, e as jararacas
insulares, sem outra alternativa, começaram a escalar árvores para
conseguir o que comer.
No entanto, ainda era preciso adaptar a técnica de caça para as
presas aladas. Roedores são noturnos e possuem dentes que podem causar
um grande estrago. Assim, as jararacas do continente precisam caçar à
noite e, após o bote, soltar a presa rapidamente para evitar uma
mordida. Depois seguem a presa até que o veneno faça efeito e engolem o
jantar.
Aves são diurnas e se forem soltas após a mordida podem voar para
longe, impossibilitando o rastreamento.
Assim as serpentes da Queimada
Grande mudaram de tática, passando a caçar de dia e a agarrar a presa
após o bote, para não deixá-la escapar.
Durante milhares de anos as
características mais vantajosas para esse novo estilo de vida — como
cauda mais longa para sustentar o corpo nos galhos e um veneno cinco
vezes mais letal para aves — foram sendo selecionadas (Seleção Natural) até que as cobras se tornaram tão diferentes de seus ancestrais que
podem ser classificadas como uma nova espécie. Surgia assim a
jararaca-ilhoa.
O tráfico de animais e a concentração da espécie em uma área tão
pequena colocam a jararaca-ilhoa como aninal criticamente ameaçado de extinção segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês).
Fonte: Natgeo
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