Em Poltergeist,
um dos maiores clássicos do cinema de terror, uma família que mora num
subúrbio americano se vê rodeada de fantasmas.
No começo, os visitantes
parecem inofensivos e fazem brincadeiras inocentes, como mover objetos
pela casa para o divertimento dos moradores.
Aos poucos, no entanto,
eles passam a aterrorizar os Freeling, a ponto de seqüestrarem a filha
caçula, Carol Anne, por meio de um canal de televisão.
Na vida real,
fenômenos como esses que aparecem no filme
produzido por Steven Spielberg não são levados muito a sério ou são
atribuídos a seres sobrenaturais.
Mas, para muitos parapsicólogos, a
explicação para boa parte desses acontecimentos – tirando, é claro,
episódios mais mirabolantes, como o seqüestro televisivo da garota –
está no fenômeno da psicocinese, ou seja, na suposta capacidade da mente
humana de agir a distância sobre a matéria.
Isso porque, segundo essa
teoria, a energia de cada um de nós pode se transformar e se
exteriorizar. Dirigida pela mente, ela atuaria sobre objetos,
movimentando-os e quebrando-os. O poltergeist (que em alemão significa “espírito barulhento”) seria um exemplo disso.
Nem todos os parapsicólogos aceitam a existência da psicocinese (conhecida também como telecinese),
que, por sinal, é bem menos estudada que outros fenômenos ditos
paranormais, como a telepatia e a clarividência.
Mesmo entre estudiosos
da área, há diferentes interpretações e muitas divergências em torno
desses fenômenos. Na explicação de uma linha da parapsicologia, os casos de poltergeist,
em geral, ocorrem com crianças na puberdade ou adolescentes que
atravessam uma fase de crise ou instabilidade emocional.
O inconsciente
da criança liberaria energia – chamada de telergia – para influir no
objeto. Entre os casos mais comuns de poltergeist
estariam o de objetos que mudam de lugar de maneira brusca e violenta,
janelas que são quebradas, lâmpadas que estouram de uma hora para outra e
ruídos que ocorrem aparentemente sem nenhuma explicação plausível.
Um caso típico foi relatado no livro O que É Parapsicologia
(Brasiliense, 1984), de Osmard Andrade Faria. Trata-se da história de
uma família que morava em Suzano, a 38 quilômetros de São Paulo.
O pai,
Ezequias de Souza, havia abandonado a esposa e a filha, Marilda, de 15
anos, para viver com outra mulher. Depois de algum tempo, a relação se
desfez e ele decidiu voltar a viver com sua antiga família.
No entanto,
Marilda, uma adolescente introvertida e agressiva, nunca perdoou a
aventura extraconjugal do pai. Segundo o relato do livro, após a volta
dele, a família passou a ser alvo de arremessos de pedra na residência.
Mais tarde, uma série de combustões espontâneas começou a acontecer pela
casa. Roupas se incendiavam inexplicavelmente e bolas de fogo desciam
do teto para atingir os móveis. Apavorada, a família buscou a ajuda de
autoridades e de um padre.
Após saber dos problemas familiares, o padre
achou que os acontecimentos estariam sendo provocados por forças
inconscientes de Marilda e aconselhou que a adolescente fosse afastada
do local.
Com a mudança da menina para a casa dos tios, os incidentes
cessaram. Quando ela retornou para a casa dos pais, no entanto, as bolas
de fogo voltaram a acontecer.
Diferentemente dos outros familiares,
Marilda nunca se apavorava diante dos poltergeists. Ao contrário, a
garota ria e parecia se divertir muito com eles.
Um dos casos mais estudados de psicocinese é o da russa Nina Kulagina.
Ela ficou famosa por supostamente conseguir movimentar a distância
objetos como palitos de fósforos, cigarros, bolas de cristal, pêndulos e
saleiros. Numa das experiências mais curiosas, ela teria feito parar o
coração de um sapo.
O fenômeno teria ocorrido num laboratório em 1970.
Um psiquiatra que tomou conhecimento do evento duvidou da história e se
ofereceu para uma experiência semelhante. Os dois se sentaram um de
frente para o outro a uma distância de 2 metros e meio.
Eletrodos de um
equipamento de eletrocardiografia foram colocados no psiquiatra. Em dois
minutos, segundo testemunhas, o coração do médico disparou de forma
assustadora.
O desgaste, registrado pelo eletrocardiograma, teria
chegado a tal ponto que a experiência teve de ser imediatamente suspensa
para que não ocorresse um incidente fatal.
Para comprovar os poderes
psicocinéticos de Nina,
algumas de suas demonstrações foram gravadas em fitas de vídeo. Mesmo
assim, cientistas mais céticos afirmam que as supostas habilidades da
russa não sobreviveriam a um teste mais rigoroso.
A psicocinese, assim
como outros fenômenos parapsicológicos, pode se manifestar em qualquer
pessoa, segundo Marcia Regina Cobêro, vice-presidente do Centro
Latino-Americano de Parapsicologia
(Clap), em São Paulo.
“Todos os seres humanos têm faculdades
parapsicológicas. Alguns manifestam, outros não. Se a pessoa, por
exemplo, está nervosa, a ponto de explodir, ela pode fazer um vidro se
partir. É um mecanismo de defesa. É melhor isso do que ter uma úlcera”,
afirma.
A parapsicóloga destaca, no entanto, que esses fenômenos são
espontâneos, involuntários e incontroláveis, ou seja, não dá para usar o
poder da mente com dia e hora marcados, como propagandeiam alguns
supostos paranormais, como Uri Geller.
O israelense ficou mundialmente famoso por entortar colheres,
“desmaterializar” objetos e desviar raios laser, entre outras coisas.
Fez fortuna com suas apresentações e chegou a visitar o Brasil nos anos
70 para participar de um programa na TV Globo.
Num dos episódios mais célebres, Uri Geller,
após fazer demonstrações de seus supostos poderes, pediu aos ouvintes
de um programa de rádio da Inglaterra que participassem de seu show.
Alguns minutos depois, choveu telefonemas de todo o país.
Pessoas
relatavam que facas, garfos, colheres e chaves começaram a entortar e a
se mexer espontaneamente. Relógios que estavam parados havia anos
voltaram a funcionar. “Com uma audiência de milhões de pessoas e sob
forte emoção, é possível que tenham ocorrido fenômenos parapsicológicos
autênticos.
Isso não significa que o responsável por tudo isso tenha
sido Uri Geller.
Provavelmente os próprios ouvintes, que talvez nem soubessem de seus
poderes paranormais, foram os autores de alguns fenômenos”, diz Marcia.
Truques na manga
O
grande problema são as fraudes que existem em torno dos fenômenos
parapsicológicos, já que estes podem ser facilmente reproduzidos com
truques.
Segundo Marcia, os truques incluem coisas simples, como colocar
um ímã debaixo de uma mesa e fazer moedas se movimentarem, colocar fios
de náilon para deslocar objetos ou passar um líquido em um objeto de
metal, fazendo com que minutos mais tarde ele amoleça e entorte – uma
técnica bastante usada pelos chamados “entortadores” de colheres.
Um
ambiente com pouca iluminação e cercado de forte emoção também ajuda,
como costuma ocorrer nas apresentações de mágicos em geral.
Além
de mover objetos sem tocá-los, a psicocinese inclui outros tipos de
experiências, como a suposta cura de doenças por meio do poder da mente.
O mineiro Thomaz Green Morton, que nos anos 80 fez fama como um guru de
estrelas da TV, foi tido como alguém capaz de realizar esse tipo de
fenômeno. Outra forma de manifestação da
psicocinese é a levitação.
Em diferentes épocas se considerou a
levitação um “milagre de Deus” ou um reflexo da “possessão demoníaca”. A
parapsicologia
define a levitação como a suspensão do corpo humano por meio da energia
vital.
A explicação dos estudiosos é que, em estados de grande
misticismo ou emotividade, certas pessoas poderiam elevar-se no ar
porque, em determinado momento, desprenderiam um grande volume de
energia orgânica.
No entanto, esse fenômeno é extremamente raro e só
ocorreria de forma espontânea e incontrolável. Não há registros de casos
de levitação ocorridos em condições de laboratório.
Só de porre
Outra
manifestação psicocinética é a transferência de imagens mentais para
objetos. Uma das histórias mais célebres é a do americano Ted Serios,
que vivia em Chicago e era tido como alguém com personalidade
psicopática.
Serios ficou conhecido por supostamente conseguir produzir
imagens positivas em filmes virgens por meio da impregnação mental.
Segundo relatos, ele transferia imagens para os filmes olhando fixamente
para a lente de uma Polaroid.
Nesse tipo de máquina fotográfica, os
filmes são revelados na hora. O detalhe é que o americano só conseguia
fazer boas imagens após beber várias latas de cerveja e algumas doses de
uísque.
Uma série de experimentos foi feita com Serios, mas os
cientistas reclamaram que não havia condições para evitar truques.
Motivo: Serios se recusava a fazer o experimento quando as condições
impostas pelos cientistas eram muito rigorosas.
Como se vê, a
psicocinese é um tema envolto em polêmicas e divergências. Nenhuma
resposta simples pode ser dada, já que diferentes pessoas exigem
diferentes padrões de comprovação. Fenômenos psicocinéticos existem?
Bem, considerando as evidências experimentais, a resposta é: talvez. Se
levarmos em conta os resultados obtidos em laboratórios, que se repetem
com regularidade e que podem ser explicados com as leis da ciência conhecidas, a resposta é: não. Mas isso não significa que ela necessariamente não exista.
Achar que a ciência
tem respostas para tudo é um erro. No século 19, as pessoas não
conheciam a radioatividade, apesar de ela já existir.
O grande desafio
para os que estudam a parapsicologia
é conseguir incorporar ao âmbito do normal e do natural, dentro de uma
teoria explicativa satisfatória, fatos que durante muito tempo foram
tidos como anormais, supranaturais ou paranormais. Ou seja, fazer com
que o sobrenatural seja visto como normal.
Efeitos invisíveis
Testes em laboratório buscam detectar manifestações psicocinéticas imperceptíveis a olho nu
Os
fenômenos psicocinéticos, que os especialistas costumam abreviar como
PK (do inglês psychokinesis), se caracterizam pela ação da mente sobre a
matéria.
Quando essa ação é diretamente observável, como no caso de um
movimento de objetos sem uma explicação aparente, é chamada de macro-PK.
Se a manifestação não é observável a olho nu, ou seja, se seus efeitos
são fracos, leves e microscópicos, denomina-se micro-PK.
Para
testar se a mente pode realmente influenciar a matéria, dificilmente
você encontrará um cientista analisando “entortadores” de colheres como o
israelense Uri Geller,
mesmo porque pessoas como ele não são levadas muito a sério.
A maior
parte dos estudos nessa área envolve testes de micro-PK, cujos efeitos
podem ser inferidos apenas estatisticamente. A micro-PK pode ser
verificada com a ajuda 0de um equipamento chamado gerador de números
aleatórios (GNA).
Essa máquina produz apenas dois resultados (0 ou 1),
em uma seqüência aleatória. Num experimento típico, um sujeito deve
tentar alterar mentalmente a distribuição dos números aleatórios, ou
seja, ele deve fazer com que a máquina produza mais 1 do que 0, ou o
contrário.
É como se ele lançasse moedas várias vezes e procurasse,
deliberadamente, tirar mais caras do que coroas, ou vice-versa. O
esperado é que, ao final de uma série de tentativas, ocorra 50% de
resultados de cada um.
Em 1989, o engenheiro e parapsicólogo Dean
Radin e o psicólogo Roger Nelson publicaram uma meta-análise do conjunto
de resultados obtidos por esse tipo de experimento.
Fazer uma
meta-análise significa combinar resultados de diferentes estudos para
obter um resultado estatisticamente significativo. Radin e Nelson
analisaram mais de 800 experimentos de micro-PK, realizados por mais de
60 pesquisadores ao longo dos 30 anos anteriores.
O resultado é que o
índice de acerto foi de 51%. Aos olhos de um leigo, a diferença pode
parecer pequena, mas a probabilidade de esse resultado ocorrer por acaso
é de uma em um trilhão (para você ter uma idéia, a probabilidade de
acertar na mega-sena, com a aposta mínima, é de uma em 50 milhões).
Pelo
fato de o estudo envolver um número gigantesco de pessoas, os
cientistas afirmam que esse desvio de 1% é relevante e consistente.
Nos
aparelhos monitorados para controle, sem uma pessoa para tentar
influenciá-los, o resultado foi muito próximo da probabilidade normal,
de dois para um.
Os parapsicólogos comemoraram o resultado, que
interpretaram como prova de que a consciência humana pode afetar o
comportamento de sistemas físicos aleatórios.
No entanto, outros
cientistas, como o físico Philip W. Anderson, ganhador do Prêmio Nobel,
contestaram o experimento e o método estatístico utilizado nos estudos, e
a questão segue sem consenso.
Fonte: Superinteressante
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